Contribuição da Corrente Sindical Combate à reunião da Coordenação Nacional da CSP-CONLUTAS

1- No dia 29 de maio ocorreu uma imensa jornada nacional de lutas, as maiores mobilizações da pandemia. A indignação popular manifestada nas ruas expressa uma resposta ao aprofundamento da crise econômica e social e o agravamento da pandemia. Essa jornada expressou, de forma particular em nosso país, as mobilizações internacionais. A rebelião popular na Colômbia, a greve geral palestina, bem como os processos Chileno, Peruano e Paraguaio.

2- O governo Bolsonaro/Mourão, seus ministros militares e seu projeto ultrarreacionário sofreram um fortíssimo ataque no dia 29 de maio. Depois de muito tempo voltaram a ser convocadas passeatas contra Bolsonaro o resultado foi mais que positivo, já que até então apenas a extrema direita era a força social organizada nas ruas. No dia 29 fortes manifestações rechaçaram o conjunto da política da extrema direita. A crise na cúpula burguesa, que se ampliou em meio aos atos de rua, vai prosseguir no congresso nacional e durante a CPI. Mais do que nunca devemos batalhar pela continuidade das lutas, em novas jornadas nacionais e para isso teremos de, em meio a unidade de ação ampla e irrestrita, enfrentar os pelegos e os burocratas.

A cúpula da CUT jogou contra o movimento e não quer sua continuidade

3- Uma das maiores lideranças da oposição e de um amplo setor do movimento de massas, o ex-presidente Lula não jogou nenhum papel a favor do dia 29. Não o divulgou e nem sequer o comentou. Mesmo papel jogou a cúpula nacional da CUT, a maior central do país. Apesar de uma ou outra inflexão parcial e local, a política da direção majoritária da CUT foi de dispersar. Durante a III plenária de organização das lutas populares (da campanha fora Bolsonaro), realizada no dia 11/05, o atual presidente da CUT ainda falava da necessidade de “atos simbólicos”, ou seja, estava contra a convocação do dia 29 através de passeatas. Após a convocação do dia 29 a linha da direção majoritária da CUT foi jogar peso no “calendário” do dia 26, que não passou de uma movimentação para dispersar forças nas vésperas do dia 29.

4-A nota da CUT, sobre os atos do dia 29, não convoca bem a manifestação e tenta colocar medo nas bases. Orienta construir os atos “de forma que não provoquem aglomerações e exponham nossos militantes e trabalhadores e trabalhadoras das nossas entidades ao risco de contrair Covid-19”. A nota termina de forma catastrofista “Precisaremos de todos vivos para vencermos todas as batalhas que ainda serão travadas” (verhttps://www.cut.org.br/noticias/nota-da-cut-sobre-o-ato-fora-bolsonaro-que-sera-realizado-neste-sabado-29-b65d). Se essa orientação da direção majoritária da CUT fosse aplicada o dia 29 não teria ocorrido. Felizmente predominou uma outra linha: a de que “o governo é mais perigoso do que o vírus” e precisamos ir para as ruas enfrentar o governo genocida da extrema direita. Estar preocupado com o vírus e garantir protocolos sanitários nas manifestações é totalmente correto e todos estamos a favor, bloquear os protestos e jogar medo na base é outra coisa: um desserviço a mobilização unitária.

5-Exatamente por isso estão erradas as organizações da nossa Central que defendem uma frente ampla, tal como o fazem os camaradas da Resistência/PSOL e setores do movimento docente universitário. Dirigentes da frente ampla como Lula e a direção majoritária da CUT mostraram seu papel de conciliação e freio das lutas, visando coligações com partidos burgueses. Um exemplo, do que são esses governos da frente ampla é o governo de Pernambuco (PSB/PCdoB) cuja PM reprimiu brutalmente a manifestação de Recife. Uma ação muito truculenta que deixou duas pessoas cegas, por tiro de bala de borracha.

