No país do Cachoeira, Dilma vetará todo o Código Florestal?

| Babá – ex-deputado federal, Mestre em Desenvolvimento Urbano IPUR e Professor da UFRJ

No país do Cachoeira, Dilma vetará todo o Código Florestal?

O país assiste estarrecido o que acontece no Congresso Nacional. Por um lado, estamos vendo que Carlinhos Cachoeira tem poder não só para indicar qual será a pauta das reuniões do Senado e para aprovar projetos do seu interesse. Ele tem tentáculos nas principais esferas de poder públicos e privados: governos de Estado, Polícia Federal, deputados, prefeitos, vereadores, a Veja e empreiteiras como a Delta. É um verdadeiro dirigente da política suja que governa o país. Por outro lado, o país também assiste a aprovação do dito Novo Código Florestal. Depois de ser alterada diversas vezes, a proposta de código dificilmente poderia ser tão regressiva. Agora, até vozes mais moderadas da sociedade exigem o veto total do Código pela Presidenta Dilma.
Um dos resultados imediatos de tudo isso é que nunca os podres poderes foram tão questionados e está cada vez mais claro para uma ampla parcela da população que o país é saqueado diariamente para o benefício de poucos. Cada vez mais temos o povo de um lado, e o governo, o parlamento, o agronegócio, as multinacionais, banqueiros e grandes empreiteiros do outro. Na verdade sempre foi assim, porém agora está mais fácil percebermos isso e a população começa a dar respostas. Nosso objetivo com esse texto é afirmar que um país sustentável ecologicamente tem que necessariamente alterar a forma de como a política é feita hoje. Boa leitura, reflexão e ação!

Há um clamor popular: “Veta tudo, Dilma!”, que tem se expressado em diversas manifestações e nas redes sociais. É muito importante que uma parte do movimento social tenha compreendido que não basta apenas não perdoar as multas dos desmatadores e que de conjunto o Código Ruralista é nocivo para a maioria do país.
Engrossamos este coro popular, mas infelizmente, a realidade vem demonstrando que há muitas dificuldades para que isso ocorra. Muita gente não sabe, mas os desmatadores já tem anistia de suas multas desde 2008 porque Lula através de Decreto presidencial lhes concedeu essa benesse. Dilma não apenas não derrubou tal decreto como o prorrogou por duas vezes, sendo a última vez no último 11 abril.
Entretanto, “o buraco é mais embaixo”. A governabilidade do país é nada mais nada menos que um “toma lá, dá cá” generalizado. Cargos, verbas e emendas são o oleo que faz funcionar (para interesses específicos) esta velha e enferrujada engrenagem que chamamos de República. Não podemos não querer enxergar: é assim que as coisas funcionam no Brasil, seja ele governado pelo PSDB e o DEM ou pelo PT e o PMDB.
Dilma não tem nenhum interesse em enfrentar os ruralistas, o agronegócio e a UDR. Mais que isso: o modelo econômico que o PT aposta é necessariamente contrário à preservação ambiental. As cidades e Estados e, enfim, o país dirigido pelo PT, aposta num modelo clássico e burro, predatório e destruidor. O modelo de Dilma e do PT é o dos Belos Montes, que passam por cima de populações ribeirinhas, indígenas, da opinião de cientistas, técnicos, especialistas do IBAMA e da FUNAI, e da opinião pública. Estamos falando do modelo da Delta, que financia as campanhas eleitorais e com isso consegue capachos, servos, empregados para lhes garantir enormes lucros após estarem eleitos. Para Dilma vetar todo o Código tem que romper o cordão umbilical da política praticada no país há décadas, com ênfase em FHC e Lula. Significaria que Dilma teria que romper com seu próprio governo para realizar tal proeza.
Acreditem que o veto total não passa pela cabeça da Presidenta e que a única possibilidade de que ocorra é com muita pressão popular e, neste caso, Dilma terá sido derrotada.
Não podemos aceitar o país ser humilhado quando um Cachoeira, o bicheiro delinquente Carlinhos Cachoeira, recebe em suas mãos a lista dos 32 parlamentares que compõem a CPMI que o investigará e solta gargalhadas de deboche, segundo nos informou a jornalista Mônica Bergamo na Folha de São Paulo. Ele ainda disse estar “curioso” para saber o que a maioria deles vai perguntar. Ele debocha de mim, debocha de você, debocha sobre todo o país. O pior é saber (ou imaginar) que muitos dos parlamentares que compõem a CPMI sejam seus pares ou já tenham se utilizado de seus “serviços”. Assim como o veto total ao Código, ele só será de fato punido e seu esquema desmontado se houver muita mobilização e contestação da sociedade.
Fui fundador do PT e da CUT, parlamentar por 16 anos. Fui expulso do PT em 2003 junto com Heloísa Helena, Luciana Genro e João Fontes. Nossos acusadores na comissão de “ética” que o PT instaurou para nos expulsar foram Delúbio Soares e Silvinho “Land Rover” Pereira, pelegos envolvidos no esquema do Mensalão dois anos depois. O PT avaliou que nenhum dos dois merecia punição e recentemente já abriu seus braços de volta para Delúbio. Em tese, fomos expulsos por termos votado contra a Reforma da Previdência, o que na prática foi ter sido fiel ao programa histórico do PT. Porém, isto foi apenas a cereja do bolo. Fomos expulsos porque não concordamos com o país que o PT tem construído, com a farra das empreiteiras, dos banqueiros e da corrupção generalizada. Fundamos o PSOL, junto com milhares de trabalhadores e jovens, mulheres e homens que no dia-a-dia lutam por um país melhor. Como diz o lema do mandato do deputado do PSOL-RJ Marcelo Freixo: “Coragem pra mudar!”. Tenho visto essa coragem na nova geração de indignados que surge no país. Parte deles ocupou as ruas no último dia 21 de abril no “Dia do Basta” contra a corrupção e esse podre regime onde só os ricos ganham. Outra parte está cruzando os braços nos principais canteiros de obras do país, de Jirau até o COMPERJ. Enfrentam burocracias sindicais, comissões tripartites e novos pelegos. São nesses indignados que temos que nos apoiar para a construção de outra sociedade. Na verdade, eles são o motor que renova nossa esperança de seguir em frente! Veta tudo, Dilma!