As mulheres e seu dia de luta operária e internacionalista

| Tradução Eduardo Rodrigues

Por Malena Zetnik – Esquerda Socialista (Argentina)

Lembrando o 8 de março de 1857

Desde o início do século XX, no movimento operário se foi instalando o 8 de março como um dia de luta das trabalhadoras em todo o mundo. A ONU transformou em um "feriado", em uma “festividade”. As mulheres trabalhadoras mantém seu lugar na vanguarda das lutas por seus direitos.

No acelerado processo de desenvolvimento industrial capitalista do final do século XVIII e início do século XIX, milhões de mulheres camponesas foram levadas às cidades para trabalhar nas indústrias europeias e norte-americanas em expansão. Na indústria têxtil, as mulheres começaram a ser imensa maioria. No entanto, como no caso das crianças, com as extenuantes 12 horas de trabalho recebiam salários inferiores aos dos homens e tendo negado o direito de participar nas organizações operárias.

Pelo contrário, os seus próprios companheiros homens as expulsavam, pois as viam como uma ameaça para seus próprios empregos. Assim denunciava, por exemplo, a feminista internacionalista Flora Tristan, em seu livro "Passeios em Londres".

Por isso, em 1857, fartas das exaustivas jornadas de trabalho e do magro salário, a grande maioria das trabalhadoras têxteis de Nova Iorque se revoltou exigindo uma jornada de 10 horas. Foram brutalmente reprimidas pela polícia. O calendário marcava 8 de março.

"Pão e Rosas"

Décadas mais tarde, no mesmo mês de março, mas no ano de 1908, 15.000 trabalhadoras marcharam pelas ruas da mesma cidade ao grito de "pão e rosas", sintetizando nessas consignas sua reivindicação por melhores salários e melhores condições de trabalho. Um ano depois, 140 trabalhadoras morreram queimadas na Cotton Textile Factory, onde foram trancadas pelos patrões para que não se somassem à greve de 40.000 costureiras que paravam a indústria novaiorquina. Naquele dia, suas máquinas teciam panos de cor lilás, daí a origem da tão emblemática cor para as mulheres.

Finalmente, em 1910, durante o Segundo Congresso Internacional de Mulheres Socialistas reunido na Dinamarca, onde as mais de 100 delegadas de 17 países e membros de sindicatos e partidos socialistas proclamaram o 8 de março como Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, em memória aos heróicos levantes das trabalhadoras contra a opressão do capital, como proposta de Clara Zetkin, Kate Duncker e outras. Em seu discurso, Zetkin disse: "Para que a mulher tenha plena igualdade de direitos sociais com os homens – de fato e de direito, não só na letra morta das leis – para que igual ao homem tenha todas as oportunidades de um livre desenvolvimento e do exercício total de sua condição humana, devem dar-se duas premissas primordiais: a propriedade privada dos meios de produção deve ser substituída pela propriedade social; as mulheres devem ser incorporadas à produção social em um regime livre de exploração e escravidão"¹.

Mas foi em 1917 que essa data acabou por afirmar a sua cabal importância. Em 23 de fevereiro (8 de março de 1917 no calendário gregoriano), em São Petersburgo, na Rússia, dezenas de manifestações se celebravam com motivo do Dia Internacional da Mulher Trabajadora². O mal-estar por causa das paupérrimas condições de vida de trabalhadoras e donas de casa, que faziam longas filas para conseguir alimentos, converteram essas manifestações das mulheres em fortes protestos pelo fim da guerra interimperialista e contra o czarismo, que conseguiu sua queda. E acenderam assim o pavio da grande Revolução de Outubro, que impôs o primeiro governo revolucionário operário e camponês da história.

"Festa" ou dia de mobilização?

A luta das mulheres trabalhadoras e de distintos setores sociais se manteve e se aprofundou ao longo do século XX. Na década de sessenta se deram grandes manifestações nos Estados Unidos e vários países europeus. Em muitos países se foi ampliando a participação das mulheres em diferentes esferas da vida.

Buscando refletir essas demandas, as incorporando à exploração e opressão capitalista e imperialista, se estabeleceu um "reconhecimento" oficial na ONU. Nos anos setenta, e em nome do "interesse de todas", a Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher realizada no México em 2 de julho de 1975 pela Organização das Nações Unidas, resolveu estabelecer o 8 de março como feriado do Dia Internacional da Mulher. Em seguida, na Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 32/142, dia 16 de dezembro de 1977 proclamou: "Tendo em conta que uma paz estável, o progresso social, o estabelecimento da nova ordem econômica internacional, e o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais exigem a participação ativa das mulheres, sua igualdade e sua promoção"³.

Desta maneira, os fatos, as protagonistas, suas denúncias pelas situações cruéis de exploração às quais foram e ainda são submetidas as trabalhadoras, foram diluídas pela opressão de conjunto de todas as mulheres, sem distinção de classe, e desaparecendo a necessidade da luta por todas as suas demandas. Assim, o 8 de março, em sua versão institucionalizada, tornou-se um dia tomado por muitos governos, organizações e empresas capitalistas para promoções de produtos cosméticos, presentes de flores e, no melhor dos casos, do reconhecimento de algumas mulheres destacadas da arte e da cultura. Uma vez ao ano com "rosas", sem a luta pelo "pão" de todos os dias.

Em primeiro lugar, as trabalhadoras

No entanto, as mulheres lutadoras do mundo não renunciam esta data. Pois como observou Alejandra Kollontay em 1913 sobre a raíz do 8 de Março, "O dia da mulher é um elo na longa e sólida cadeia da mulher no movimento operário"4. Por isso, desde Izquierda Socialista impulsionamos e apoiamos em primeiro lugar todas as mobilizações que as trabalhadoras estão organizando para esta data em todo o mundo, exigindo igual salário por igual trabalho, contra as demissões e a precarização laboral, pelo direito para decidir sobre o próprio corpo, e muitas outras reivindicações. É a melhor maneira para defender todo o conjunto das demandas que as mulheres oprimidas levantam em todo o mundo. Passaram décadas e até séculos desde os primeiros protestos das trabalhadoras nas indústrias, mas a discriminação, a violência e a superexploração das mulheres continua, colocando-nos entre as mais oprimidas entre os oprimidos, e as mais exploradas entre os explorados.

¹ Forner, P. (Ed.1984) . Clara Zetkin: Obras Escolhidas, Londres: International Publishers.
² Chamberlin, WH. "A Primeira Revolução Russa." Revisão russo. Vol. 26, No. 1 (Jan., 1967), p.4-12.
³ Resolução da ONU 32/142, 16 de dezembro de 1977. "A participação das mulheres na consolidação da paz e da segurança internacional e da luta contra o colonialismo, o racismo, a discriminação racial, agressão e ocupação estrangeira, e todas as formas de dominação estrangeira." Disponível em http://www.un.org/spanish/documents/ga/res/32/
4 Abril. Kollontay, A. (1913) Dia da Mulher. Disponível em https://www.marxists.org/espanol/kollontai/1913mujer.htm

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Fonte: UIT-CI. Disponível em http://uit-ci.org/index.php/noticias-y-documentos/aniversario/803-las-mujeres-y-su-jornada-de-lucha-obrera-e-internacionalista