Haiti: não à nova ocupação militar estrangeira, fora imperialismo!

Por Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional

No dia 2 de outubro, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio de uma missão militar contra o Haiti. A resolução – promovida pelo imperialismo norte-americano – foi aprovada com 13 votos favoráveis ​​e com a cumplicidade da Rússia e da China, que se abstiveram para permitir a sua aprovação. O endosso do Conselho de Segurança visa dar um verniz de legalidade a este novo ataque contra o direito à autodeterminação do povo haitiano. Defendemos uma campanha internacional de solidariedade com o povo haitiano e pela expulsão das tropas estrangeiras do BINUH [Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti] e do Core Group [organização intergovernamental informal envolvida na política do Haiti, composta por representantes da ONU, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Espanha, União Europeia, Estados Unidos e OEA]. E por uma saída operária e popular para a crise.

A missão – que será liderada pelo governo pró-ianque do Quênia – não resolverá nenhum dos problemas que o Haiti enfrenta. Na verdade, a intervenção e a interferência imperialistas têm sido uma das principais causas da crise, endossando fraudes eleitorais e apoiando governos de direita e mafiosos. A abstenção da China e da Rússia demonstrou mais uma vez a sua cumplicidade com o imperialismo norte-americano na agressão contra o Haiti. Ambos os governos permitiram prorrogações sucessivas do mandato do BINUH, o escritório permanente da ONU no Haiti. Além disso, a China participou diretamente, com centenas de policiais, da MINUSTAH [Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti].

O imperialismo norte-americano – depois das derrotas políticas e militares sofridas no Iraque e no Afeganistão, e assustado com a força da revolta social da juventude afrodescendente de 2020 – decidiu não enviar tropas diretamente para o Haiti. Convenceu outros governos a fazê-lo. Não conseguiu que o Canadá liderasse a missão e, finalmente, em troca de 200 milhões de dólares em ajuda militar, persuadiu o Quênia a enviar mil policiais. Outros governos pró-imperialistas – como os da Jamaica, de Antígua e Barbuda e das Bahamas – estão dispostos a enviar contingentes ainda menores. Está sendo arregimentada uma tropa muito menor do que a aglutinada na MINUSTAH, que contou com mais de 12.000 soldados e policiais.

O tráfico de drogas para os EUA financia em grande medida a compra de armas, que fluem do território estadunidense para o Haiti e armam as gangues que controlam a maior parte da capital haitiana. Muitas dessas armas passam pela República Dominicana, país dominado por um regime que é um lacaio incondicional dos EUA e que também vem defendendo uma invasão contra o Haiti junto à OEA e à ONU.

O Haiti sofreu com a presença de tropas estrangeiras e de missões da ONU durante a maior parte dos últimos trinta anos. Esta será a décima missão aprovada neste período, incluindo 13 anos de ocupação da MINUSTAH, que deixou milhares de mortos em consequência da repressão e da disseminação de uma epidemia de cólera por soldados nepaleses. Todas essas missões consumiram bilhões de dólares, que poderiam ter sido aplicados na produção de alimentos e na garantia do acesso à água e à electricidade para milhões de pessoas, mas serviram apenas para reforçar o poder de uma pequena oligarquia de capitalistas mafiosos, hoje representada pelo governo ilegítimo de Ariel Henry.

O povo haitiano rejeita a intervenção imperialista, que só conta com o respaldo de alguns setores da burguesia. Acreditamos que a solução para os problemas de fundo do povo haitiano virá das mãos de um governo das organizações operárias e populares do país.

Apoiamos as exigências das organizações populares e de esquerda do Haiti, como o Movimento Socialista dos Trabalhadores Haitianos, que lutam pelo fim da interferência imperialista e pela dissolução do BINUH e do Core Group. Nesse sentido, denunciamos especialmente a hipocrisia pró-imperialista do governo brasileiro de Lula, que continua a fazer parte do Core Group, fundado com a sua participação por conta do papel de liderança desempenhado na MINUSTAH. Exigimos que a ONU pague uma indenização pelos assassinatos, torturas e abusos sexuais e pela propagação da cólera pela MINUSTAH. Exigimos que os EUA e a França paguem reparações pelas extorsões e ocupações militares realizadas do século XIX até o presente. Apoiamos a luta pela derrubada do governo ilegítimo de Ariel Henry. Reafirmamos que as soluções para os problemas de fundo do povo haitiano, que são o resultado de longas décadas de governos oligárquicos e da intervenção imperialista, estão nas mãos do próprio povo haitiano, que deve contar com a solidariedade dos povos da América Latina e do Caribe.

Nós, da UIT-QI, reiteramos o apelo por uma campanha internacional de solidariedade com o povo haitiano e contra o envio de tropas de ocupação para o país.

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