Na linha de frente: Entrevista com Zila Camarão, servidora do Hospital Barros Barreto

 

“Pela produção da vacina brasileira e que tudo seja 100% público”

 

Em meio ao avanço da crise sanitária, muito se fala, mas pouco se ouve a voz das trabalhadoras que estão na linha de frente dos hospitais. Para compreender melhor a situação das profissionais da saúde, entrevistamos a companheira Zila Camarão, do Hospital Barros Barreto (Belém-PA).

1- Nesta segunda onda, qual a situação nos hospitais? É verdade que faltam leitos e EPIs?

R: Infelizmente, a situação nos hospitais é bastante complicada. Estamos novamente com filas para leitos de UTI. Em 25 de março deste ano, eram 6371 pessoas esperando para serem internadas. Os profissionais também relatam falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Em Belém (PA), onde moro e trabalho, não se consegue leitos nem nas redes pública e nem na particular. E, mesmo assim, o governador Helder Barbalho (MDB) e o prefeito da capital, Edmilson Rodrigues (PSOL), não mantiveram o lockdown. A situação é desesperadora, estamos cansados. O Conselho Nacional de Enfermagem denunciou que março foi o mês com maior número de óbitos de profissionais da saúde de toda a pandemia: morreram 144 colegas da linha de frente em todo o país. Isso é responsabilidade do Bolsonaro, que cortou em 72% as verbas para leitos de UTI do ano passado para agora e mantém um discurso negacionista, que incentiva as pessoas a irem às ruas, a não usarem máscaras e a não se vacinarem. Sem contar na imensa debilidade do Programa Nacional de Vacinação.

2- Qual sua opinião sobre a compra de vacinas pelos grandes empresários e a vacinação privada?

R:  No mínimo é imoral. O sistema de prioridades na vacinação também vem de um estudo e organização para que todas as camadas da sociedade sejam contempladas. E, com a compra de vacinas por empresários, o que teremos é um agravamento das desigualdades, haja visto que o governo federal não tem garantido vacinação massiva para todos e todas. Trabalhadores e trabalhadoras, moradores das periferias, os que não têm acesso e não podem pagar, serão os últimos a serem vacinados, e muitos pagarão com a própria vida. Temos que repudiar essa tentativa de privatizar a vacinação. É necessário lutar pela quebra das patentes das vacinas para garantir produção em massa, pela produção da vacina própria brasileira e que tudo seja 100% público e gratuito.

3- A Fiocruz e o Butantan estão produzindo vacinas no país. Este último, inclusive, terá uma vacina própria. Qual o papel dos centros de pesquisa, universidades e o serviço público em geral nesta pandemia?

R: Mais uma vez, os centros de pesquisas, universidades e servidores públicos foram atores principais na defesa da saúde e da assistência no país. Por esse motivo, o SUS e os serviços públicos em geral devem ser defendidos como prioridade pela população brasileira. Agora, em meio à pandemia, o governo aprovou a PEC Emergencial que congela os salários dos servidores em 15 anos. Bolsonaro, Doria, Helder e todos esses partidos burgueses do Congresso querem aprovar também a Reforma Administrativa para privatizar de vez os serviços públicos, acabar com concursos e com a estabilidade, fazendo dos serviços que sobrarem verdadeiros cabides de empregos para suas bases eleitorais. Não podemos permitir que isso aconteça. Temos que organizar uma forte campanha contra essas reformas, pela revogação da PEC do Teto e de todos os ataques feitos aos serviços e aos servidores públicos.

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