Como combater o Centrão, bolsonarismo e Faria Lima? Um debate com Resistência-Insurgência

Como combater o Centrão, bolsonarismo e Faria Lima?

Michel Oliveira, Coordenação da CST

Dialogamos nesta edição com o editorial conjunto da Resistência/PSOL e Insurgência/PSOL, publicado no Esquerda Online (02/07), que analisa a derrota do governo Lula/Alckmin no Congresso em relação ao decreto do IOF.
A CST concorda com a necessidade de enfrentar o centrão, o bolsonarismo e a Faria Lima, defendendo pautas como a isenção do IR até R$ 5 mil, o fim da escala 6×1 e a redução dos preços dos alimentos, gás e energia.
Enquanto seguimos na luta nas ruas propomos debater o papel do governo Lula/Alckmin, um ponto central do editorial com o qual não temos a mesma visão e divergimos.

 Qual a linha de Lula para o centrão?

Os camaradas afirmam que o Centrão “Sabota o país para proteger os privilégios dos mais ricos” e que “a conciliação com a direita pode ser fatal”.

Infelizmente Lula e a Frente Ampla seguem apostando nessa estratégia. Gleisi Hoffmann, José Guimarães e Humberto Costa defenderam Hugo Motta, e o próprio Lula afirmou buscar “normalidade política” com Alcolumbre e Motta. Em 09/07, retomaram o diálogo com o centrão. Lula não vetou o projeto de amizade Brasil-Israel, evidenciando a conciliação com a direita e a extrema-direita.

O governo Lula e o PT não cumpriram o “programa eleito nas urnas” por decisão própria. Não revogaram reformas como a previdenciária, trabalhista, o Novo Ensino Médio e a privatização da Eletrobras. Mantiveram golpistas como Múcio na Defesa e o centrão com mais de 10 ministérios. Além disso, pactos com governadores da extrema-direita, como Tarcísio, garantem recursos federais do BNDES para projetos privatistas.

O ajuste fiscal do governo Lula/Alckmin

O editorial afirma que o “governo iniciou importante batalha política, explicando ao povo o que está em jogo” e fazem um pedido: “É importante que Lula e Haddad sejam firmes nesse enfrentamento”.

É fato que a Secretaria de Comunicação do governo fez postagens críticas ao “andar de cima” e que Lula segurou um cartaz pela “taxação dos super-ricos”, mesmo sem convocar os atos de 10/07. Mas, infelizmente, Lula e Haddad não apresentaram medidas reais para isso. Não revisaram o entulho do Plano Real de FHC, que protege os bilionários. Taxar super-ricos significa impor altos impostos sobre lucros e dividendos de proprietários e acionistas, grandes fortunas, heranças, propriedades rurais, lucros das multinacionais e grandes empresas. Nada disso foi feito. Nem agora, nem nos governos anteriores do PT.

No IOF, a proposta que afetava minimamente os ricos era a taxação de operações financeiras no exterior. A Faria Lima rejeitou, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, criticou, e Haddad recuou. Os bilionários não aceitam perder nada. Mas Lula e Haddad não estão “firmes nesse enfrentamento”.

A MP alternativa propõe medidas mínimas, como elevar a taxação das “bets” a 6%, reduzir benefícios fiscais e cobrar 5% sobre “juros sobre capital próprio”. Mas isso dentro da lógica de arrecadar mais para cumprir o arcabouço fiscal e o déficit zero para favorecer a Faria Lima. Além disso, com o teto de gastos, a elevação de arrecadação ameaça os pisos constitucionais da saúde e educação. Exemplo disso é o Pé-de-Meia ser incluído no orçamento da educação, o que reduz seu piso. O governo também rebaixou o número de pessoas com acesso ao BPC. Ao mesmo tempo em que lançou novo plano safra bilionário para o agronegócio. São medidas do governo Lula/Alckmin que jogam o ajuste fiscal nas “costas da classe trabalhadora”.

É preciso ser independente do governo Lula/Alckmin

Nossa divergência com os camaradas da Resistência e Insurgência é que não falam dos ataques do governo Lula/Alckmin. A estratégia do Lulismo dá fôlego ao Centrão, ao bolsonarismo, a Tarcísio e significa um arcabouço fiscal para a Faria Lima. Algo que prepara retrocessos e derrotas. Lamentamos que os camaradas tenham abandonado a estratégia da independência em relação ao governo e respaldam o ingresso do PSOL no governo Lula/Alckmin. Por isso não constroem uma alternativa de esquerda por fora da frente ampla.

Luta unificada pelas pautas da classe trabalhadora

Enquanto seguimos esse debate, podemos atuar em unidade de ação nas ruas. Continuamos a apostar na mobilização unificada nas ruas. Para derrotar a extrema direita imperialista, o centrão, a Febraban e a Faria Lima, temos de atacar seu poder político e econômico. Defendemos lutar juntos por jornada de lutas da CUT, UNE, MTST pelas pautas do último dias 10/07 e incorporar:

– Sem anistia e punição de todos os golpistas de 8J;
– Exigir de Lula a demissão de Múcio, Fávaro e todos os ministros do centrão; redução das verbas de emendas parlamentares!
– Fim do arcabouço fiscal, do teto de gastos, do Plano Safra do governo Lula/Alckmin!

– fim da autonomia do Banco Central e Não pagamento da dívida externa e interna;
– Medidas pesadas de taxação dos bilionários, grandes empresas, agronegócio e das multinacionais.


BRICS: “Cooperação do Sul Global” ou novo projeto imperialista?

Nos dias 6 e 7 de julho, o Brasil sediou a Cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro. O governo Lula apresentou o evento como um espaço de “cooperação do Sul Global” pelas disputas capitalistas que existem com EUA. Porem o bloco, liderado por China e Rússia, representa um novo projeto imperialista. Apesar do discurso de desenvolvimento sustentável e inclusão social, o BRICS atua na prática como um bloco de potências capitalistas que exploram economicamente outras nações, dentre elas o Brasil. Trata-se de um tema que provoca muitos debates. Em breve estará no ar, em www.cstuit.com, nosso especial sobre os BRICS.