Carta final do Seminario Internacional da UNIDOS e C-CURA

| Realizado em SP nos dias 01 e 02 de Julho

O Seminário Internacional “Os desafios do sindicalismo na Atual etapa da América Latina” convocado pela UNIDOS PRA LUTAR do Brasil e CCURA (Corrente Classista Unitária e Autônoma) da Venezuela, ocorrer num momento em que os trabalhadores e os povos do norte da África, os jovens e operários da Grécia, Espanha e Inglaterra, entre outros, estão mostrando ao mundo que não estão dispostos a pagar pelo preço da crise provocada pelos grandes capitalistas e banqueiros.
No nosso continente, nos últimos anos, fortes lutas e mobilizações enfrentaram e até derrubaram governos que implementaram o projeto neoliberal. Esses importantes processos, ainda que não consolidaram direções classistas e revolucionárias, foram fundamentais para o triunfo eleitoral de forças políticas com um histórico de propostas progressistas, oriundos dos movimentos de esquerda e, em alguns casos, se declarando socialistas.
Infelizmente, ao chegar ao poder, essas forças não avançaram além de pequenas concessões sociais ou democráticas. Na maioria dos casos, ao invés de dar continuidade às lutas que possibilitaram suas vitórias eleitorais enterraram seus compromissos de campanha, reataram as relações com antigos inimigos, se comprometeram a respeitar os contratos com as multinacionais, as grandes empresas e os banqueiros. Além disso, se rodearam de um forte aparato corrupto e burocrático, deixando os trabalhadores e setores populares jogados à própria sorte. Alguns processos como o da Venezuela e Bolívia, que levaram a confrontos reais com o imperialismo, estão em pleno retrocesso.
Ainda que com marcadas diferenças, esta é a realidade no Brasil, Venezuela e Bolívia, entre outros países.
Frente à crise da economia mundial, nesses países os governos também lançaram planos de ajuste. Isso fica evidente no salário insuficiente, nas condições de vida e na falta de acesso a uma educação e saúde que qualidade. A criminalização das lutas está sendo uma constante. Greves são decretadas ilegais, demissões e perseguição dos lutadores e assassinatos de dirigentes e ativistas continuam. A detenção e posterior entrega do ativista sueco-colombiano Joaquim Perez Bezerra ao governo da Colômbia do reacionário presidente Juan Manuel Santos, “novo aliado” de Chavez na região, é um grito de alerta para os povos do continente.
Mas os motivos que provocam as mobilizações e que acabaram derrotando governos anteriores continuam quase intactos. Exemplos disso são o não cumprimento da Agenda de Outubro, que exigia a nacionalização dos hidrocarbunetos, por parte do governo Evo Morales e a não resolução da crise social na Venezuela por meio do chamado “Socialismo do Século XXI” de Hugo Chavez. As inúmeras greves e mobilizações em curso nesses países demonstram a disposição de luta dos trabalhadores. Na Bolívia, além da enorme mobilização popular que derrotou o Gasolinaço, ocorreu uma greve geral com marchas e fechamento de estrada durante 10 dias, protagonizada por mineiros, professores e trabalhadores da saúde, greve que o governo declarou ilegal. Na Venezuela, nos últimos meses se contabilizaram quase 3 mil manifestações de lutas e protestos, ao calor da qual estão surgindo organismos como a FADESS (Frente Autônoma em Defesa do Emprego, do Sindicato e dos Salários).
No Brasil, a poderosa greve da construção civil a partir de jirau se espalhou pelo país inteiro, atingindo mais de 170 mil operários; a posterior paralisação dos trens de São Paulo, com impacto gigante na maior cidade da América Latina e a heroica greve dos bombeiros do Rio de Janeiro, constituem fatos novos da luta de classes, de impacto nacional e que indicam que está se abrindo uma nova dinâmica que estimula a retomada de fortes greves no país.
É hora de construir a unidade ma luta das novas direções combativas, classistas, independentes e autônomas!
Se não se consegue avançar mais no Brasil, na Bolívia ou na Venezuela e nos demais países da América Latina, onde importantes greves estão acontecendo, é pela traição das velhas e novas direções sindicais cooptadas pelos governos. Também são um empecilho para esse avanço, para desenvolver a lutas, as corentes de esquerda que privilegiam a preservação e do controle de aparelhos e cargos desmerecendo os interesses dos trabalhadores.
Mas em cada luta, novos e amplos setores começam a se rebelar contra esses dirigentes e a se organizar de forma independente dos governos e dos aparelhos sindicais que estão a seu serviço. Isso demonstra que estamos diante de um novo período favorável para a mobilização independente da nossa classe. Nesses processos devemos atuar para tentar unificar e coordenar essas lutas e greves, levar a mais ampla solidariedade e ajudar para que sejam vitoriosas em qualquer parte do mundo. Nesse caminho batalhar para construir uma nova direção sindical independente e autônoma dos patrões, mas também de todos os governos.
Esse é o desafio e a tarefa que nós, trabalhadores e trabalhadoras, presentes neste Seminário Internacional, nos comprometemos a defender para que os trabalhadores não paguem pela crise.
São Paulo, 2 de Julho de 2011
UNIDOS PRA LUTAR – BRASIL
C-CURA – VENEZUELA