80 ANOS APÓS A DERROTA DO NAZISMO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Por Francisco Moreira da Esquerda Socialista (IS), secção da UIT-QI na Argentina

Em 30 de abril de 1945, o líder nazi Adolf Hitler suicida-se.  No dia 2 de maio, os exércitos alemães renderam-se em Berlim, capital alemã. A derrota dos nazis na Segunda Guerra Mundial representou o maior triunfo revolucionário e democrático da história da humanidade.

Era cerca de 22h30 do dia 1 de maio de 1945 quando a Rádio Reichssender Hamburg, da Alemanha, interrompeu a emissão da Sétima Sinfonia de Anton Bruckner para fazer um anúncio chocante: “Do quartel-general do Führer é anunciado que o nosso Führer, Adolf Hitler, esta tarde no seu posto de comando na Chancelaria do Reich, lutando até ao último suspiro contra o bolchevismo, caiu pela Alemanha”. Esta versão da morte de Hitler acabou por ser desmentida por testemunhas oculares. Não tinha morrido em combate nesse dia, mas tinha cometido suicídio no dia anterior, juntamente com a sua mulher Eva Braun, no seu gabinete subterrâneo no bunker por baixo da Chancelaria em Berlim. Os seus corpos foram cremados e enterrados fora do bunker (1).

O suicídio de Hitler marcou o colapso final do regime nazista e a derrota do exército alemão na Segunda Guerra Mundial, cercado em Berlim após a ofensiva do Exército Vermelho. Dois dias antes, o líder fascista Benito Mussolini tinha sido capturado e fuzilado por partisans (guerrilheiros) italianos no meio do avanço dos exércitos aliados (2).

A BATALHA DE STALINGRADO, EM 1943, MUDOU O RUMO DA GUERRA

Em março de 1939, o exército alemão invadiu a Checoslováquia. Em setembro, entrou na Polónia. Uma semana antes da invasão, a liderança burocrática da União Soviética, com Josef Stalin à frente, tinha facilitado o avanço nazi ao assinar um aberrante e escandaloso pacto de ‘paz e ajuda mútua’ (Tratado de não agressão Molotov-Ribbentrop) com Hitler, com quem dividiram a Polónia.

Leon Trotsky, o líder revolucionário russo, que denunciava a perspectiva de uma nova guerra imperialista desde a ascensão do nazismo na Alemanha em 1933, qualificou o pacto germano-soviético como “uma capitulação de Stalin ao imperialismo fascista para proteger a oligarquia soviética” (3). Denunciou que o fascismo e o nazismo visavam impor regimes de superexploração contra os trabalhadores dos países conquistados, e apagar do mapa a União Soviética onde, apesar da ditadura burocrática, se mantinham as conquistas socialistas do grande triunfo revolucionário de 1917.

Em junho de 1941, teve efetivamente início a Operação Barbarossa, a invasão nazi da União Soviética. A confiança de Stalin no seu pacto com Hitler e a desorganização do Exército Vermelho, que a burocracia stalinista tinha purgado à força, numa tentativa de varrer toda a oposição ‘trotskista’, tornaram impossível resistir à máquina de guerra nazi. Em dezembro, tinham ocupado a Lituânia, a Bielorrússia, a Ucrânia, e tinham chegado às portas de Moscovo, ocupando Estalinegrado (Volgogrado) e cercando Leninegrado (S. Petersburgo). Em 1942, grande parte da Europa e um terço da União Soviética tinham caído nas garras do nazismo e do fascismo.

Mas, apesar das terríveis dificuldades por que passara, o povo soviético conseguiu recuperar e pôr o Exército Vermelho de pé. Após o desastre inicial, os generais soviéticos mais capazes – Georgy Zukhov, Constantin Rokossovsky e Vasily Chuikov – foram colocados no comando do exército. Stalin intitulou-se ‘chefe da defesa’. Assim começou a ‘Grande Guerra Patriótica’ dos povos soviéticos. Em combates ferozes, e apesar dos contínuos desastres burocráticos, o Exército Vermelho recuperou terreno e fez recuar os nazistas. Em fevereiro de 1943, assistiu-se à primeira grande vitória soviética, a rendição dos nazis que ocupavam Stalingrado, numa batalha que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial e marcou o início do fim do nazismo.

Este triunfo deu aos povos ocupados a esperança de que era possível derrotar os nazistas. Os movimentos de resistência reforçaram-se por todo o lado. Na Polónia, o Gueto de Varsóvia foi erguido em abril de 1943, e espalhou a cidade inteira em agosto de 1944, apesar de ter sido abandonada por ordem de Stalin (4). Os Maquis franceses e belgas, os Partisans italianos e as guerrilhas jugoslavas e gregas fortaleceram-se. Em junho de 1944, os britânicos e os americanos desembarcaram na Normandia, no que era ainda a França ocupada pelo nazismo. Em agosto, a resistência libertou Paris.

