Sobre a tática eleitoral do PCBR e a filiação democrática de Jones Manoel no PSOL
1- Os camaradas do PCBR, com os quais compartilhamos unidades nas lutas e batalhas políticas, anunciaram sua posição sobre as eleições de 2026. Concordamos com o PCBR sobre a necessidade de uma candidatura unificada da esquerda radical nas eleições burguesas de 2026. Desde já nos dispomos a construir pontes para essa unidade.
1.1- O PCBR afirma que, apesar das dificuldades, “há a possibilidade de construção de acordos programáticos bastante avançados entre os diversos partidos e organizações revolucionárias, legalizados ou não, que apontem para essa alternativa e, assim, possam criticar de conjunto as ilusões que ainda há na esquerda sobre a possibilidade de os trabalhadores terem participação na gestão do capitalismo. Consideramos que não ter havido essa unificação nas eleições de 2022 foi um erro importante”. Nos somamos ao apelo “aos partidos e organizações revolucionárias para as eleições de 2026: comecemos agora um debate programático para construir essa alternativa!”.
2- A CST, organização socialista revolucionária independente, propõe a construção de uma frente eleitoral da esquerda socialista e comunista, com a UP, PCBR, PSTU, MRT e SoB. Uma frente que agrupe organizações que não integram a frente ampla e nem têm cargos no governo Lula. Para isso, sugerimos uma reunião no início de janeiro, na sede do PCBR ou de outra organização. Nesse espaço, podemos debater pontos de convergência e divergências.
3- A unificação de figuras públicas da esquerda socialista e comunista, como Jones Manoel, do PCBR, Leonardo Péricles, da UP, e Hertz Dias, do PSTU, em uma campanha presidencial comum, uma chapa coletiva, pode cumprir um papel positivo. Uma campanha com uma chapa unificada em nível nacional e nos estados, que esteja a serviço das lutas, da resistência indígena, negra e feminista, e impeça a pulverização da esquerda socialista e comunista e dos lutadores independentes.
4- Nesse sentido, é importante dialogar sobre o anúncio de que o camarada Jones Manoel poderia sair candidato a deputado pela legenda democrática do PSOL. Logicamente, o camarada Jones e os camaradas do PCBR têm autonomia para definir sua tática eleitoral. Porém, esse debate transcende as fronteiras do PCBR, posto que Jones Manoel tornou-se uma das lideranças mais conhecidas da esquerda radical. Sua figura transcendeu as fronteiras do PCBR e o espaço da esquerda radical, levando posições combativas para um setor maior. E isso ocorreu justamente em um dos campos mais difíceis, que é a disputa presencial. O nome do camarada Jones Manoel circulou amplamente como uma das possíveis candidaturas à Presidência da República. Foi um dos temas de conversas nas redes digitais e em locais de trabalho e estudo, sobretudo após a fala de Mano Brown.
4.1- Então, retirar seu nome tão cedo da batalha presidencial merece mais diálogo, em nossa opinião. Uma campanha com uma chapa coletiva com Jones Manoel teria mais força. Pode-se debater a possibilidade de um mandato de Jones para a ampliação das ideias socialistas e comunistas, porém a campanha presidencial não é uma tribuna secundaria. Uma campanha nacional explicando as propostas da esquerda radical, realizando comícios por todo o país, denunciando o sistema capitalista, educando novas gerações e postulando uma nova figura para a Presidência da República, tem muita validade. Inúmeras vezes uma campanha presidencial, mesmo que minoritária, cumpriu um bom papel e fez florescer uma nova camada de militantes na esquerda.
5- Por outro lado, é necessário dialogar sobre o PSOL. Este partido hoje integra a frente ampla, tem lideranças importantes como Sônia Guajajara e Guilherme Boulos como ministros do governo Lula, participa da base aliada com cargos no Congresso Nacional. Ainda que o PSOL tenha surgido de uma ruptura à esquerda com o petismo em 2003, seu papel atual é distinto. Hoje, o partido não apenas apoia, mas integra o governo capitalista de Lula, assumindo responsabilidades diretas pela gestão do Estado capitalista e pelas políticas de ajuste, o que o coloca fora do campo da esquerda independente. O PSOL se torna responsável por medidas como a manutenção do arcabouço fiscal, a não revogação das contrarreformas trabalhista e previdenciária, os cortes nas áreas sociais e a continuidade da política de conciliação com o agronegócio e o imperialismo. Enquanto escrevemos esse texto o governo Lula ataca os acordos coletivos de duas categorias nacionais (petroleiros e correios). A integração do PSOL no governo gera efeitos sobre a luta de classes: desarma politicamente, desloca o centro da ação do partido para a defesa do governo e subordina as mobilizações populares às necessidades da estabilidade institucional. Não por acaso, o governo Lula é corretamente criticando pelo PCBR e pelo camarada Jones Manoel.
