A presença do imperialismo Russo na América Latina e no Brasil (texto 4)

Ana Augucione, militante da CST de SP

A Rússia mantém relações econômicas relevantes com a América Latina, concentradas em setores estratégicos como fertilizantes, energia e defesa. Porém sem o mesmo protagonismo da China, EUA ou União Europeia. O comércio bilateral, que entre 2021 e 2023 variou entre US$ 16 e 20 bilhões anuais, sofreu oscilações devido às sanções dos EUA após a invasão da Ucrânia, mas permaneceu ativo graças à postura pragmática da região, especialmente no fluxo de insumos agrícolas.

Principais países parceiros e setores estratégicos da atuação Russa na região

O Brasil é o principal parceiro econômico regional, importando mais de US$ 3 bilhões em fertilizantes russos em 2023, essenciais para as empresas agroexportadoras. Exporta carnes, soja, açúcar e café à Rússia. A Venezuela é o parceiro estratégico e militar, com cooperação em energia e defesa. A estatal russa Rosneft atua junto à PDVSA, e o país importa armamentos russos. A Argentina importa fertilizantes e combustíveis, além de ter cooperação médica (vacina Sputnik V). O México mantém comércio moderado, importando fertilizantes, aço e petróleo, e exportando veículos, eletrônicos e alimentos. Nicarágua e Cuba mantêm laços políticos e militares, com apoio logístico e cooperação em saúde e educação, embora com baixo volume comercial.

A América latina é altamente dependente da importação de fertilizantes, especialmente nitrogênio, fósforo e potássio Russo. Mais de 85% do consumo é importado, distribuído entre os principais fornecedores globais. A Rússia domina cerca de 20% do mercado. É o maior fornecedor, especialmente para Brasil e Argentina, com exportação de cloreto de potássio, nitrato de amônio e ureia. O segundo maior fornecedor é o Canadá com 18%, via empresa Nutrien, competindo diretamente com a Rússia. E em terceiro lugar vem a China com 9% e a União Europeia com 8%.

O Brasil é o maior comprador, seguido por Argentina e México. Na Energia as parcerias envolvendo exploração de petróleo, gás e reabilitação de infraestrutura energética, apesar das sanções. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a Rússia é o principal fornecedor de diesel ao Brasil, com mais de 40% do volume importado. De janeiro a junho, as importações somaram mais de US$ 2,5 bilhões. Esse combustível é fundamental para o funcionamento das máquinas agrícolas.

Rússia e a Argentina, da extrema direita comandada por Milei, possuem uma série de acordos bilaterais em áreas como transporte marítimo, assistência jurídica, cooperação técnico-militar e cooperação em energia nuclear.

Apoio Russo aos regimes autoritários

No ramo da “Defesa” o capitalismo imperialismo Russo atua na venda de armamentos e cooperação técnico-militar, principalmente com os governos autoritários da Venezuela, Nicarágua e Cuba. Na Saúde é a exportação da vacina Sputnik V para vários países, com cooperação biomédica pontual.

A Venezuela, com seu regime autoritário, de fome, também se beneficia do apoio do imperialismo russo, recebendo apoio político e econômico numa parceria que denominam de “estratégica”. A Rússia tem fornecido equipamentos militares e tecnologia para a Venezuela. A Rússia tem apoiado consistentemente o governo de Nicolás Maduro em meio às crises políticas e às críticas internacionais, a Venezuela, por sua vez, tem apoiado a Rússia na guerra contra a Ucrânia, defendendo as ações russas. O governo Russo é o principal defensor do ingresso da Venezuela nos Brics.

A presença do imperialismo Russo no Brasil

A relação comercial entre Brasil e Rússia é importante, porém muito menor em volume se comparada à que o Brasil tem com China ou EUA. Ela se caracteriza pela relação em setores como agricultura, energia e defesa. No Brasil, maior consumidor regional de fertilizantes, mais de 85% deles são importados, sendo 25% provenientes da Rússia. O agronegócio brasileiro, que devasta o meio ambiente, territórios e comunidades indígenas, é profundamente abastecido pela Rússia; somente em 2023, o Brasil exportou U$ 949 milhões nesse setor pra Rússia. Os dois países têm fortalecido a cooperação no âmbito do agronegócio, com reuniões e acordos bilaterais visando o desenvolvimento do setor.

Segundo dados de 2023 da APEX, a Rússia “ocupa um lugar de destaque no comércio exterior brasileiro, como o quinto maior fornecedor do Brasil e o terceiro principal entre os países europeus e asiáticos. As exportações brasileiras para a Rússia somaram US$1,3 bilhão no último ano, com uma pauta concentrada em produtos como soja, carne bovina, café não torrado e amendoins. No caso deste último, do valor total exportado pelo Brasil, 27% correspondem ao valor importado pela Rússia”.  E acrescenta que “A pauta importadora brasileira da Rússia apresenta forte concentração, uma vez que os dois principais grupos de produtos (óleos combustíveis de petróleo e adubos e fertilizantes) importados pelo brasil representam quase 90% das importações. Vale pontuar a relevância do mercado russo para o mercado brasileiro no que diz respeito ao segundo grupo, adubos e fertilizantes, em que o Brasil é o principal importador mundial desse grupo”. A Rússia se destaca como origem de insumos para o agronegócio nacional, um dos setores mais predatórios para a catástrofe ambiental e climática e politicamente financiador da extrema direita golpista.

Os dados da APEX indicam que a balança comercial é favorável ao imperialismo Russo. O Brasil importa mais do que exporta. Em 2024, o comércio bilateral entre Brasília e Moscou atingiu recorde histórico de US$ 12,4 bilhões. Foram US$ 1,4 bilhão de exportações e US$ 11 bilhões de importações brasileiras. Atualmente, as exportações brasileiras se concentram em soja (33%), café não torrado (18%) e carne bovina (18%). As importações envolvem óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (57%) e adubos e fertilizantes químicos (34%).

Não aceitamos a subjugação por nenhum imperialismo

Nós defendemos que nossos aliados são a classe trabalhadora e os setores populares, não os governos capitalistas, patrões e os imperialistas. Não importa se o imperialismo em questão é novo ou velho. É o hegemônico ou é minoritário.

Estamos ao lado e apoiando a classe que está em luta na América Latina, Europa e qualquer lugar do globo. Do mesmo modo que estamos ao lado da resistência ucraniana e contra a OTAN. Nós estamos com os trabalhadores Venezuelanos, Argentinos e Nicaraguenses e não com seus governos bonapartistas. Fazemos isso pois a classe trabalhadora não tem pátria e a sua luta é uma só. Toda derrota dos planos imperialistas é uma vitória nossa, e um passo à frente na batalha para sua derrota definitiva. A parceria com governos imperialistas é impossível porque são esses os governos que nos impõem o pagamento ilegal e ilegítimo das dívidas externas e internas, que submetem nosso país a tratados econômicos, diplomáticos, tecnológicos e militares (seja EUA, UE, China, Rússia), que exploram nossos minérios, águas e florestas a preço de banana, dentre outras formas de dominação e rapina. No passado, foram essas relações que levaram o próprio governo Lula a liderar a ocupação militar do Haiti, por meio das tropas da ONU, violando a soberania daquele país.

O agronegócio, parceiro comercial do imperialismo Russo, é um inimigo estratégico da classe trabalhadora e dos setores populares. Somos contrários a ação do imperialismo Russo na América latina, seu apoio a regimes autoritários e ditaduras, suas ótimas relações com a extrema direita e sua linha de exploração de nosso país.