Ezequiel Peressini: “Voltaria a tentar quantas vezes for necessário”

Da redação do El Socialista, Esquerda Socialista Argentina (UIT-QI)

Em meio ao tumulto de sua chegada ao aeroporto de Buenos Aires, conseguimos conversar com Ezequiel, que nos representou na Flotilha. Sem levar em conta o cansaço de mais de vinte horas de viagem, contou suas primeiras impressões desde que foram interceptados ilegalmente pela marinha sionista em águas internacionais.

Estávamos preparados para a interceptação, pois essa é a política do Estado de Israel para impedir a quebra do bloqueio que mantêm desde 2007, com o objetivo de impedir a chegada de ajuda humanitária. No dia 1º, um navio militar se aproximou com duas embarcações de abordagem rápida, quando ainda estávamos em águas internacionais. Mais de vinte agentes israelenses entraram, destruindo quase tudo o que tínhamos a bordo, embora não houvesse qualquer tipo de resistência, já que se tratava de uma flotilha humanitária, legal e não violenta. O principal objetivo deles era nos prender e nos tratar como terroristas uma política sustentada pelo ministro da Segurança, Itamar Ben Gvir.

Depois de 24 horas, durante as quais neutralizaram cerca de cinquenta barcos, fomos levados presos — sequestrados — ao porto de Ashdod, onde começaram a agir com violência. Fomos algemados com braçadeiras plásticas, submetidos a chaves de imobilização e obrigados a sentar. Ben Gvir apareceu com pessoal armado para realizar um ato de intimidação, dizendo: ‘Todos vocês são terroristas financiados pelo Hamas e serão encarcerados e tratados como tal.’ E foi exatamente o que aconteceu.”

Após mais de doze horas no porto, os quase 500 prisioneiros fomos transferidos, de olhos vendados, para a prisão de segurança máxima de Ketziot, no deserto do Neguev. Ao chegar, tiraram nossos pertences e nos deram uniformes de prisioneiros. Ficamos lá por seis dias, com ração escassa de comida e sob constantes ameaças dos guardas, que introduziam fuzis nas celas para nos intimidar e mantinham as luzes acesas o tempo todo para que não pudéssemos descansar. Graças à mobilização mundial que exigia nossa libertação, incluindo uma greve geral na Itália, grupos de prisioneiros foram sendo liberados. Finalmente, no dia 7, sem qualquer processo de deportação, os últimos 300 prisioneiros fomos levados, ainda algemados, até a fronteira com a Jordânia e entregues ao governo daquele país, que nos conduziu até a capital, Amã. Como a Argentina não possui representação diplomática ali, graças ao consulado do Uruguai conseguimos comprar roupas e organizar o retorno.”

Quero destacar duas coisas. A primeira, o papel lamentável do cônsul argentino, que nos visitou na prisão israelense apenas para informar que o embaixador não compareceria, pois seguia a orientação do governo de ultradireita de Milei de não se envolver, limitando-se a aplicar uma espécie de pesquisa de satisfação carcerária. Lastimável! A segunda é que a Flotilha Global Sumud representa a expressão mais completa da unidade de ação em torno da solidariedade com a Palestina. Com embarcações precárias, capitães voluntários e ativistas de grande determinação, conseguimos realizar um feito político de alcance mundial. Saímos muito fortalecidos e com a convicção de que a missão foi vitoriosa na medida em que impulsionou protestos em todos os continentes contra o sionismo e em apoio à Palestina.”

“Temos grandes tarefas pela frente: manter a mobilização mundial com esses objetivos e insistir em novas Flotilhas até conseguir chegar a Gaza. Repetidamente, os agentes do sionismo nos perguntavam: ‘Fizeram bem em ir a Gaza?’ A resposta era sempre a mesma: Sim, e vamos voltar a fazê-lo, quantas vezes for necessário.”

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