Argentina: A Frente de Esquerda (FIT) superou as primarias e é a quarta força em Buenos Aires

| Por José Castillo • Candidato a Vice-chefe de Governo

Em uma eleição complexa e muito confusa para a esquerda, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) superou as primarias (as PASO). Também superou a trapaça imposta pelos meios de comunicação, que trataram de falar que “a esquerda ia dividida” Abre-se agora o desafio de obter mais legisladores nas eleições do dia 5 de julho.

Apenas cinco listas venceram a proscrição das primarias: PRO, ECO, Frente para a Vitoria, Frente de Esquerda (FIT) e a Frente Autodeterminação e Liberdade; Nos consolidamos como a quarta força imediatamente abaixo das principais listas patronais. Mais ainda, em relação a Frente para a Vitoria, a lista da FIT ganhou de todos os candidatos a chefe de governo, com exceção de Mariano Recalde. Conseguimos isto enfrentando as campanhas milionárias de macristas y kirchneristas, que utilizaram descaradamente tanto os fundos públicos como as “doações empresariais”. O candidato de Sergio Massa, Guillermo Nielsen, não superou o piso de 1,5% dos votos.

Foram as primeiras primarias na Cidade de Buenos Aires que copiaram exatamente as cláusulas proscritivas nacionais. No entanto, foram ainda mais restritivas, já que diferente das nacionais, as de Buenos Aires não tiveram nem um segundo de espaços gratuitos nos meios de comunicação. O governo nacional e o governo da cidade, o conjunto dos partidos patronais e os grandes meios de comunicação fizeram todos os esforços para “riscar” a FIT da eleição da capital, agindo para que não ultrapassasse o piso das primarias. Buscavam poder mostrar um “tropeço” que ocultasse o crescimento nacional que estamos alcançando. Por isso, inclusive, deram espaço a expressões menores e isoladas da esquerda e da centro-esquerda em detrimento da Frente de Esquerda, mas fracassaram na manobra. Pudemos nos impor ainda diante dessa montanha de obstáculos.

Também tratou-se de se propagar que “a esquerda ia dividida em dez listas”, fazendo uma amalgama, onde incluía dentro dessa “divisão” expressões como a lista Bien Común de Gustavo Vera, que tinha o apoio do partido da CGT Moyano (Piumato) e Pino Solanas; a lista Camino Popular, encabeçada por Claudio Lozano, e em alguma medida chegou a incluir o listado da “la izquierda” até a SURGEN, de Tumini (Libres del Sur, o candidato de Donda, que ficou com 0,2%) e o radical Abrevaya.

“Missão cumprida” dizíamos no domingo pela noite. Porque apelando para a força da militância e da unidade da esquerda, podemos disputar na rua contra a campanha milionária que fez o PRO. E inclusive superamos com a força da nossa militância a campanha do kirchnerismo. Conseguimos, com grande esforço fazer escutar nossa voz: a voz que denunciava a Cidade dos megas shoppings, a especulação imobiliária, o jogo, e que exclui a classe trabalhadora e os setores populares, hoje governada pelo macrismo, com a cumplicidade da Frente para a Vitoria e o ex- Unen (agora ECO) que na legislatura passada votaram juntos em 75% das leis, dentre elas, as fundamentais.

Por isso tudo, a eleição na Cidade de Buenos Aires foi muito importante para a FIT, o êxito da Frente de Esquerda (FIT) nos permite assim inscrever um novo capítulo no largo caminho de consolidação nacional de nossa força, unida as boas votações em Salta, Mendonça e no mesmo domingo em Neuquen, obtendo dois deputados. Agora se abre um novo panorama. No próximo dia 5 de julho estará colocado fazer uma grande eleição para meter mais legisladores da Frente de Esquerda que se some a atual banca. Essa eleição já estará cruzada com as nacionais(que será dias depois de que conheçam as oficializações dos candidatos presidenciais) e formará parte, junto com as de Córdoba que se realizará no mesmo dia, a qual esperamos ser a continuidade do fortalecimento da Frente de Esquerda. Será um novo desafio que nos permitirá estar mais fortes para enfrentar os novos ajustes que já vem adiantando os candidatos patronais, seja Scioli, Macri ou Massa.

