A XVII Cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro (texto 8)
João Santiago, coordenação da CST do Pará
Realizada no Rio de Janeiro, de 6 a 7 de julho de 2025, a XVII Cúpula dos BRICS delineou 126 tópicos resolutivos, divididos em cinco temáticas, ao longo de quase 40 páginas.
Aqui vamos destacar as principais Resoluções que tem a ver com o tarifaço de Trump, o genocídio e fome do povo palestino, os ataques sionistas ao Irã e a guerra da Ucrânia promovida pela Rússia.
O Tarifaço de Trump contra os países do BRICS
Três dias após o encerramento da Cúpula dos BRICS, no Rio de Janeiro, o governo de extrema-direita de Trump decretou um tarifaço de 50% sobre os produtos de exportação brasileiros.
Trump já havia taxado os produtos chineses anteriormente, bem como o Canadá e a União Européia, a Resolução dos Brics criticou a da taxação de produtos, reivindicando a OMC. Sem mencionar uma única vez os Estados Unidos, a Resolução na sua primeira temática (Fortalecendo o Multilateralismo e Reformando a Governança Global), item 13, expressa “sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”. E logo em seguida, no item 14, crítica “a imposição de medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional”, e que essas sanções teriam implicações negativas de longo alcance “afetando de maneira desproporcional os pobres e as pessoas em situações vulneráveis, aprofundando a exclusão digital e exacerbando os desafios ambientais”. Mesmo criticando tais medidas, o que indiretamente inclui as sanções atuais contra o Brasil, a Cúpula dos BRICS não tomou nenhuma medida efetiva, e tal como faz o governo Lula no Brasil, se curva a OMC e a ONU, comandada pelos países imperialistas como principais organismos para resolver os conflitos econômicos gerados pelo Tarifaço de Trump. Uma mostra do caráter insuficiente dos discursos desses países em relação ao EUA e uma demonstração de que a aposta de muitas organizações num suposto “anti-imperialismo” dos BRICS é um erro. Contra a extrema direita imperialista de Trump são necessária ações.
Sobre a Guerra na Ucrânia
Coerentes com a posição da China e do Brasil sobre esta guerra, os BRICS expressaram preocupações abstratas “com os conflitos em curso em diversas partes do mundo e com o atual estado de polarização e fragmentação da ordem internacional”; falam criticamente contra o aumento dos gastos militares atuais e a única política que propõem é conclamar a comunidade internacional (leia-se o antro imperialista da ONU) “a responder a esses desafios e às ameaças à segurança associadas por meio de medidas político-diplomáticas para reduzir o potencial de conflitos e enfatizamos a necessidade de engajamento em esforços de prevenção de conflitos, inclusive por meio do enfrentamento de suas causas profundas”. A única menção sobre a Ucrânia está no item 22, para dizer que os BRICS têm suas posições nacionais (de cada país) “expressas nos fóruns apropriados, incluindo o CSNU (Conselho de Segurança da ONU) e a AGNU (Assembleia Geral das Nações Unidas). Os mesmos organismos que deixam correr o holocausto na Palestina. E isso significa avalizar a invasão imperialista Russa contra a Ucrania.
Quando analisamos os itens 34 e 35 das Resoluções, que tratam da condenação ao terrorismo no mundo, fica muito explicito o apoio dos BRICS ao Estado imperialista russo, quando condenam e caracterizam como terrorismo as diversas estratégias e táticas que o exército e o povo ucranianos usam para se defender da agressão russa. “Condenamos nos termos mais fortes os ataques contra pontes e infraestrutura ferroviária que visaram deliberadamente civis nas regiões de Bryansk, Kursk e Voronezh, na Federação Russa, em 31 de maio e 1º e 5 de junho de 2025, resultando em várias vítimas civis, incluindo crianças”. Nenhuma palavra para o terrorismo de Putin e do imperialismo russo, que invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 ou para as 400 mil baixas ucraniana, dentre os quais cerca de 100 mil mortos.
Sobre a Ocupação de Israel da Palestina e dos países do Oriente Médio
Nesse ponto das Resoluções os BRICS foram categóricos em condenar a violência e ocupação de Israel sobre o povo Palestino em Gaza e na Cisjordânia, bem como a invasão e guerra no Líbano, a invasão e bombardeios na Síria e a guerra contra o Irã. Apesar de que nem a Rússia, nem a China fizeram nada efetivo para defender o Irã dos ataques do exercito nazista de Israel e nem os bombardeios dos EUA.
Em relação ao povo Palestino os BRICS declaram, item 24 da resolução, sua preocupação com o território Palestino ocupado diante da retomada dos ataques contínuos de Israel contra Gaza e a obstrução da ajuda humanitária no território. Condenam o uso da fome como método de guerra, como uma clara violação do direito internacional; também condenam a tentativa de Israel e dos Estados Unidos (mas sem citá-los) de politizar ou militarizar a assistência humanitária. Pedem “a retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza e de todas as demais partes do Território Palestino Ocupado”.
Em que pese terem condenado a violência militar, ocupação de Gaza e a fome como método de guerra, todas as soluções propostas pelos BRICS são eco emitidos pela ONU e pela União Europeia. Defendem que Gaza e Cisjordânia sejam unificadas sob a Autoridade Palestina, controlada pela facção da antiga OLP, e chamam a “comunidade internacional” – a mesma que se finge de morta com a destruição, a fome e os ataque brutais de Israel contra o povo palestino de Gaza – para que “apoie a Autoridade Palestina na realização de reformas que permitam concretizar as legítimas aspirações dos palestinos à independência e à criação de um estado, bem como a rápida reconstrução das infraestruturas civis do território”. Um silêncio total e absoluto à Resistência Palestina e seu representante legítimo neste momento, O Hamas, que sofre as dores e as misérias do povo palestino, que já perdeu milhares de combatentes por conta dos ataques sionistas. Querem legitimar a Autoridade Palestina porque sabem que Mahmoud Abbas, da Al Fatah, é submisso aos interesses de Israel e dos Estados Unidos, e cumpre um papel de polícia contra a resistência palestina. A autoridade palestrina e o Al Fatah defendem a falida resolução dos acordos imperialista de Oslo, dos “dois estados”. A mesma proposta defendida pelos BRICS, item 27 da Resolução, “Reafirmamos nosso apoio à adesão plena do Estado da Palestina às Nações Unidas no contexto do compromisso inabalável com a Solução de Dois Estados”. Uma linha que só favorece a continuação do enclave colonial nazista de Israel e seus contínuos massacres desde 1948. Outra demonstração de que os Brics não são apresentam alternativa para a luta anti-imperialista internacional e da palestina.