Delegação da UIT-QI na Síria

Por Correspondente da UIT-QI na Síria
Uma delegação da UIT-QI realizou uma ampla visita à Síria em julho, com duração de quase duas semanas. A delegação percorreu diversas províncias do país, reuniu-se com revolucionários, ativistas e intelectuais e realizou reuniões muito proveitosas para desenvolver colaborações políticas e atividades conjuntas tanto na Síria quanto em nível regional.
A UIT-QI sempre esteve ao lado das revoluções no Norte da África e no Oriente Médio, apoiando as rebeliões populares contra os regimes ditatoriais. Nesse contexto, diferentemente das correntes socialistas reformistas – que apoiaram o regime burguês e ditatorial de Bashar al-Assad – e de outras – que permaneceram neutras –, também apoiamos a luta do povo sírio contra o ditador Assad. Fizemos isso a partir de uma posição independente, sem dar apoio político às direções rebeldes burguesas, islâmicas ou seculares, buscando alcançar um governo dos/as trabalhadores/as e uma Síria socialista.
Como resultado, a UIT-QI liderou ou participou de inúmeras campanhas internacionais de solidariedade. Após a queda do regime de Assad, a UIT-QI continua sendo uma das mais firmes apoiadoras da luta travada pelo povo sírio contra o novo governo de Shara, em defesa das demandas por liberdade e dignidade. Em seguida, apresentamos as observações de nossos camaradas, elaboradas a partir da viagem.
De Aleppo a Damasco: nos caminhos de uma Síria sem Assad
Aterrissamos no recém-reaberto aeroporto de Aleppo. Depois de abraçar nossos camaradas que nos aguardavam lá, visitamos, com a sua orientação, o centro histórico devastado de Aleppo e a cidadela. Mesmo tendo acompanhado de perto como os bombardeios de aviões russos e os barris explosivos lançados pelos helicópteros do regime de Assad destruíram Aleppo, ver essa destruição com nossos próprios olhos pela primeira vez foi horrível. Ao lado da tristeza do momento, estava o orgulho legítimo de sempre termos apoiado o povo, que lutava contra uma das ditaduras mais cruéis da história mundial, bem como a indignação com grande parte da esquerda que, sob diversas justificativas, se aliou a esse regime assassino.
Após reuniões com camaradas e amigos em Aleppo e Manbij, chegamos a Homs, conhecida como “a capital da revolução”. Embora o nível de destruição em Homs fosse comparável ao de Aleppo, encontramos uma cidade mais vibrante e politicamente dinâmica. Após as reuniões, visitamos também Salamiyah, Misyaf e Qadmus, cidades em que o movimento de esquerda sempre foi forte, assim como Homs. Em todas essas cidades, ouvimos sobre as imensas experiências acumuladas desde 2011 e discutimos a situação política atual e as perspectivas para o futuro.
De Latakia a Damasco: a busca pela construção de uma alternativa socialista revolucionária
Em seguida, seguimos para a região costeira. Em Latakia, encontramos tanto socialistas veteranos quanto jovens ativistas. Os últimos eram camaradas que haviam presenciado e sofrido a opressão do regime de Assad, lutado contra ele, sido presos e que agora tentavam avançar na luta política contra o novo governo, participando também de campanhas de solidariedade. O massacre perpetrado em março por milícias pró-governo contra aldeias alauitas continua sendo a questão central na região. Diante da investigação fraudulenta do governo, as principais reivindicações dos ativistas continuam sendo que todos os responsáveis pelo massacre sejam levados à justiça e punidos, e que os sequestrados sejam libertados.
Depois de Latakia, seguimos em direção à capital, Damasco. À medida que nos aproximávamos, experimentamos emoções semelhantes às que havíamos vivenciado viajando de Aleppo a Hama. Assim como lá, nos arredores de Damasco, de Douma ao terminal rodoviário da capital, testemunhamos a imensa destruição causada pelos bombardeios aéreos. Ao chegar ao centro de Damasco, a capital política, tivemos a oportunidade de manter discussões animadas com numerosos revolucionários e ativistas de diferentes posições. O último destino planejado de nossa viagem era Sweida. Porém, por conta, em primeiro lugar, do fechamento das estradas, depois da eclosão de confrontos e da sangrenta intervenção governamental, nossa visita foi inviabilizada. Diante dos massacres perpetrados pelas forças pró-governo, que lembram os massacres de março no litoral, participamos como militantes da UIT-QI, tanto política quanto materialmente, das atividades de solidariedade ao povo de Sweida.
Apesar do desgaste e da devastação deixada por 14 anos de revolução e guerra civil, a energia e a curiosidade dos jovens ativistas, bem como a tenacidade e a lucidez dos revolucionários experientes, nos deixaram com grande esperança e otimismo. Após 54 anos de uma ditadura sangrenta, as prisões repletas de presos políticos se esvaziaram. Pela primeira vez, as pessoas podem discutir política abertamente e organizar reuniões. Ao mesmo tempo, especialmente em Damasco e outros lugares em que a esquerda é historicamente forte, é possível desenvolver atividades políticas, organizações sociais e defender o julgamento e a punição dos crimes da ditadura. Tudo isso abre a possibilidade de dar passos rumo à construção de uma organização socialista revolucionária.