Pânico mundial pela dívida dos EUA

O capitalismo ianque em crise | Emmanuel Santos Socialist Core (EE.UU.)

Nas últimas semanas, os principais meios de comunicação vem divulgando o risco que corre a economia mundial com a notícia de que o endividamento dos EUA chegou a seu topo no dia 16 de maio.

O fato tem significado importante para a classe trabalhadora mundial, já que se o governo norte-americano não elevar o limite da dívida, muitos analistas preveem a explosão de uma crise financeira de repercussões catastróficas.

A dívida nacional norte-americana alcançou os 14 bilhões de dólares em meio a custosas guerras e a pior crise econômica desde os anos 30, destacando a crise do capitalismo e do imperialismo por causa de revoluções populares no mundo árabe.

Os gastos militares e o resgate financeiro (bailout) para os bancos que fizeram a administração Obama, em 2008, aumentaram a dívida pública. Para não elevar o limite da dívida antes de 2 de agosto, se corre o risco de perder seu índice de AAA ranting (índice de rendição) emitidas pelas agências de qualificação de crédito (como a Moody’s e a Standard and Poor’s). Essas agências de risco são responsabilizadas por terem provocado a crise de 2008, ao não advertir o governo acerca dos problemas com as hipotecas.

Os capitalistas estão em pé de guerra com a possibilidade que isto ocorra
O secretário do tesouro Timothy Geithner espera um acordo entre democratas e republicanos logo que possível. Caso contrário, o governo teria restrições para solicitar empréstimos e o departamento do tesouro não teria fundos suficientes para cobrir as faturas.

Os democratas e republicanos alertam que se não chegam a um acordo, o pagamento dos salários dos militares e a cobrança de cheques recebidos por pensionistas seriam afetados. O país implementaria uma moratória (default) cujas consequências teriam efeitos catastróficos para a economia mundial.

Essa é a maior preocupação de investidores e grandes corporações. Enquanto isso, os trabalhadores não estão incluídos neste debate. O desemprego está aumentando. Existem recursos suficientes para implementar um programa de emergência. Mas Obama não propõe a criação de empregos através de um programa de obras públicas ou o fim da guerra.

Não haverá default
Um default significaria o não pagamento da dívida, o que acarretaria um custo econômico enorme para os bolsos dos capitalistas a nível internacional. Isso explica porque o Banco da Chiina e outras instituições internacionais que tem investimentos em títulos soberanos da dívida dos EUA estão atentos ao que está passando.

Por outro lado, muitos estados estão sendo afetados pelo déficit orçamentário e diminuindo suas funções. Por exemplo, as agências governamentais do estado de Minnesota deixaram de operar por duas semanas, afetando os salários de 22 mil funcionários públicos. Os democratas e os republicanos resolveram a crise com mais cortes na educação.

O circo político
Publicamente, democratas e republicanos não chegam a um acordo em torno da dívida. Cada parte acusa a outra dos problemas econômicos que estão surgindo. É um circo político para atrair votos. Fundamentalmente, convergem em continuar a guerra e os ataques a classe trabalhadora.

As negociações expõem as divisões dentro do Partido Republicano entre um setor conservador moderado, disposto a pactuar com Obama e outro mais reacionário, a extrema direita de Tea Party, financiada pela indústria farmacêutica, que se opõe fortemente a ceder terreno a Obama.

Este setor moderado, liderado pelo senador Mitch McConnel, propõe o chamado “Plano B”, o qual outorgaria poderes a Obama para elevar de forma unilateral o limite da dívida em 2,4 bilhões de dólares e incluiria grandes cortes no orçamento, salvando de apuros os republicanos que não precisariam votar no plano.

A imagem dos democratas seria afetada tendo em vista as eleições presidências de 2012. Obama está dando um novo giro à direita. Propõe aumentar a idade do Medicare (serviço de saúde para pessoas da terceira idade) de 65 para 67 anos. O Medicare é uma das vacas sagradas dos democratas. Foi uma conquista da classe trabalhadora durante a Grande Depressão.

Em muitos estados, os trabalhadores enfrentam as políticas antipopulares do governo. Não há um movimento nacional que unifique as lutas (a raiz da debilidade do movimento operário) e enfrente os efeitos da recessão. Além disso, a burocracia sindical desarticula as lutas e pactua com a patronal e o governo.

O setor público em vários estados está em luta. Há greves que duram 24 horas. Algumas são mais duradoras como em Scriba, no estado de Nova York, onde 460 trabalhadores de duas plantas nucleares levam vários dias de greve por causa das demissões em massa. A classe trabalhadora deve se por de pé para não pagar pela crise, mas que pague por ela as multinacionais e banqueiros apoiados pelo governo.