HISTÓRIA | 30 anos após a queda do muro de Berlim

Este dia 9 de novembro marca o trigésimo aniversário de um dos eventos políticos mais importantes do século passado: a queda do muro de Berlim. Para alguns, os eventos de 1989 significaram o triunfo do capitalismo sobre o socialismo. Chegaram a afirmar que era o “fim da história” e setores da esquerda a viam como uma derrota da classe trabalhadora mundial. Os socialistas revolucionários têm outra visão.

A queda do muro de Berlim causou uma surpresa mundial. A mídia assistiu e denunciou exultantes como esse, até aquele momento, uma barreira intransponível de ferro e cimento, que durante 45 anos dividiu o território alemão, separando famílias, amigos e gerando um terrível trauma social, desmoronou sob a força incontrolável de mobilização popular.

Alguns meios de comunicação tentaram explicar o fato, atribuindo-o a uma peça magistral do capitalismo imperialista, liderada pelo então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, juntamente com o papa João Paulo II e com a cumplicidade de Gorbachev. Até hoje, o presidente russo Vladimir Putin diz que “Gorbachev estava errado”, como se esse processo histórico tivesse sido determinado pelo acordo entre algumas figuras influentes.

Nenhum desses personagens, muito menos o velho ditador da República Democrática Alemã, Erich Honecker, planejou esse fato. Pelo contrário, era conveniente para todos manter o “status quo” estabelecido no final da Segunda Guerra Mundial, quando os Pactos de Yalta e Potsdam, assinados por Churchill, Roosevelt e Stalin, dividiram o mundo com o compromisso de que o Kremlin limitaria seu domínio sobre os países da Europa Oriental e colaboraria para evitar revoluções no resto do mundo.

Por isso, é importante destacar que a queda do Muro de Berlim não se limitou à reunificação das duas Alemanha, o que por si só seria uma grande vitória. Esse processo significou o colapso do aparato mundial stalinista que manteve o movimento de massas encurralado e pôs fim ao acordo entre o imperialismo e a burocracia soviética. Um acordo contrarrevolucionário que levou os PCs a trair revoluções ou, quando falharam, desviá-los para que não avançassem.

Até 1989, o imperialismo apelou ao peso do PC, Moscou e seus agentes locais para evitar revoluções. Assim, agiram para impedir novos cubas, abortando processos como a Nicarágua ou El Salvador. Na Europa, eles tiveram um papel semelhante no maio francês de 68 ou na revolução de Portugal 74. O stalinismo abafou rebeliões apoiando ditaduras em países africanos ou enviando tanques contra levantes democráticos da Europa Oriental, como aconteceu na Hungria em 56 e na Tchecoslováquia em 68.

Essas traições, combinadas com as graves crises econômicas que afetaram os países do chamado “socialismo real”, criaram o terreno fértil onde foi incubado um processo de revoltas e rebeliões que teve o evento mais proeminente na queda do Muro de Berlim, mas que encerrou as ditaduras estabelecidas na Polônia, Hungria, Romênia e outros países sob controle stalinista, incluindo a Rússia.

A reunificação alemã, portanto, foi o resultado de um processo de mobilização das massas da Europa Oriental exigindo democracia e bem-estar, diante da deterioração de suas condições de vida impostas por uma economia dependente do imperialismo, produto da estagnação da revolução mundial pela Política stalinista. Devido às ilusões geradas em relação aos benefícios do capitalismo e à falta de uma liderança revolucionária, essas mobilizações não foram capazes de evitar a restauração capitalista.

Mas, apesar das fortes contradições que geraram na consciência dos trabalhadores, os socialistas revolucionários consideram que a queda do Muro de Berlim foi um fato positivo, uma vez que o imperialismo perdeu seu principal aliado para parar o movimento de massas e hoje tem maiores dificuldades no controle das revoltas e movimentos revolucionários gerados pela profunda crise do sistema capitalista, como evidenciado pelos processos em andamento no Equador, Chile, Líbano, Iraque e outros países.

As contradições do triunfo

Dizer que foi um evento positivo não significa ignorar as contradições geradas pela queda do Muro. Um dos maiores problemas foi que esse processo de revolução política falhou em interromper o curso restauracionista que a burocracia stalinista havia começado muito antes de 1989.

Em todos os países onde a política stalinista dominava, houve progresso na restauração do capitalismo pela aliança da burocracia com o imperialismo e as multinacionais e porque nesse processo não havia liderança revolucionária capaz de evitá-lo. A falta de uma alternativa antirrestauracionista, gerou uma imensa confusão na cabeça de milhões de trabalhadores que acreditavam que, com o capitalismo, eles poderiam ter, além das liberdades, conquistas sociais qualitativas.

Os quase setenta anos de opressão stalinista foram o mecanismo capaz de mover as massas contra essas ditaduras. Isso foi usado pela propaganda imperialista para destacar o fracasso do socialismo. A isso se acrescentou a esquerda reformista, ex-stalinistas, Castro-Chavista, que começou a fazer uma ideologia de que o fracasso do “socialismo real” se devia ao “estatismo excessivo” e ao regime partidário com centralismo democrático criado por Lenin. Por isso, eles inventaram novas fórmulas, como as do “socialismo do século 21”, entrelaçadas com multinacionais e empresários. E a partir da teoria de que o leninismo foi o que originou a burocracia stalinista, alguns desses setores propõem partidos horizontalistas, sem centralismo democrático, ou que se recusam a disputar o poder.

No entanto, os fatos da realidade colocam essas novas teorias em cheque. Com a crise econômica de 2007/2008, foi desenvolvido um processo de lutas mundiais que questiona o próprio sistema capitalista, causando importantes avanços na consciência do movimento de massas. É o que vemos nos processos em andamento, onde demandas mínimas, como o aumento de passagens ou a aplicação de um imposto, tornam-se rebeliões que questionam seriamente o sistema capitalista e seus organismos que os representam, como o FMI. Isso abre imensas possibilidades de luta pelo programa, pelas palavras de ordem e por uma organização com centralismo democrático, independente, dos trabalhadores e do povo, que nos leve à revolução socialista.

Por Adolfo Santos – Izquierda Socialista – Argentina

Tradução: José Mário Makaiba

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