“O PSOL se tornou um partido da ordem capitalista”

Para falar sobre a esquerda independente e as tarefas dos revolucionários e revolucionárias, o jornal Combate Socialista entrevistou Babá, coordenador nacional da CST.

Babá iniciou sua trajetória nos anos 1980, na Convergência Socialista, organização trotskista morenista. Na luta contra a ditadura militar, foi fundador da CUT, do PT e da FASUBRA. Exerceu cargos parlamentares sempre a serviço das lutas. Foi um dos parlamentares radicais que se enfrentaram com o governo Lula/Alencar, sendo expulso do PT. Posteriormente, fundou o PSOL.

Babá e a CST romperam com o PSOL em 2023 por discordarem do ingresso no governo Lula/Alckmin.

Confira:

Combate Socialista: Qual sua visão sobre o governo Lula/Alckmin?
Babá: O governo Lula-Alckmin é um governo capitalista que não merece nossa confiança. É uma aliança do PT, PCdoB e PSOL com setores patronais e da direita do Brasil. Até mesmo setores que sustentaram Bolsonaro e golpistas, como Mucio, fazem parte do governo. Ele envolve partidos como União Brasil e Republicanos. Além disso, faz alianças no Congresso Nacional com figuras ultrarreacionárias como Davi Alcolumbre e Hugo Motta. São esses com quem Lula trata no dia a dia, em negociatas para discutir tudo, inclusive orçamentos. O governo Lula entrega a economia nas mãos dos banqueiros e das multinacionais. Em 2024, o governo Lula afirmou que não havia condições de dar aumento para os servidores públicos — aqueles 0% que nós tivemos. No entanto, o governo Lula pagou, em juros e amortizações aos banqueiros, 45% do orçamento, correspondente a 2,5 trilhões de reais. Sem falar nos bilhões destinados ao agronegócio, assassino de sem-terra e que especula com o preço dos alimentos.

A política do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do PT, é cortar verbas da saúde, educação, saneamento básico e também para o trabalhador do campo. Esse é o governo Lula-Alckmin, cuja política é determinada pelos bancos, pelo agronegócio e pelas bolsas de valores, em detrimento da classe trabalhadora.

CS: E sobre o PSOL ter entrado no governo federal?
Babá: O PSOL entrou desde o primeiro momento. Não apenas com o ministério de Sônia Guajajara, mas com uma quantidade enorme de cargos de confiança que vêm por trás desse ministério e de outras secretarias do governo.

É o que se reproduz nos estados. Edmilson Rodrigues, ex-prefeito de Belém pelo PSOL, fez alianças com a família Barbalho no início do seu governo, até jogando futebol à tarde com esses oligarcas assassinos. No final, a família Barbalho, aliada do governo Lula, investiu em quem? No sobrinho do governador do Pará, que se tornou prefeito de Belém. Essa linha acabou com a independência política do PSOL. Já no município do Rio de Janeiro, o candidato do Lula foi Eduardo Paes — o mesmo que está atacando professores, merendeiras, garis. Na Câmara dos Vereadores, Carlo Caiado, do PSD, foi reeleito por unanimidade, com apoio da bancada do PSOL. Na Assembleia Legislativa do RJ, o candidato do governador Cláudio Castro, que ataca profundamente a classe trabalhadora, Rodrigo Bacellar, foi reeleito por unanimidade, com votos do PSOL.

O PSOL é cúmplice da atual política do governo Lula e da frente ampla. As maiores forças do que se chamava de “esquerda do PSOL” estão sucumbindo a isso. Nós, não. Em maio de 2023, nossa corrente, a CST, decidiu sair do PSOL.

Não poderíamos mais fazer parte do PSOL. Fomos expulsos do PT no fim de 2003. Eu, Luciana Genro, Heloísa Helena e João Fontes fomos enquadrados na Comissão de Ética do PT, com votos inclusive de parlamentares que viriam a ser expostos no escândalo do Mensalão, em 2005. Em 2003, enfrentamos o primeiro governo Lula, votando contra a reforma da Previdência de Lula, participando das mobilizações dos servidores públicos na greve subsequente, onde estivemos na linha de frente. Iniciamos viagens pelo Brasil inteiro para fundar o PSOL, em 2004. Essa situação mostra que a origem do PSOL tinha como objetivo criar uma organização politicamente independente, mas ao entrar no governo Lula isso se perdeu definitivamente. Portanto, esse partido jamais poderá representar de fato os interesses da classe trabalhadora. O PSOL deixou de ser independente e se tornou um partido da ordem capitalista.

CS: Qual a proposta da CST para as demais forças da esquerda?
Babá: Nossa proposta, ou melhor, nosso entendimento, é que há uma necessidade de debatermos a construção de uma verdadeira esquerda classista. Há uma necessidade de que as forças e grupos de esquerda busquem uma convergência em pontos e ações comuns. Cada qual mantendo sua autonomia e seu programa, mas atuando num polo ou bloco da esquerda independente. Atualmente, se reunirmos todas as forças de esquerda, ainda seríamos poucos para a gigantesca tarefa de construir uma alternativa classista com peso de massas. Se continuarmos as ações de maneira separada, cada uma em seu pequeno nicho, nenhum de nós terá força suficiente para enfrentar o governo Lula e o grande capital.

Nós achamos que essa unidade é uma tarefa difícil, mas também é uma necessidade. É possível articular ações em comum com as forças que não estão dentro do governo Lula.

CS: Como seria essa unidade?
Babá: Nós da CST propomos iniciar essa unidade numa reunião das direções dos partidos que estiveram juntos na última campanha eleitoral: PSTU, MRT, SoB e PCBR. Fizemos campanhas eleitorais, em uma situação difícil, para figuras como Ciro Garcia e Altino Prazeres. Por que não poderíamos realizar ações em unidade na luta de classes e na atual situação política? Uma negativa sobre isso seria, me desculpem a franqueza, sectarismo ou autoproclamação. Precisamos de uma esquerda independente, aberta ao diálogo, com fraternidade nas diferenças, sem imposições e vetos. É isso que a luta de classes exige dos revolucionários e revolucionárias.

(entrevista originalmente publicada na edição n°195 do Jornal Combate Socialista)