COP 30 em Belém: um Legado da devastação capitalista.
Por Eduardo Protazio – Professor e Militante da CST do Pará
A menos de 20 dias da COP-30 em Belém-PA, a cidade vive cercada por obras que expõem a devastação socioambiental e o aprofundamento das desigualdades. Em meio a isso, duas notícias recentes merecem destaque: o governo Lula-Alckmin, via IBAMA, concedeu licença para perfuração de poço de petróleo na Foz do Rio Amazonas, no Amapá; e o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que a meta de 1,5ºC do Acordo de Paris (2015) não será alcançada. Ambas se combinam e se contradizem em meio às vésperas do evento climático.
Os cerca de R$ 5 bilhões investidos pelo governo federal em obras na cidade, sobretudo ao turismo predatório, serviram para “maquiar” Belém, devastando áreas de proteção ambiental. Isso ocorreu na construção da Avenida Liberdade, um trecho de rodovia que liga Marituba à capital, derrubando hectares de mata e interferindo em mananciais, cruzando o território do quilombo do Abacatal sem consulta prévia às suas famílias; na duplicação da Rua da Marinha, que arrasou mata e o Parque Ambiental Gunnar Vingren; e nas obras da Nova Doca, que direcionaram dejetos de uma área nobre para a Vila da Barca, área favelizada.
Outros megaprojetos no Pará, como o derrocamento do Pedral do Lourenço (Itupiranga), a ferrovia Ferrogrão (Itaituba-Sinop) e a mineradora Belo Sun (Altamira), para escoar a produção do agronegócio e da mineração predatória, recebem protestos de povos indígenas, tradicionais e ambientalistas. Todos esses têm, em algum nível, o apoio ou a autorização dos governos de Lula e de Helder.
A Farra da Especulação Imobiliária. Enquanto a grande mídia foca nos preços de hotéis, culpabilizando pequenos e médios do setor que se esforçam para reformar suas casas e disponibilizá-las aos hóspedes da COP, o governo de Helder Barbalho garante privilégios aos grandes da hotelaria, “escondendo” os pobres e os deixando sem moradia digna. Em abril de 2024, o antigo prédio da Receita Federal, doado pelo governo federal, tornou-se um empreendimento de luxo da rede Tivoli, administrado por Giovanni Maiorana (Grupo Roma), em um processo feito sem a devida transparência, como denunciou o jornalista Fernando Assunção do portal Alma Preta.
A prefeitura de Igor Normando (MDB) desmantela políticas de assistência social, fechando abrigos. Com um aumento de mais de 500% de pessoas em situação de rua nos últimos oito anos, segundo dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas para Pessoas em Situação de Rua, o que se vê é a higienização dos espaços públicos do centro, onde Helder e Igor privilegiam os ricos enquanto os pobres são destratados.
Cúpula dos Povos: seguir o exemplo dos operários da construção civil!
É sabido que as COPs servem como um balcão de negócios para o grande capital, com forte lobby de acionistas de combustíveis fósseis. A licença para exploração de petróleo pela Petrobras surge como um prato cheio a essas negociações, favorecendo o governo de conciliação de classes de Lula-Alckmin diante dos capitalistas e o afastando dos povos em luta contra a catástrofe socioambiental.
Contudo, há um contraponto que mantém a nossa esperança: a Cúpula dos Povos, que ocorrerá paralelamente à COP, na UFPA, onde são esperadas cerca de 15 mil pessoas, de diversos povos do mundo, segundo a jornalista Brenda Taketa do portal O Joio e O Trigo. Convocamos a todas e todos a seguir o exemplo de luta dos/as operários/as da construção civil em Belém, Ananindeua e Marituba (Região Metropolitana)! Após dez dias de uma histórica greve geral, em setembro, paralisaram dezenas de canteiros de obras – entre eles obras centrais da COP -, e arrancaram conquistas importantes dos empresários do setor e dos governos, colocando em cheque o falso discurso dos governos de que este evento deixará um legado positivo para a cidade e seus trabalhadores/as. Só se for o legado da devastação capitalista!