A BATALHA DE BERLIM E O FIM DO REGIME NAZISTA

Em 12 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho entra em território alemão. Depois de um amplo avanço, chegou aos arredores de Berlim em 14 de abril. Dois dias depois, teve início a última batalha da guerra na Europa. Os nazistas organizaram duas linhas defensivas para proteger a cidade sitiada. Prepararam barricadas e centenas de bunkers. Com lançadores de granadas, enfrentaram os tanques do Exército Vermelho que avançavam. O custo para os soviéticos foi enorme. Só nesta batalha, 80.000 pessoas foram mortas e mais de 270.000 ficaram feridas.

A ação final foi travada pelo controle do Reichstag (Parlamento), que era o edifício mais alto do centro da cidade e cuja captura tinha um valor simbólico. Na tarde de 30 de abril, os soldados soviéticos conseguiram apoderar-se do edifício e hastearam a bandeira vermelha. Nessa altura, Hitler tinha se suicidado.

Em 2 de maio, o comandante responsável pela defesa de Berlim assinou a rendição aos generais soviéticos. Seis dias depois, realizou-se uma cerimonia na presença de generais britânicos, franceses e americanos que, juntamente com Zhukov, assinaram um ato de rendição do alto comando alemão. A guerra terminou na Europa, deixando para trás mais de cinquenta milhões de mortos, dos quais vinte e dois milhões eram soviéticos.

Nahuel Moreno, professor e fundador da nossa corrente trotskista, definiu a derrota do nazi-fascismo como “o triunfo revolucionário mais colossal de toda a história da humanidade”, apesar dos dirigentes burocráticos e traiçoeiros (5). Pois o nazi-fascismo representava o embrião de uma nova sociedade escravocrata sob o capitalismo, com os campos de extermínio e de trabalhos forçados para onde enviavam não só judeus, mas também ciganos, esquerdistas, homossexuais e qualquer opositor ao seu regime totalitário e racista. A derrota da barbárie alemã na guerra pôs fim à tentativa de espalhar a contra revolução imperialista nazi-fascista pelo mundo.

UMA NOVA ETAPA REVOLUCIONÁRIA

O triunfo dos povos soviético e europeu abriu uma nova etapa de enorme ascensão de massas a nível mundial. Nahuel Moreno assinalou que a derrota do nazismo tinha dado início a uma nova etapa revolucionária mundial. Desde o fim da guerra “o proletariado e as massas de todo o mundo obtêm uma série de triunfos espetaculares. O primeiro é a derrota do exército nazista, isto é, da contrarrevolução imperialista, pelo Exército Vermelho, ainda que isso fortaleça temporariamente o stalinismo, que dirige a URSS” (6). De fato, desde então, as massas populares conduziram numerosas revoluções triunfantes, alcançando a independência de dezenas de colônias e a expropriação da burguesia num terço do mundo, em países como a Jugoslávia, a China, a Cuba e o Vietnã. Mas durante este período as direções burocráticas do movimento operário e de massas também se fortaleceram. Stalin, por exemplo, utilizou a sua autoridade renovada para rejeitar a extensão da revolução socialista e para impor pactos (Ialta e Potsdam) com os governos imperialistas para a reconstrução capitalista da Europa. Após a sua morte, outros aparelhos e dirigentes stalinistas ou nacionalistas burgueses prosseguiram esta política. A restauração capitalista, promovida pela burocracia desde os anos 80 nesse terço do planeta, e a queda das ditaduras stalinistas, abriram uma nova etapa revolucionária, onde continua a colocar-se a tarefa de construir uma nova direção revolucionária que ponha fim definitivo à contra revolução imperialista, em qualquer das suas variantes, e à dominação capitalista mundial.

(1) O filme “A Queda – Hitler e o fim do Terceiro Reich” (2004), de Oliver Hirschbiegel, retrata os frenéticos últimos dias de Hitler e seus capangas no bunker. Disponível no Amazon Prime.
(2)  Ver ‘El Socialista’, Nº 602, 11/04/2025. Disponível em www.izquierdasocialista.org.ar
(3) Leon Trotsky, “A Alianza Germanosoviética” (4/9/1939), em ‘Escritos’ (1929- 1940). Editorial Pluma, Bogotá, 1974. Disponível em www.marxists.org
(4) Ver ‘El Socialista’ Nº 558, 12/04/2023 e Nº 588, 21/08/2024. Disponíveis em www.izquierdasocialista.org.ar
(5) Nahuel Moreno, “Revoluções do século XX”. Edições Antídoto, Buenos Aires, 1986. Disponível em www.nahuelmoreno.org
(6) Nahuel Moreno, “Atualização do Programa de Transição” (1980). Edições El Socialista, Buenos Aires, 2014.

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