Argentina: repudiamos a condenação de Cristina Kirchner e apoiamos as lutas contra a motosserra de Milei

Declaração da Izquierda Socialista FIT – Unidad, seção da UIT-QI na Argentina

 

12/06/2025. A Suprema Corte confirmou a condenação de Cristina Kirchner a seis anos de prisão e a proibição perpétua de exercer cargos públicos. A decisão foi tomada em ano eleitoral, poucos dias após a ex-vice-presidente e líder do PJ anunciar sua candidatura a deputada pela província de Buenos Aires. Repudiamos essa decisão, apesar das nossas divergências com Cristina Kirchner e com as políticas do peronismo.

Opomo-nos a qualquer decisão judicial ou política que restrinja direitos democráticos básicos, como nesse caso, bem como qualquer ataque contra ativistas sindicais, sociais, ambientais e indígenas. Esses juízes não têm autoridade legal, política ou moral para fazê-lo. Tais juízes não são eleitos por ninguém (deveriam ser eleitos pelo voto popular), vivem com privilégios, ganham salários milionários e ocupam cargos vitalícios.

Somos contra essa decisão, ao mesmo tempo em que denunciamos o fato do tribunal não ter se pronunciado sobre os atos de corrupção ocorridos no governo Macri (o favorecimento dos Correios [empresa privada adquirida por familiares de Macri], as negociatas nas obras da ferrovia de Sarmiento e o empréstimo de US$ 45 bilhões contraído com o FMI). Ou sobre Milei, permitindo a assinatura do pacto corrupto e entreguista com o FMI, através de um DNU [Decreto de Necessidade e Urgência], e não se pronunciando sobre o seu envolvimento direto no golpe das criptomoedas.

Ressaltamos que a decisão do tribunal está em consonância com as políticas de extrema-direita de Milei, que persegue o jornalismo; reprime aposentados; rotula aqueles que se mobilizam contra a Lei Bases como “terroristas e golpistas”; financia o SIDE [Secretaria de Inteligência do Estado] com milhões de dólares para perseguir opositores; governa por meio de DNUs; veta leis conquistadas por meio da mobilização de diferentes setores; abraça genocidas do povo palestino, como o sionista Benjamin Netanyahu; entre muitas outras barbaridades.

Opomos-nos à condenação de Cristina Kirchner, e fazemos isso a partir de uma política de independência de classe. Foi assim que enfrentamos os governos peronistas-kirchneristas. Denunciamos seus negócios capitalistas corruptos em obras públicas, em que Lázaro Báez passou de bancário a dono de 300 propriedades e 400.000 hectares. Tal corrupção também se manifestou na enxurrada de subsídios recebidos pelos patrões da TBA e do Grupo Cirigliano, da ferrovia Sarmiento, dinheiro que nunca foi para os trens, provocando o colapso do serviço e o massacre de Once em 2012, com 52 mortos e 800 feridos, provando que a corrupção mata.

Não podemos esquecer os planos econômicos implementados durante os anos kirchneristas, que agitavam a bandeira da “redistribuição de riqueza” enquanto fechavam acordos com a Barrick e a Chevron e pagavam pontualmente a dívida externa. Período em que o protesto social foi criminalizado, com a prisão do nosso dirigente ferroviário combativo Rubén “Pollo” Sobrero, sob a falsa acusação de incendiar trens; com a generalização da espionagem da Gendarmería [força de segurança de natureza militar que funciona sob a órbita do Ministério de Segurança], através do “Projeto X”; e com a nomeação, pela própria Cristina Kirchner, do autoritário Milani para comandar o exército. Ou, mais recentemente, do governo desastroso de Alberto e Cristina, que, ao fazer acordos com o FMI, deixou na pobreza 42% da população e a inflação em 211%, ao mesmo tempo em que pedia votos “para combater a direita”. Não podemos esquecer também que Cristina Kirchner vetou o aumento de 82% para os aposentados, enquanto atualmente recebe pensões milionárias.

Ao mesmo tempo em que repudiamos a condenação de Cristina Kirchner, defendemos a luta unitária contra o plano motosserra de Milei, dos governadores e do FMI. E, em especial, por um aumento imediato de salários e aposentadorias; contra as demissões e os cortes de verbas para os  deficientes e para as universidades; e em defesa da saúde e educação públicas. Assim, a partir da exigência colocada por toda manifestação, exigimos que a direção peronista da CGT rompa o pacto com o governo e apoie as reivindicações em curso, como a emblemática mobilização de Garrahan, convocando uma nova greve geral de 36 horas e um plano de luta nacional. Simultaneamente, defendemos o fortalecimento da Frente de Izquierda Unidad para lutar por uma saída de fundo, nas ruas e nas eleições.

Comitê Executivo Nacional da Izquierda Socialista

12/06/2025

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