O imperialismo Chinês na América Latina (texto 3)

Michel Oliveira, Coordenação da CST

Os BRICS são “um agrupamento formado por onze países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Serve como foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas” (https://brics.br/pt-br). O grupo foi criado em 2006 por China, Rússia, Índia e Brasil, com a África do Sul entrando em 2011. Em 2023/24, seis novos membros foram incorporados nas Cúpulas de Joanesburgo e Kazan. Os objetivos dos BRICS incluem fortalecer a cooperação entre seus membros e “melhorar a legitimidade, a equidade na participação e a eficiência das instituições globais” como ONU, FMI, OMC, além de promover “desenvolvimento sustentável e inclusão social”.

A ex-presidente Dilma comanda o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que visa financiar projetos de infraestrutura e “sustentabilidade” em “países em desenvolvimento”. Segundo dados oficiais, “o capital autorizado do NDB é de US$ 100 bilhões”. O NDB tem sede em Xangai e escritórios em São Paulo e Gujarat (Índia). No Brasil, há cerca de US$ 5 bilhões em projetos ligados ao banco, que se apresenta para financiar projetos de mobilidade, “adaptação climática”, saneamento básico e energia.

O discurso é bonito, mas a realidade é que estamos diante de um bloco de potências capitalistas, liderado pela China e Rússia, que exploram outros países de forma imperialista e tentam se legitimar por meio de frases com um viés democrático e ar progressista.

2- Não é possível humanizar ou democratizar o capitalismo imperialista

O projeto de reformular o covil de bandidos da ONU, instituições nefastas como FMI e OMC nada trem de progressivo. Não é possível humanizar ou democratizar o capitalismo imperialista.  O fato de Donald Trump querer impor uma ordem diferente da atual (causando desordem) não pode nos fazer perder de vista que as atuais instituições são entidades imperialistas. A ONU, FMI e OMC sustentaram e sustentam a pilhagem, invasões, golpes e a exploração da classe trabalhadora. São organismos das grandes potencias capitalistas, contra as quais lutamos. Não podemos esquecer que foi a ONU, numa seção presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, que impôs a Nakba ao povo palestino, roubando suas terras, quando da implantação do enclave colonial e imperialista de Israel no oriente médio.

A relação com a América Latina pauta-se na exportação de capitais e no benefício dos monopólios desses países, principalmente da China que tem nosso continente como um de seus objetivos expansionistas. As relações comerciais desiguais e o controle econômico de setores econômicos estratégicos são a ponta de lança dessa dominação.   A exportação de capitais via o banco dos BRICS, embora camuflada como relação “sul-sul”, é um mecanismo clássico imperialista de endividamento das nações. Vejamos isso na América Latina.

3- A expansão do domínio Chinês na América Latina

Segundo a CEPAL, no relatório “Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e Caribe”, a China se tornou um polo central do comércio mundial capitalista, com forte penetração na América Latina. De presença modesta nos anos 2000, a China virou o maior parceiro comercial de vários países sul-americanos e um dos principais investidores em infraestrutura capitalista na região. Entre 2000 e 2023, o comércio China-América Latina cresceu de US$ 12 bilhões para cerca de US$ 500 bilhões, um aumento de 35 vezes. Na América do Sul, a China é líder comercial para Brasil, Chile, Peru e Uruguai, além de estar entre os principais parceiros da Argentina e Bolívia. Não por acaso há tantas disputas e a “guerra comercial” por parte dos EUA, visto o forte crescimento da China em nosso continente.