Adianta votar em Zamora?

Luis Zamora (Autodeterminação e Liberdade) teve uma quantidade de votos que permitiu superar as primarias. Conseguiu o mesmo percentual que sempre teve em eleições passadas, ficando atrás da Frente de Esquerda.

O voto em Zamora é parte do repudio aos partidos tradicionais. E vários dizem que votaram nele porque é “honesto”. Mas votar em Zamora não é para fortalecer uma alternativa contra os candidatos e partidos do sistema como alguns crêem. Porque para enfrentar o PJ, o PRO e demais variantes patronais, faz falta a unidade da esquerda, como vem fazendo a Frente de Esquerda desde alguns anos. Zamora vem negando sistematicamente a unidade (e ainda, permanentemente critica os partidos que conformam a FIT).

Ademais, para enfrentar os políticos patronais faz falta a construção de uma alternativa política de esquerda a nível nacional. Para dar a batalha em todo o país. Zamora é só uma expressão local, da Capital.

Zamora desde algum tempo vem apelando para uma construção “horizontal” se apresentando em cada eleição, sem ter protagonismo nas lutas cotidianas e permanentes, em brigas decisivas, salvo em honrosas exceções.

Quando a imprensa intitula: “passaram do piso das primarias duas forças de esquerda”, devemos esclarecer que o que passou foi uma força política nacional. Composta por três partidos e novas agrupações que somaram a unidade de esquerda como é o caso da FIT e uma força baseada na trajetória pessoal de Zamora, como figura, que não quer a unidade e só é uma expressão eleitoral local.

Convidamos aos companheiros que votaram em Zamora a repensar: Pode-se enfrentar de verdade os governos, sejam nacionais ou da cidade, sem uma força militante que esteja presente nas lutas, que seja parte delas e que tenha um projeto nacional para enfrentar o ajuste que vem pela frente? Pode-se fazer isso sem brigar pela unidade da esquerda para enfrentar com mais força os partidos tradicionais?

Estamos convencidos que o verdadeiro voto “útil” para dar essas batalhas é na Frente de Esquerda.

Lozano e outro tropeço da centro-esquerda

Claudio Lozano fez uma pobre eleição: Obteve apenas 1,4% dos votos a Chefe de Governo (tendo como vice-chefe Patricia Walsh). Foi mais uma das vítimas das proscritivas primarias.

Essa votação não é outra coisa que senão a expressão final de uma proposta desgastada de uma centro-esquerda que já fracassou diante de uma larga história de frustrações. Desde os anos 90 com o nascimento da CTA, até ser arrastada com o Frepaso ao desastre da Aliança. Assim chegou Lozano pela primeira vez ao congresso, encabeçando as listas de Anibal Ibarra (e hoje candidato de Cristina que foi escrachado por Guzmán e familiares de Cromañón quando foi votar), no preludio do que terminaria como o massacre de Cromañón; Nos anos seguintes, Lozano acompanhou o zig-zag de uma centro-esquerda que nunca terminou de acomodar entre Bainner e Proyecto Sur, Lozano e seu espaço também foram e vieram em relação a sua localização em relação ao kirchnerismo, a partir de sua política de “apoiar o bom e criticar o mal” que o levou em numerosas ocasiões a votar o com o governo para “diferenciar-se da direita”.

O plano de Lozano de construir um projeto mais “amplo” que o da esquerda, unindo também o “campo popular”, terminaram em uma desidratada lista local na cidade, sem perspectivas nacionais, ficando atrás da votação da Frente de Esquerda. Chamamos a todos os honestos companheiros que acompanharam nessa eleição a proposta de Lozano a fazer uma reflexão e apoiar a Frente de Esquerda.