Enfrentar Trump e defender os direitos da classe trabalhadora

Por Danilo Bianchi e Adriano Dias, Coordenação da CST
O tarifaço de Trump e a pressão sobre o julgamento de Bolsonaro trouxeram à tona o debate sobre o papel dos países imperialistas em relação ao Brasil e como o governo deveria reagir diante da ameaça americana à soberania do país.
Frente a esse ataque de Trump, surpreende a passividade do governo Lula, que nem o decreto da reciprocidade quer aplicar. Pelo contrário, cogita-se negociar novas perdas, como a exploração das terras raras e dos minerais críticos. Uma postura submissa que deixa Trump tranquilo para continuar atacando.
Por outro lado, a extrema direita se vangloria de ter garantido a taxação e fez até motim no Congresso para reforçar o tarifaço e aprovar a impunidade a Bolsonaro e aos golpistas do 8 de janeiro.
O imperialismo é nosso inimigo
O imperialismo sempre será nosso inimigo. Não existe governo imperialista progressista. A lógica imperialista sempre será rapinar nossas riquezas, explorar nossa mão de obra e impor pacotes econômicos e regras fiscais de organismos como FMI e Banco Mundial.
Trump mente quando diz que tem desvantagens. Os EUA possuem uma balança comercial altamente favorável com o Brasil, além de lucrar com o pagamento da dívida, a não taxação dos lucros das multinacionais americanas e de seus dividendos.
É inaceitável que o governo Lula, mesmo diante de tantos ataques, queira manter um “diálogo” com os EUA sem aplicar nenhuma retaliação.
Os trabalhadores não podem pagar o pato!
Lula assinou uma Medida Provisória (MP) que, segundo o próprio governo, teria como objetivo “amparar os setores afetados pelo tarifaço imposto pelos EUA”.
A medida libera uma linha de crédito de R$ 30 bilhões destinada ao grande empresariado brasileiro. Em vez de enfrentar o imperialismo e proteger a classe trabalhadora, o governo coloca nas costas de trabalhadoras e trabalhadores todo o ônus imposto pelos EUA. Lula garante socorro financeiro aos mesmos empresários que historicamente lucram com a dependência econômica do país e com o atraso estrutural da nossa economia.
Enquanto atende às demandas da Faria Lima com a MP, o governo não toma nenhuma medida para impedir demissões ou ataques aos direitos trabalhistas.
Teto de gastos para o povo, bilhões para os patrões
Os bilhões destinados aos empresários são os recursos que faltam para áreas sociais. Recentemente, o governo cortou bilhões do BPC (Benefício de Prestação Continuada), que garante renda básica a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade.
Essa contradição não é por acaso. O chamado “arcabouço fiscal” impõe um teto de gastos para saúde, educação e assistência social, enquanto mantém intocado o pagamento da dívida pública — interna e externa — aos banqueiros.
O governo deveria ter editado outra medida provisória — não para socorrer empresários —, mas para proteger a classe trabalhadora. Uma MP que proibisse demissões, cortes salariais e redução de benefícios enquanto durar o tarifaço imposto pelos EUA.
Unificar as lutas para derrotar o imperialismo americano
Lamentavelmente, as principais centrais sindicais do país — como CUT, CTB, Força Sindical, UGT e Intersindical —, ao invés de criticar a medida provisória do governo Lula, estão apoiando o auxílio de R$ 30 bilhões para os empresários brasileiros. Uma vergonha!
Os trabalhadores não podem ser penalizados, enquanto os empresários são beneficiados com dinheiro público e ainda assim mantêm as demissões.
Exigimos das direções das centrais sindicais e dos movimentos sociais uma jornada de lutas unificada em defesa dos direitos dos trabalhadores, pela proibição do envio de lucros das multinacionais estadunidenses e pela taxação de suas receitas.
O exemplo de resistência dos metalúrgicos
Em São José (SP), os metalúrgicos, por meio de seu sindicato, estão realizando protestos contra o tarifaço e contra as demissões em frente a empresas e fábricas, como na matriz da Embraer, mostrando que é possível organizar a batalha anti-imperialista de forma séria.
Ocupar as ruas no 7 de setembro
Dia 7 de setembro temos a oportunidade de nos mobilizarmos contra o tarifaço e pela defesa dos direitos da classe trabalhadora, levantando um programa de luta. Defendemos:
a) Aplicação imediata da lei de reciprocidade; defesa das terras raras e minérios, sem entrega aos EUA; reestatização da Vale e da Petrobras, 100% estatal; proibição do envio de lucros das multinacionais e taxação de suas receitas; não pagamento da dívida externa e interna; fim da autonomia do Banco Central e estatização do sistema financeiro; criação de uma frente latino-americana contra o imperialismo.
b) Expulsão de integrantes da embaixada dos EUA que colaboraram com o 8J; ruptura com Israel; punição de todos os golpistas; cassação de deputados bolsonaristas; cadeia para Eduardo e Jair Bolsonaro; expropriação das empresas financiadoras do 8J.
c) Fim do arcabouço fiscal, do Plano Safra, do teto de gastos e das regras ditadas pelo FMI, Banco Mundial e Plano Real; revogação do PL da Devastação e do Marco Temporal; reforma agrária sob controle dos sem-terra. Demarcação já!
d) Reajuste de salários e benefícios; redução de tarifas e preços de alimentos; fim da 6×1; redução da jornada de trabalho; arquivamento da reforma administrativa; revogação das reformas trabalhista, previdenciária e do NEM, além das privatizações da BR Distribuidora e da Eletrobras; demissão de Múcio, Fávaro e de todos os ministros do Centrão.
A CST luta por um governo da classe trabalhadora, sem patrões, e por um Brasil socialista. Por uma efetiva unidade anti-imperialista latino-americana contra Trump, rumo a uma Federação das Repúblicas Socialistas da América Latina.