3.1- As trocas são desiguais

O padrão de exportação favorece os capitais imperialistas chineses. Segundo a CEPAL, “nas últimas duas décadas, houve uma reprimarização do padrão exportador regional, com as matérias-primas básicas passando de 31% do total entre 2000-2002 para 80% entre 2020-2022”. O Brasil é o maior parceiro comercial desde 2009, com foco na exportação de soja, minério de ferro e carne. É o maior destino dos investimentos chineses na região, com aproximadamente US$ 66 bilhões, especialmente em energia, infraestrutura e telecomunicações. A Argentina, Chile e Peru também atraem volumes comerciais altos, principalmente nas áreas de energia, mineração e agronegócio. Argentina é a segunda maior parceira, exportando soja e carne. Recebe investimentos em energia. O Chile exporta principalmente cobre, vinhos e frutas; mantém acordo de livre comércio. O Peru tem forte ligação no setor de mineração (cobre, ouro). Também possui acordo comercial com a China. Uruguai tem menor volume, mas vem atraindo projetos em carne, celulose e energia limpa. A China é o seu maior comprador de carne bovina e celulose. Venezuela, Equador e Bolívia receberam investimentos menores, mas em setores estratégicos (como petróleo, gás e lítio).

A região registra superávit com a China em apenas quatro setores: mineração e petróleo; agricultura, silvicultura, caça e pesca; alimentos, bebidas e tabaco; e madeira e papel.  A China importa grandes volumes de commodities da região (soja, carne, cobre, minério de ferro e lítio) e exporta bens industriais e produtos de alta tecnologia. Em 2022, 95% das exportações latino-americanas eram matérias-primas e produtos manufaturados baseados em recursos naturais. Enquanto 88% das exportações chinesas para a região eram produtos manufaturados de baixa, média e alta tecnologia. Uma balança comercial que favorece a expansão do imperialismo Chines e aprofunda a dependência e subordinação da América latina.

3.2- A crescente presença da China no “Triângulo do Lítio” da América do Sul

A China tornou-se o principal destino dos produtos agropecuários e minerais da América do Sul, fortalecendo seu controle sobre cadeias estratégicas como a do lítio. Esse metal é vital para baterias usadas em veículos elétricos e dispositivos eletrônicos portáteis (Smartphones, laptops, tablets). Controlar o lítio garante às empresas acesso a um recurso estratégico, competitividade tecnológica, o que explica os grandes investimentos Imperialistas na exploração do setor.

Dados da CEPAL mostram que, em 2022, o Chile exportou para a China 120.435 toneladas de carbonato de lítio, equivalente a US$ 5,778 bilhões (74% de suas exportações do produto). A chinesa Tianqi Lithium detém 24% da SQM, maior produtora mundial do metal no Chile. A BYD investe US$ 290 milhões numa planta de cátodo de lítio no país, prevista para 2025. Na Argentina, o grupo chinês Ganfeng Lithium lidera a Minera Exar S.A., com US$ 979 milhões para produzir 40 mil toneladas anuais de carbonato. A Zijin Mining negocia a construção de planta catódica na província de Catamarca. Na Bolívia, a estatal YLB firmou acordos com empresas russas e chinesas para construir complexos industriais com investimentos de US$ 1,4 bilhão, enquanto a chinesa CATL investe igual valor para extrair lítio das salinas de Uyuni e Coipasa

3.2- Infraestrutura, Financiamentos e tecnologia

Desde 2005, empresas e estatais chinesas investiram mais de US$ 140 bilhões na região, atuando nos setores de mineração, energia (hidrelétricas, solar), transporte (ferrovias, portos, rodovias) e logística. Empresas como MMG, Zijin Mining, State Grid e China Three Gorges protagonizam projetos estratégicos em diversos países.

Bancos como o China Development Bank e o Banco de Exportação e Importação da China forneceram empréstimos bilionários para países como Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina. Paralelamente, a China firmou acordos de livre comércio com Chile, Peru e, mais recentemente, o Equador.