6- Um dado positivo é que em maio as batalhas para concretização do dia 29 surgiu a articulação Povo na Rua, envolvendo UP, MÊS, PCB, o mandato do deputado Glauber, a qual nós do Combate (CST e independentes) integramos. Essa articulação nacional se colocou a serviço de unificar os setores que estavam lutando por uma efetiva jornada nacional e unificada nas ruas. Ajudou a coesionar os que já batalhavam por uma data única, sem dispersão, e abraçou com forças a construção do dia 29. Jogou, portanto, um papel ativo e positivo. E seguiu essa batalha após o dia 29 de maio através da luta pela continuidade das manifestações de rua, colocando a imensa assembleia nacional do povo na rua a serviço do dia 29. E isso é importante porque até então ainda muitos vacilavam ou duvidavam do dia 29 e mesmo da necessidade de continuar protestando. Uma articulação heterogênea e embrionária, que também tem limitações e erros, como, por exemplo, ter negado a palavra ao PSTU na assembleia do dia 1. Uma posição que rejeitamos, juntamente com outras organizações da CSP-CONLUTAS que lá estão, como os companheiros do MES, defendendo o uso democrático da palavra no espaço. Na próxima assembleia do Povo na rua devemos seguir batalhando pelo espaço democrático ao PSTU, e quem mais deseje falar nessa articulação, e para que a CSP Conlutas seja incorporada ao polo.

A nossa Central não estava bem armada para esse processo

7-Infelizmente a nossa central, a CSP-CONLUTAS, não estava bem armada para esse processo. No último momento, teve de se relocalizar e convocar os atos do dia 29. Esse giro, mudando a linha da etapa anterior, foi correto e deve ser mantido para além do dia 19. De todo modo, como se trata de uma mudança grande é importante processar um debate sobre as últimas Coordenações nacionais. Até então a linha era a negação da convocação de atos de rua. Um exemplo era a afirmação da maioria da direção da central de que convocar manifestação era mesma coisa que “levar a classe para o matadouro”, uma linha que se demonstrou equivocada.

7.1-Chamar a classe para lutar nas ruas não poderia ser comparado a colocar os trabalhadores para o abate. Muito pelo contrário. Na verdade, não ocupar as ruas contra o governo da extrema direita é o que leva a classe para o matadouro. Se comprovou que era e continua sendo correto convocar atos de rua em meio a pandemia. Aliás foi o que fizeram, em 2020, os movimentos negros (para não morrer de bala, de Covid ou de fome), os entregados dos Apps (por reivindicações sociais e sanitárias), os trabalhadores dos correios, e mais recentemente em 2021 os protestos de justiça para Jacarezinho e contra os cortes na UFRJ.

A linha anterior confundia os necessários cuidados sanitários com ausência de convocação de mobilização de rua, como vimos em suas defesas em vários fóruns do movimento (exemplos da FASUBRA ou SEPE/Rj). Sabemos que em meio à pandemia temos que tomar medidas adequadas e para isso podemos criar comissões sanitárias, formadas por sindicatos e médicos, para nossas manifestações (em grande medida foi o que foi feito nos atos da coalizão negra e fortemente no dia 29). Essa linha de não convocar, foi amplamente majoritária nos fóruns da Central. Citamos, por exemplo, a penúltima Coordenação Nacional onde nós do COMBATE (CST e independentes) apresentamos um destaque a resolução nacional, propondo que a Central convocasse atos. Infelizmente todas as forças e chapas votaram na linha majoritária de não convocar. E foi por isso que a CSP-CONLUTAS teve que dar um giro e se relocalizar, felizmente de forma correta, mas apenas na véspera do ato.

7.2- Essa linha majoritária na nossa Central, levou a CSP-CONLUTAS, as limitações e erros em algumas categorias, como não se jogar na luta da FORD. Do mesmo modo isso levou, a baixar a guarda na linha de unidade-enfrentamento com a cúpula das centrais majoritárias e em sindicatos como em Bancários do Rio (ver contribuição a última CN da nossa Centralhttps://www.cstuit.com/home/index.php/2021/03/05/as-tarefas-da-csp-conlutas-em-meio-a-crise-nacional/).Além de manter o giro já realizado em direção a convocação dos protestos devemos mudar a linha nas categorias, construindo polo antiburocráticos contra os pelegos da cúpula da CUT, CTB, UGT, Força Sindical.

7.3- Além disso, a mudança de linha é correta pois a orientação anterior estava em contradição com a própria realidade da maioria da classe trabalhadora em geral, e em especial do operariado fabril, enviado ao matadouro pelos governantes, sendo obrigados a trabalhar no pico da pandemia. Não por acaso, um dos principais sindicatos de nossa central, o Sindicato dos Metalúrgicos de SJC dos Campos, ao construir a greve das operárias das fábricas ligadas a LG teve de corretamente convocar passeatas.