5.1- Um outro tema para o diálogo é a própria situação interna do PSOL depois de sua integração com ministérios e cargos. É sintomático que, mesmo no período em que Bolsonaro e a extrema direita governavam e no auge das expectativas em relação à colaboração de classes de Lula, existisse no PSOL uma luta interna significativa por uma candidatura própria. Naquele momento complexo, enquanto estávamos em uma ampla unidade contra o Fora Bolsonaro, as esquerdas do PSOL agruparam cerca de 40% do partido por uma candidatura própria. Hoje, mesmo com ataques em curso aos trabalhadores sob o governo Lula, essa oposição interna não está ativa, revelando um processo de adaptação à frente ampla e à liderança de Lula e do PT. Hoje, todas as forças farão a campanha da frente ampla de alianças com partidos e lideranças burguesas.
6- Em nossa visão, a possibilidade de Jones na legenda do PSOL gera dois temas importantes para um debate democrático com os camaradas do PCBR. O primeiro é que não ajuda a fortalecer a construção de uma alternativa unificada da esquerda radical nas eleições presidenciais de 2026, pois retira Jones Manoel de uma possível chapa presidencial, que hoje é o nome de maior visibilidade da esquerda radical. E isso não fortalece a batalha para termos candidaturas unificadas da esquerda radical, numa chapa coletiva. O segundo é que, ao fim e ao cabo, fortalece o PSOL, apesar de eventuais debates internos no diretório do PSOL acerca da filiação democrática de Jones.
6.1- Um fortalecimento do PSOL, com figuras, votos e força militante da esquerda radical, não acumula forças para a esquerda independente. Isso porque o PSOL é parte do governo capitalista de Lula, que governa com e para a burguesia. De nosso ponto de vista, o PSOL não é uma possibilidade de legenda democrática para a esquerda radical, apesar de sua viabilidade eleitoral, pois os partidos expressam projetos de classe. Ao integrar o governo Lula, o PSOL atua como um partido da governabilidade capitalista, e não como um instrumento a serviço da independência política dos trabalhadores. Foi por isso que nós da CST rompemos com o PSOL em 2023. O giro do PSOL para a frente ampla ajudou a fragmentação e a subordinação da esquerda socialista a um projeto de conciliação de classes da frente ampla e por isso não estar com eles nas eleições.
7- Para a CST, a crítica ao papel do PSOL no governo Lula parte de um critério estratégico: a independência política da classe trabalhadora. A experiência histórica e a do atual governo Lula demonstram que a colaboração de classes não fortalece os trabalhadores, mas os subordina à governabilidade do capitalismo. Ao mesmo tempo, a história e a experiência do Brasil, bem como as recentes eleições no Chile e na Bolívia, demonstram que a conciliação de classes não derrota a extrema direita: ao frustrar expectativas populares e conter as lutas, abre caminho para seu fortalecimento eleitoral e social. A única resposta consequente é a mobilização independente e a construção de uma alternativa própria da classe trabalhadora. Por isso, a CST defende uma frente de esquerda socialista e comunista, independente do governo e da burguesia, que use as eleições como tribuna de denúncia e instrumento de fortalecimento das lutas. Estrategicamente a CST defende um governo da classe trabalhadora, sem patrões, e um Brasil socialista.
8- Esses debates, que podem e devem ser feitos de forma democrática, fraterna e paciente, não impossibilitam nem atrapalham uma ação em comum com os camaradas do PCBR no que estamos de acordo. Por isso, enquanto conversamos sobre esse tema, seguiremos ombro a ombro na batalha pela unidade da esquerda radical nas eleições burguesas de 2026.
São Paulo, 23/12/25
CST – Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores, Organização Socialista Revolucionária Independente. Seção da UIT-QI (Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional)