A presença chinesa também avança no campo tecnológico. A Huawei lidera a implementação de infraestrutura 5G em diversos países da região. Empresas como BYD e Geely investem na produção de veículos elétricos e baterias, com destaque para fábricas no Brasil e no Uruguai.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) financia projetos no Brasil, com uma carteira ativa de cerca de US$ 5 bilhões. Esses recursos são direcionados a áreas ligadas a energia, mobilidade urbana, água e saneamento, tecnologia da informação e infraestrutura social. Entre os projetos financiados estão: US$ 1,2 bilhão repassados ao BNDES para subprojetos em energia, mobilidade, saneamento, TIC e infraestrutura social; Fundo BNDES Clima, com linha de crédito reestruturada de US$ 500 milhões desde 2019, para mobilidade urbana, tratamento de resíduos e eficiência energética; Empréstimos municipais: Sorocaba (US$ 40 milhões para mobilidade urbana), Serra-ES (US$ 57,6 milhões para transporte urbano), Paraíba (US$ 60,95 milhões para saneamento), Aparecida de Goiânia (US$ 120 milhões para mobilidade urbana e infraestrutura social); Financiamento de US$ 300 milhões para projeto de água e saneamento em São Paulo (2022), via Sabesp.

Lutar contra toda exploração imperialista

A crescente presença do capital imperialista Chines em setores estratégicos, aumenta a dependência e subordinação da América Latina e do Brasil em relação à China. Empresas chinesas atuam em áreas de redes de energia elétrica, portos, tecnologia, o que afeta a soberania nacional dos países. Investimentos em mineração, agricultura em larga escala e infraestrutura, significam aumento do desmatamento, degradação ambiental e impactos para povos indígenas. Alguns contratos e investimentos chineses são criticados pela falta de transparência, com cláusulas que favorecem excessivamente as empresas chinesas, incluindo repatriação de lucros e condições que dificultam a fiscalização pública. Há questões relacionadas a desrespeito dos direitos trabalhistas e condições de trabalho degradantes em projetos chineses no Brasil.

A luta contra a dominação e exploração vem de muito longe e devemos concluir que nenhuma dominação estrangeira nos serve. As grandes invasões bárbaras dos impérios coloniais europeus destruíram os Povos Originários que habitam o continente de Abya Yala e dizimaram os Povos Ancestrais de Pindorama. Perdemos nossa liberdade e nosso modo de vida e passamos a ser escravizados e explorados pelos impérios coloniais europeus, com o consequente genocídio e escravização das nações da África. Até o nome do continente denominado de “América” ou do nosso território que passou a ser chamado de “Brasil”, reflete a força da dominação: a homenagem ao pirata Américo Vespúcio e o reflexo da exploração do Pau-brasil, a madeira que nos foi roubada no início da colonização.

Muito depois fomos explorados e dominados pelo capitalismo Inglês, que praticou todo tipo de rapina contra nós. Um exemplo foi a origem da dívida externa de nossos país. O Brasil de Dom Pedro I pagou ao do imperialismo Inglês cerca de 2 milhões de libras na transação comercial que deu origem a falsa independência de Portugal. E posteriormente seguiu pedindo empréstimos dos “lordes” britânicos, inaugurando nosso endividamento externo perante o capitalismo mundial.

Após a segunda guerra passamos a ser explorados pelos EUA, que na época afirma sua “nova dominação” no mundo. E que ainda persiste nos dias de hoje, apesar de seu declínio. O Império estadunidense não titubeou em impor ditaduras militares na américa latina para manter os lucros de suas multinacionais. Ditaduras fascistas como a de Pinochet e Videla mostram os prejuízos genocidas dessa dominação.

Assistimos agora o ingresso de um imperialismo novo,  mas isso não tem nada de progressivo. Ser explorado, não importa por qual potência, é ruim. O capitalismo imperialista chinês aprofunda o caráter exportador de produtos primários e nossa dependência tecnológica. Estimula trocas desiguais em prejuízo da américa latina.

A verdade é que os imperialismos sempre prejudicam a classe trabalhadora, setores populares e o meio ambiente. Os imperialismos são um fator de rapina. Os BRICS, liderados pela China, são um novo projeto imperialista.

Não se trata, portanto, de ter mais e mais imperialismos no mundo como se isso fosse “equilibrar” o poder mundial dos EUA numa ilusória “multipolaridade” capitalista. A verdade é que temos de lutar contra todos os imperialismos pois suas políticas expansionistas, a necessidade de explorar novos mercados e dominar países sempre prejudicam a classe trabalhadora, aos setores populares e o meio ambiente.

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