Contribuição para a atuação do PSOL Santa Maria em 2021

O presente texto é uma contribuição da Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores (CST, tendência interna do PSOL) à primeira plenária do PSOL Santa Maria/RS neste ano de 2021. A partir de sua atuação eleitoral na última eleição o nosso partido teve um importante crescimento, e esperamos contribuir para que ele tenha uma atuação correta na luta de classes e consiga se postular como uma alternativa de esquerda e socialista para a classe trabalhadora santa-mariense.

Cresce a indignação contra o governo Bolsonaro

A nível nacional, o ano de 2021 começa com o aprofundamento das duas pandemias: a pandemia da Covid-19 e a pandemia social. Depois da curva de mortes pelo vírus ter diminuído um pouco no final do ano passado, voltamos a ter um crescimento após as festas de final de ano, com o Brasil ultrapassando a marca das 200 mil mortes. Nesse contexto, a tragédia mais brutal foi o caso do colapso do sistema de saúde em Manaus, que gerou uma campanha de solidariedade por todo o país com agitações nas redes sociais e panelaços. Para boa parcela da população, está mais do que evidente que o governo Bolsonaro é o principal culpado pela tragédia humanitária que atinge o país por todo o seu discurso negacionista em relação à pandemia e pelo total descaso que tem tratado a questão da necessária e urgente vacinação. Não é à toa que a rejeição do governo voltou a crescer neste início de ano.

Por outro lado, no campo econômico, a classe trabalhadora vê o seu nível de vida piorar a cada dia que passa. O preço dos alimentos sobe, enquanto o salário não acompanha. Vemos o alto nível de desemprego e os trabalhos precários. O auxílio emergencial de 600 reais, que já era muito pouco, caiu pela metade no final do ano de 2020, e nem foi renovado para 2021. Bolsonaro e seus aliados argumentam, cinicamente, que não há dinheiro, que o país está quebrado, mas destinam trilhões de reais para os grandes bancos capitalistas. A crise econômica capitalista, que vem se arrastando há anos e já é a maior da história, está arrasando com o povo brasileiro, como demonstrado pelo recente anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil, que irá gerar a perda de milhares de empregos diretos e indiretos. A mesma Ford que se beneficiou das isenções fiscais que recebeu dos governos capitalistas para operar no país, agora decide ir embora e deixar os trabalhadores no olho da rua.

A falta de uma oposição consequente gera ilusões na direita clássica

Enquanto Bolsonaro se afunda na crise e vê a rejeição aumentar, a oposição da direita “clássica” tenta aparecer como uma alternativa, se utilizando de discursos oportunistas. O maior exemplo é João Doria, governador de São Paulo, aproveitando o espaço midiático gerado pelas notícias das primeiras vacinações no estado. Foi esse o setor que teve o maior crescimento nas eleições municipais de 2020 e do qual o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, fazem parte.

No entanto, esse setor não representa nenhuma alternativa para os explorados e oprimidos. Basta lembrar que durante toda a pandemia eles foram cúmplices do governo Bolsonaro ao negar a quarentena geral, liberando as atividades econômicas nos estados e municípios e enviando os trabalhadores para o abate, apesar de, no discurso, não terem a mesma postura negacionista da extrema direita. No terreno econômico, possuem total acordo com a agenda de ataques aos trabalhadores defendida pela burguesia. Rodrigo Maia (DEM), outro representante desse setor, foi o principal articulador do ajuste fiscal e dos ataques dentro da Câmara dos Deputados e também não mexeu um dedo para colocar em discussão o impeachment de Bolsonaro, mesmo já tendo mais de 50 pedidos protocolados.

Por isso, cometem um grande erro os setores da esquerda que enxergam a direita “clássica” como aliada contra o governo Bolsonaro, chegando ao ponto de apoiarem Baleia Rossi (MDB), candidato de Maia, para a presidência da Câmara e abdicarem de um polo de independência de classe. Essa direita apenas se postula com uma alternativa pois surfa na indignação contra Bolsonaro, enquanto os setores considerados de esquerda, como o PT e o PCdoB, responsáveis por dirigir as principais entidades da classe trabalhadora e estudantil (CUT, CTB, UNE) apostam em uma linha de conciliação de classes, a chamada “frente ampla”. Não impulsionam e nem unificam as lutas e aguardam passivamente as eleições de 2022. Por isso, é preciso exigir que esse setor rompa a trégua que tem dado ao governo e construa uma oposição de verdade nas ruas, colocando o seu peso a serviço da concretização do calendário de lutas aprovado no dia 26 de janeiro, pela plenária virtual dos movimentos sociais com as frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular, centrais sindicais e outras entidades.

