A Farsa da Guerra às Drogas
Por Danilo Bianchi – Coordenação da CST
A política proibicionista da suposta “guerra às drogas”, sustentada pela repressão militarizada, volta a revelar sua face mais brutal e criminosa. A recente operação das polícias do Rio de Janeiro — marcada pelo horror, pela violação de direitos e por homicídios cometidos por forças que atuam como verdadeiras polícias assassinas — foi cinicamente defendida pelo governador Cláudio Castro como um suposto combate ao “terror” de facções como o Comando Vermelho. Na realidade, trata-se de mais um capítulo de uma política de Estado que opera com métodos abertamente fascistas e que encontra na morte de pobres seu mecanismo de funcionamento. Essa chacina não é um desvio, mas a expressão mais sangrenta de uma política nacional de criminalização da pobreza, de encarceramento em massa e de repressão sistemática da população negra e periférica — na prática, uma verdadeira e permanente “guerra aos pobres”.
O Fracasso Histórico do Proibicionismo
Essa política de proibição e repressão às drogas, exportada pelos Estados Unidos desde os anos 1980, é um modelo comprovadamente fracassado e funcional apenas aos interesses do imperialismo. Incapaz de enfrentar o tráfico, controlar o mercado ilegal ou reduzir a violência, ela apenas aprofunda o caos: não diminui a criminalidade, coloca em risco a vida de milhares — sobretudo nas favelas — e segue exterminando a população negra das periferias urbanas. Seu antecedente direto, a Lei Seca dos anos 1930, já havia revelado o destino inevitável desse tipo de política: fortaleceu máfias como as de Chicago, expandiu mercados clandestinos e aumentou o consumo de álcool. Mesmo assim, governantes brasileiros continuam presos à mesma lógica repressiva, produzindo mais violência, alimentando o poder de facções e milícias e sem qualquer impacto real na redução do consumo de drogas, que segue sendo uma realidade humana e social, não um problema de polícia.

Imperialismo, Retórica do “Narcoterrorismo” e Hipocrisia
A chacina no Rio de Janeiro promovida pela extrema direita está diretamente ligada à política de Trump, que se esconde atrás do discurso de combate ao suposto “narcoterrorismo”. É sob esse pretexto que os EUA explodem navios na Venezuela e pressionam o Brasil a rotular facções como CV e PCC como organizações terroristas — uma manobra que busca legitimar novas operações imperialistas em território latino-americano. Essa narrativa não tem nada de inocente: ela funciona como cobertura ideológica para expandir a presença militar e econômica dos EUA na região. Mas toda essa retórica é pura hipocrisia. Os verdadeiros narcoterroristas estão em Wall Street, na Casa Branca, na Faria Lima e nos governos e corporações que lucram com lavagem de dinheiro, tráfico de armas, financeirização do crime e com a própria engrenagem militar que alimenta essas guerras. São esses setores, aliados da extrema direita, que realmente se beneficiam da violência que dizem combater — e por isso, além de assassinos, são também mentirosos e profundamente hipócritas. Isso não significa ignorar o grave problema das corporações capitalistas criminosas ligadas ao tráfico de drogas e armas, cujas ramificações ilegais estão em todos os poderes da república e nas cúpulas empresariais do país. Para combatê-los, temos de ter ações de inteligência, controlar as fronteiras e atacar a máfia em todas as escalas da república.

Drogas: Um Fenômeno Humano, Não Policial
Para enfrentar de fato essa questão, é preciso romper com a hipocrisia. As drogas — ou psicotrópicos — existem e são consumidas desde as sociedades mais antigas, seja para fins medicinais, ritualísticos ou recreativos; o uso de substâncias não é uma anomalia social, mas um fenômeno humano. E essa hipocrisia fica ainda mais evidente quando drogas como álcool e tabaco — substâncias de alta dependência — são legalizadas, enquanto outras continuam proibidas: a proibição nunca foi sobre saúde, mas sobre controle social. Isso não significa ignorar que o uso abusivo possa gerar problemas sociais, familiares e episódios de violência; significa reconhecer que tais situações devem ser tratadas como questão de saúde pública, e não como caso de polícia.
Pela Legalização e Redução de Danos
Por isso defendemos a legalização das drogas: antes de tudo, como uma questão essencial de liberdade democrática, mas também porque é o único caminho capaz de reduzir o poder econômico e político do crime organizado, enfrentar o genocídio da juventude negra e periférica, desmontar o encarceramento em massa e fortalecer uma política efetiva de Redução de Danos no SUS. Trata-se de uma abordagem que entende o uso de drogas em sua complexidade humana e social, garantindo cuidado, orientação e proteção. Ao minimizar riscos e ampliar a autonomia das pessoas que não querem ou não conseguem interromper o uso de imediato, a Redução de Danos promove inclusão, não punição. O modelo proibicionista e abstencionista, ao contrário, apoia-se em uma lógica moralista e criminalizadora que alimenta o genocídio produzido pela “guerra às drogas”. Porque, no fim, a guerra real nunca foi contra as substâncias, mas contra o povo negro que sofre chacinas como as do Alemão e da Penha.

