França: A derrota de Sarkozy

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26-04-2012 – Por Miguel Lamas

Nicolas Sarkozy, o presidente direitista da França, foi derrotado no primeiro turno nas eleições francesas e provavelmente também perderá o segundo turno. Houve um voto castigo contra um dos chefes do plano de austeridade que pretende fazer com que os trabalhadores da Europa paguem pela crise.

Sarkozy perde as eleições depois de aplicar ajuste contra os trabalhadores e o povo

Sarkozy e a alemã Ângela Merkel, são os chefes do capitalismo da “Zona do Euro”, encabeçando planos de ajuste para favorecer aos banqueiros e arrebentar as conquistas operárias na Europa.
Inúmeras greves enfrentaram Sarkozy na França. Porém conseguiu manter seu plano graças a que a classe trabalhadora possui uma direção burocrática, fundamentalmente do Partido Comunista Françês e, em menor medida, o Partido Socialista. Além de frear a luta, essas organizações, impediram que se apresentasse uma perspectiva revolucionária para derrubar Sarkozy, canalizando tudo para o processo eleitoral.

Ao chegar às eleições, o que predominou foi claramente o voto castigo. Francois Hollande (PS), o vencedor, também capitalizou o “voto útil” para castigar o governo. É necessário recordar que o PS já não tem nada de socialista e que sua campanha se baseou em dizer que a austeridade é “necessária”, porém com mais explicações e frases soltas contra os banqueiros. O PS já governou muitas vezes até 2002 e foi o impulsionador de planos de austeridade, claro que em outra situação econômica muito distinta da atual, marcada pela crise aguda do capitalismo europeu.

O voto castigo também se expressou na ultra-direita semi-fascista de Le Pen, que obteve seu melhor resultado histórico com um discurso demagógico, falando contra os imigrantes e as multinacionais.

A centro-esquerda decepcionou. A candidatura de Jean Luc Melenchón, da Frente de Esquerda (PC, Partido de Esquerda e outros) possuía um discurso reformista ambíguo, falando de “insurreição cidadã” e reivindicando Hugo Chaves. Melenchón só conseguiu capitalizar os votos clássicos da esquerda com o argumento da unidade e o voto útil, ao mesmo tempo em que relegou as candidaturas da “extrema esquerda” do NPA(Nova Partido Anticapitalista) e LO a um lugar marginal.

O NPA

Neste marco, é importante o que aconteceu com o NPA (Novo Partido Anticapitalista) que foi fundado em 2008 pela antiga Liga Comunista Revolucionária, organização que se reivindicava trotskista. O NPA surgiu como um partido amplo supostamente capaz de superar o sectarismo e a marginalidade da esquerda. Para isso abandonou seu programa de luta por um governo dos trabalhadores, convertendo-se assim em uma variante reformista de esquerda.

É importante recordar que na França chegou a ocorrer uma alta votação nos partidos de origem trotskistas nas eleições presidenciais de 2002 (LCR 4,25%, Luta Operária 5,72% e PT 0,47%, somando 10,44%). Nas presidenciais de 2007 esse resultado diminuiu, sendo que a LCR obteve o melhor resultado entre a esquerda com 4,08%. Em seguida, já como NPA, essa porcentagem aumentou para quase 5%, num contexto de alta abstenção nas eleições européias.

O NPA não teve política unificada diante das greves e centrou sua atuação no terreno eleitoral. Isto, no entanto, não serviu para ganhar votos. Ao contrário: o balanço desses quatro anos de NPA, seu giro até o reformismo eleitoralista, em meio da crise econômica e agudização da luta de classes, o fez perder dos terços de seus militantes e de seus votos. O NPA tinha 9000 militantes em sua fundação e hoje possui 3000. E o que é pior é que deixaram de ser uma opção revolucionária para a classe operária.

O terceiro turno

Depois do segundo turno, que seguramente será ganho pelo PS, provavelmente virá o “terceiro turno”, com novas lutas sociais, já que o PS não dará nenhuma solução aos problemas dos trabalhadores e do povo. Nesse marco é importante a discussão que se abriu no interior do NPA e de outros setores de esquerda. Mas do que nunca na França é necessária uma esquerda revolucionária, colada na luta operária e popular, para acabar com os planos de austeridade e os governos capitalistas.

Resultados
Hollande (PS) ………………………….. 28,63%
Sarkozy …………………………………. 27,18%
Le Pen …………………………………… 17,90%
Melenchon (Frente de Esquerda) ………..11,11%
Bayrou ("centro") ……………………….9,13%
NPA ………………………………………. 1,29%
LO (Luta Operária) …………………….. 0,65%