O PSOL precisa colocar o seu prestígio eleitoral a serviço da luta

Do lado da esquerda, o PSOL foi o partido que mais cresceu eleitoralmente em 2020. Além de eleger diversos parlamentares, com destaque para as feministas, trans, negros e negras, elegeu Edmilson Rodrigues em Belém e fez sua melhor campanha em São Paulo com Guilherme Boulos. Agora, enquanto PT, PCdoB e PDT apoiaram Baleia Rossi, o PSOL, corretamente, lançou a candidatura de Luiza Erundina para a presidência da Câmara. Isso coloca uma grande responsabilidade para o partido, que precisa saber utilizar esse prestígio a serviço das lutas da classe trabalhadora contra o governo Bolsonaro e a retirada de direitos. A atuação parlamentar é importante, mas o centro da política segue sendo a disputa nas ruas e nos locais de trabalho.

É necessária a unidade de ação da classe trabalhadora para derrotar Bolsonaro, a retirada de direitos, as demissões, conquistar a permanência do auxílio emergencial e a vacinação para todos e todas. Para isso, as principais entidades da classe precisam entrar em movimento, assim como todos os partidos de oposição e movimentos sociais. O PSOL, ao invés de centrar todos os esforços no parlamento, precisa ter como eixo uma política de exigência para que as direções do PT e do PCdoB utilizem seu peso nas entidades para organizar um calendário de lutas, sem datas dispersas e confusas, mas dias de luta unificados e fortes, junto com uma campanha de solidariedade aos operários da Ford, que é hoje o principal fato da luta de classes no país.

E, nesse processo, é necessário defender como saída um programa emergencial alternativo, que faça com que os capitalistas paguem a conta da crise, através da suspensão do pagamento da dívida pública, a taxação das grandes fortunas e a destinação desses recursos para as áreas sociais, como a educação e saúde públicas e manutenção e ampliação do auxílio emergencial; defender o funcionalismo público, se opondo à reforma administrativa e defendendo um plano de obras públicas com concursos para gerar empregos; defender a reposição das perdas salariais, acompanhando a inflação, e redução das jornadas de trabalho sem redução salarial, garantindo mais postos de trabalho. Além disso, é preciso defender a quebra das patentes das vacinas, garantindo que toda a população tenha acesso à vacinação contra a Covid-19.

E em Santa Maria?

Em Santa Maria, o PSOL saiu fortalecido da última eleição municipal. Apesar da debilidade de não ter conseguido lançar uma candidatura à prefeitura, teve a candidatura de vereadora mais votada da cidade, com a companheira Alice Carvalho, militante da Comuna, que, infelizmente, acabou não sendo eleita pelas regras eleitorais burguesas. Porém, foi uma campanha que, aliada ao desempenho nacional do PSOL, colocou o partido em destaque, gerando um aumento no número de filiados. Ainda, no segundo turno da eleição, o PSOL não tremeu diante da falsa polarização entre Pozzobom (PSDB) x Cechin (PP) e manteve sua independência de classe, denunciou corretamente que ambos os candidatos eram inimigos dos trabalhadores e não representavam nenhuma alternativa. Isso coloca o partido em possibilidade de cumprir um papel importante nas lutas em curso.

O PT e o PCdoB em Santa Maria, assim como a nível nacional, adotam a linha da frente ampla. O PT elegeu 3 vereadores e o PCdoB 1 na última eleição, mas até agora não foram capazes de utilizar esses mandatos para organizar nenhuma mobilização na cidade. Mesmo as carreatas contra Bolsonaro que ocorreram em diversas cidades a nível nacional na segunda metade de janeiro, não ocorreram em Santa Maria. Seus parlamentares até agora só foram capazes de articular uma candidatura para a presidência da Câmara de Vereadores junto com setores da direita local (assim como fizeram nacionalmente). Infelizmente, os principais sindicatos da cidade, particularmente os do funcionalismo público (que tem peso especial em Santa Maria), são dirigidos por esses partidos, e não possuem como eixo político o desenvolvimento de espaços unitários para impulsionar a mobilização. Isso se torna ainda mais gritante com a quantidade de ataques que afetarão diretamente o funcionalismo público, como a reforma administrativa e a ameaça constante de retorno das aulas presenciais sem vacinação.

O PSOL de Santa Maria, a partir de sua militância e figuras públicas, precisa defender a unidade de ação da classe trabalhadora, exigindo dos partidos da oposição a organização efetiva de um calendário de lutas com espaços unitários de construção. Ao mesmo tempo, é preciso superar a conciliação de classes e construir um polo socialista que defenda a independência de classe e que seja capaz de, ao calor das lutas, construir um programa alternativo que aponte para a solução dos problemas mais urgentes da classe trabalhadora e do povo. Para a construção dessa alternativa, defendemos que o PSOL chame uma reunião com o PCB e o PSTU para pensar uma atuação conjunta na luta de classes.

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