Unidade de ação ampla e irrestrita e ao mesmo tempo enfrentar os pelegos

8- Essa discussão visa tirar conclusões e armar mais a fundo a atual giro da nossa Central. Isso é importante porque a cúpula pelega das centrais majoritárias não está a favor de continuar a luta e nossa central não pode baixar a guarda. A recente nota das Centrais sindicais é um exemplo do que precisamos superar. Após a convocação do dia 19 as centrais lançam um nota em que “convocam mobilização para 18 de junho e apoiam Fora Bolsonaro no dia 19”.Convocam outra data, diferente do dia 19, na véspera de sua realização, para dispersar. Isso ocorre porque na cúpula das centrais não há consenso em construir o dia 19. Seja pela Força Sindical que diretamente estava contra publicamente, seja por parte da CUT que tenta colocar medo em suas bases ao mesmo tempo que formalmente diz que convoca. Dizemos formalmente por que até agora não há assembleia de base dos sindicatos da CUT para construir com as categorias o dia 29. E a linha da nota atual é a mesma que a CUT tentou utilizar antes do dia 29, para buscar evitar mobilizações massivas.

8.1-Nossa Central assinou essa nota, sem nenhum diferenciação (ver http://cspconlutas.org.br/2021/06/centrais-sindicais-realizam-assembleias-e-agitacao-no-dia-18/), como se não estivesse em disputa a convocação ou não do próprio dia 19. Somos completamente a favor de nossa central participar de todos os fóruns de unidade de ação e dos fóruns com todas as centrais sindicais, mas dentro deles devemos ter um perfil próprio e após eles seguir a disputa e o enfrentamento contra os pelegos. Um exemplo é que poderíamos exigir que o próprio dia 19 fosse um dia de atrasos, paralisações, assembleias ou panfletagens nas categorias para batalhar de forma concreta pela entrada em cena da classe trabalhadora e do setor operário nas jornadas, no espírito da greve da PBIO, da paralisação de trabalhadores terceirizados da Petrobras e da luta dos Garis de São Paulo por vacina. Ao mesmo tempo batalhar contra as manobras de dispersão típicas dos pelegos. No sábado há inúmeras categorias trabalhando e isso sim fortaleceria a unidade de ação num dia centralizado, sem dispersar forças e sem criar calendários de última hora.

9- Entendemos que essa Coordenação Nacional deve canalizar todas as suas forças para a construção do dia 19. Realizar e exigir assembleias nos sindicatos, realizar uma forte agitação divulgando a data do protesto e os locais de concentração das manifestações. Há descontentamento e bom clima para construir os protestos, mas a data do dia 19 não está bem divulgada. Por isso, as panfletagens, visitas aos locais de trabalho, colaços, devem ser intensificadas. Defendemos que a resolução aprovada por essa coordenação nacional precisa expressar a construção dessa data como uma das tarefas principais da central batalhando pela continuidade dos atos.

9.1Ao lado de mover massivamente os que já estão na oposição e querem se manifestar contra Bolsonaro devemos dialogar com paciência com os trabalhadores que ainda não tenham completado a experiência com Bolsonaro, tentando trazê-los para nosso lado e para as manifestações, realizando também uma explicação paciente partindo dos temas econômicos e sociais que tem muita entrada nesse setor do proletariado, pois essa é a ponte para levá-los mais a conclusão de que o atual governo é o responsável.

9.2-Do ponto de vista das reuniões das centrais ou espaço unitários como a plenária de organização das lutas populares, propor que a continuidade das lutas e uma próxima jornada nacional com atrasos, paralisações, operação tartaruga, assembleias, nos locais de trabalho no mesmo dia da manifestação de rua. Uma batalha visando a construção mais a frente de uma greve geral por salário, auxílio, emprego, vacina e fora Bolsonaro e Mourão. A Resolução aprovada por essa coordenação nacional precisa expressar essa política é a principal tarefa da central é a mobilização das categorias para o 19J e a batalha pela continuidade da unidade de ação nas ruas.

9.3- No âmbito da campanha fora Bolsonaro, propor que a V plenária de organização das lutas populares ocorra em nível nacional e estadual, com a escolha de delegados eleitos em assembleias dos sindicatos e movimentos sociais para que a base possa definir os rumos da nossa luta e o próximo calendário nacional de lutas após o dia 19J.

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