Ucrânia: rebelião popular contra a crise socioeconômica

| tradução Eduardo Rodrigues

Por Miguel Lamas para "El Socialista" (de Izquierda Socialista, Argentina, UIT-QI)

A mobilização de centenas de milhares de pessoas na Ucrânia forçou o governo a revogar as leis repressivas (anti-protestos), enfrentou e derrotou a polícia em muitos casos, e há dezenas de prédios públicos de ministérios ocupados e de províncias e forçou a renúncia do primeiro-ministro e todo o seu gabinete.

Ucrânia, um país de 45 milhões de habitantes, que pertenceu à antiga União Soviética, está enfrentando uma crise terminal relacionada com a crise mundial e o neoliberalismo extremo que levou à pobreza a grande parte da população, a massiva fuga de capitais por parte de uma oligarquia saqueadora que não paga impostos, são meses de atraso nos salários dos trabalhadores estatais, e o país não consegue pagar o gás importado da Rússia. O desemprego é muito elevado (8%) e o salário médio na Ucrânia é entre 2 e 2,5 vezes menor do que na Rússia e Bielorrússia, e muitíssimo menor do que na União Europeia. Estas são as razões básicas para o descontentamento popular e da força da mobilização. A rebelião tem relação direta com o processo da revolução árabe e os protestos em massa no país vizinho, Turquia.

O governo liderado pelo presidente Viktor Yanukovych é pró-russo, aliado a Vladimir Putin e é contra a adesão à União Europeia (UE). Putin paralisou o acordo com a UE e realizou um acordo com Yanukovich para baixar em 50% o preço do gás que é vendido pela Russia e lhe ofereceu um empréstimo de 15.000 milhões de dólares, tudo vinculado a seus próprios planos de pilhagem da Ucrânia.

A mobilização começou justamente em novembro repudiando a decisão do governo de congelar o acordo de associação com a UE. A oposição burguesa, liderada pelo ex- primeiro-ministro Yuli Timoshenko, exige a entrada para a União Europeia e setores populares apoiam porque tem ilusões de que isto poderia melhorar a situação (enquanto que na Grécia ou no Estado Espanhol são muitos que dizem que tem de sair da União Europeia em crise, ante os ajustes antipopulares que esta impõe). Precisamente a mobilização popular com milhares de pessoas instaladas na Praça da Independência, em Kiev, adquiriu o nome de "Euromaidan" (Praça Europa). A revolta popular que se mantém desde há dois meses, transbordou a própria direção, enfrentou violentamente a polícia com centenas de feridos em ambos os lados e alguns mortos, agora exige novas eleições nacionais.

Os socialistas revolucionários apoiamos a mobilização do povo, da juventude e dos trabalhadores ucranianos por seus direitos democráticos, contra a dura repressão e pelo seu direito a decidir seu destino retirando o atual governo repressivo. Acreditamos que a solução não passa nem pela entrada na UE e nem em apoiar aos líderes dos capitalistas que estão saqueando o país, sejam situação ou "oposição", nem por acordos com a Rússia. Neste sentido, destacamos o manifesto do agrupamento ucraniano Oposição de Esquerda que convoca a lutar pelo não pagamento da dívida e à ruptura com o FMI e "nacionalizar a metalurgia, a mineração e as indústrias químicas, em conjunto com as empresas estruturais (energia, transportes e comunicações) que, controladas pelos trabalhadores, devem contribuir para o bem comum". Só um programa dos trabalhadores e do povo, com base em recuperar o controle das riquezas e da produção nacionais, pode começar a resolver a crise.