Síria: pelo fim imediato do cerco governamental a Sweida!

A província de Sweida tem testemunhado uma escalada gradual da violência nos últimos meses, que atingiu o ápice quando as forças governamentais entraram na região sob o pretexto de “impor a segurança”, após não conseguirem negociar com representantes da comunidade drusa. No entanto, essa entrada militar foi apenas o início de violações fartamente documentadas: incêndios de casas, sequestros e ataques a símbolos religiosos e nacionais. Isso lembra o que aconteceu meses antes na região costeira, em que o pretexto da “segurança” foi usado pata justificar a repressão generalizada.

Entretanto, uma milícia não pode ser comparada a um governo, que utiliza todos os instrumentos do Estado e comete abusos em nome da “soberania”. A revolta popular que ocorre hoje em Sweida é uma expressão natural da rejeição generalizada da população a esses abusos, e não do apoio a um grupo em detrimento de outro. O povo de Sweida se opôs ao regime ditatorial de Bashar al-Assad e não manchou as mãos com o sangue dos sírios, recusando-se a se alistar no exército de al-Assad para o serviço militar obrigatório.

É verdade que o xeque druso Hikmat al-Hajri tem interesses políticos e laços anteriores com o regime de Assad, mas isso não significa que ele represente todos os habitantes de Sweida e suas aspirações. Portanto, é injusto categorizar os drusos como seguidores de Hikmat al-Hajri ou de outros xeques. Apresentar o povo de Sweida como “remanescentes” do regime anterior, como o governo faz, é um discurso autoritário perigoso que, em última análise, serve ao projeto de ocupação israelense. De fato, o Estado genocida de Israel foi rápido em explorar o momento, com o pretexto de “proteger os drusos”, e seus aviões de guerra bombardearam posições do exército sírio em Sweida e a sede do Ministério da Defesa em Damasco, abrindo assim a porta para um conflito mais amplo a serviço de sua expansão territorial e de suas ações criminosas contra a Palestina e os povos do Oriente Médio.

Após a retirada das forças governamentais, o governo recorreu à ajuda de tribos árabes, transformando Sweida num pequeno campo de batalha civil, que evocou cenas de confrontos religiosos. Hoje, um frágil acordo de cessar-fogo prevalece, em meio a um cerco sufocante imposto pelo governo desde 12 de julho: sem eletricidade, água, medicamentos, diesel e com o deslocamento dos beduínos. Além disso, a campanha militar deslocou mais de 80.000 pessoas e deixou quase 32 aldeias devastadas.

A partir de uma posição socialista revolucionária contra a repressão, o sectarismo religioso e a ocupação militar, declaramos o seguinte:

Primeiro: exigimos o levantamento imediato e incondicional do cerco a Sweida e a entrada de alimentos, medicamentos e ajuda humanitária, sob a supervisão de organismos independentes.

Segundo: exigimos o julgamento de todos os envolvidos em violações contra civis em Sweida, sejam aqueles que emitiram ordens ou aqueles que as executaram, perante organismos judiciais independentes e na presença de representantes das comunidades locais.

Terceiro: exigimos uma investigação transparente e independente sobre tudo o que aconteceu – diferentemente do que ocorreu na região costeira, em que os fatos foram ocultados –, conduzida por um comitê nacional composto por juristas independentes, sindicalistas e representantes das vítimas.

Quarto: exigimos o início imediato de uma reconciliação genuína entre as tribos árabes e beduínas, por um lado, e o povo de Sweida, por outro, com base no reconhecimento mútuo dos direitos de cada comunidade.

Por fim, a principal responsabilidade pela crise em Sweida recai sobre o governo de Shara, que continua a adotar políticas discriminatórias e se recusa a iniciar um processo de reconhecimento dos direitos democráticos de todos os setores. O governo – que não reconhece a diversidade nacional, étnica e religiosa do país e exclui sistematicamente minorias nacionais e religiosas, bem como outros partidos, dos processos políticos – busca consolidar seu poder autoritário. Além dessas causas profundas, a falta de transparência nos julgamentos dos crimes cometidos durante o regime de Assad e a incapacidade de conduzir de forma eficaz uma investigação e um processo sobre os massacres de civis do povo alauita em março são outros fatores significativos por trás da rejeição do povo de Sweida ao governo de Shara.

A recente crise em Sweida traz mais uma vez à tona as seguintes tarefas urgentes na Síria: os direitos democráticos de todas as minorias nacionais e religiosas devem ser garantidos; um programa urgente de reconstrução econômica, baseado nas prioridades dos trabalhadores, deve ser implementado; e a presença e intervenção de todas as potências capitalistas estrangeiras (Israel, Turquia, Estados Unidos, Rússia) no país deve cessar. Esses objetivos só podem ser alcançados por meio da mobilização unitária e massiva do povo sírio. Isso também deve incluir a luta por eleições livres para uma Assembleia Constituinte, que discuta e decida sobre todas as demandas do povo. Apelamos a todas as forças de esquerda e revolucionárias na Síria para que se unam numa luta comum em torno de tal programa de ação e construam uma plataforma política independente, separada do governo e dos setores políticos burgueses, que representam os ricos e poderosos do país.

Nós, da UIT-QI, também defendemos a permanente solidariedade internacional com as lutas e reivindicações democráticas e sociais do povo trabalhador e de todos os setores populares da Síria.

 

Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI)

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