Contra-ofensiva ucraniana coloca Putin contra as cordas

Por Josep Lluis del Alcázar, dirigente de Luta Internacionalista (Estado Espanhol) e da UIT-CI*

 

A contra-ofensiva militar ucraniana de setembro permitiu a recuperação de mais de 8.000 km2 de território. A retirada russa da área de Kharkiv, de forma precipitada e abandonando material militar, provocou reações controversas na Rússia. Desde setores que exigiram que Putin decretasse estado de guerra e mobilização geral, cobrando publicamente medidas contra os oficiais que comandavam as tropas russas, até 84 deputados que pediram a renúncia de Putin.

A retirada russa – a segunda após o abandono da frente de Kiev – enredou Putin em suas próprias contradições. Em fevereiro, ele se recusou a declarar estado de guerra por medo da reação popular. Os problemas de recrutamento tornaram-se um pesadelo para Putin. A ponto de ter que recorrer ao Grupo Wagner, empresa de mercenários que também operou na Síria, para contratar prisioneiros comuns. Buscaram contratar pessoas diretamente nas áreas mais pobres e periféricas da Rússia. Entretanto, o contingente foi manifestamente insuficiente para as operações de guerra.

A taxa de deserções no exército tem aumentado. Os contratos assinados pelos que se alistam para ir ao front permitem a rescisão unilateral em tempos de paz, e supostamente não há guerra. Há uma completa desmoralização nas tropas russas, que não entendem por que têm que lutar contra aqueles que sempre consideraram como irmãos e que até têm familiares em comum. Por outro lado, o fator moral sempre esteve em alta no povo ucraniano, que se uniu para defender seu país, suas terras, suas casas, contra a invasão de uma potência capitalista que busca dominá-los.

Em 20 de setembro, a Duma russa modificou o código penal para endurecer as punições para deserção ou rendição, para forçar os soldados a lutar. Também introduziu artigos como a mobilização geral, a lei marcial e o estado de guerra. Na quarta-feira, Putin impôs por decreto a mobilização de 300.000 reservistas e avisou que está disposto a lutar com todos os russos, e mesmo com armas nucleares.

Mas a reação à mobilização parcial não tardou e em 40 cidades, em todas as regiões russas, houve manifestações contra o decreto de Putin. A resposta foi a repressão, com mais de 1.400 prisões. Outra reação popular foi o crescimento das filas em busca de passagens para viajar aos países vizinhos, para evitar uma possível convocação à guerra.

Mesmo assim, Putin está acelerando a anexação de todos os territórios ocupados na região de Donbas (Luhansk e Donetsk), Kherson e Zaporizhzhya, forçando novos referendos entre 23 e 27 de setembro, para aprovar a incorporação à Federação Russa. Já fez isso em 2014 na Crimeia. Com essa manobra fraudulenta, tenta legitimar tais áreas como território russo e qualificar qualquer ataque a esses locais como “um ataque à Rússia”. Rejeitamos esses referendos fraudulentos. Esses territórios fazem parte da nação ucraniana e se tornaram enclaves russos sob ocupação militar, como aconteceu com a Crimeia.

Nós, da UIT-CI, defendemos a multiplicação da solidariedade com os/as manifestantes russos/as, que se opõem à política criminosa de Putin. Chega de repressão aos protestos na Rússia! Pela libertação imediata dos/as presos/as políticos/as e das centenas de detidos por protestarem contra a guerra na Ucrânia.

Exigimos que os governos europeus concedam o direito de asilo aos soldados russos que abandonarem a frente de combate e aos opositores do regime de Putin.

Reafirmamos nossa solidariedade com o povo ucraniano em sua luta contra a invasão russa. Continuaremos a apoiar a esquerda política e sindical ucraniana, que luta contra o invasor russo sem apoiar o governo de Zelensky ou a OTAN.

22 de setembro de 2022

 

*Foi membro da delegação da UIT-CI que viajou a Kiev no mês de maio, para entregar ajuda solidária a setores da esquerda ucraniana.

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