Um debate sincero com a proposta levantada por Marcelo Freixo

 

Babá – Dirigente nacional da CST

Denis – Executiva municipal PSOL Carioca

 

A militância do PSOL foi surpreendida e causou enorme indignação o posicionamento expressado pelo deputado Marcelo Freixo em entrevista ao Programa de rádio Faixa Livre, onde ele afirma que sua provável candidatura a governador do estado do Rio de Janeiro só serviria se “fosse para valer”, justificando com isso uma aproximação política de setores reacionários como Eduardo Paes e Rodrigo Maia.

Os argumentos de Freixo, que iremos discutir neste texto, são uma negação não só da história do PSOL, forte opositor aos projetos da burguesia clássica e corrupta que governou o estado e o município, mas também de sua própria história, que tomou envergadura política sendo a principal figura pública de um partido que se localizou nas mobilizações contra Cabral, Paes e todo o consórcio político que governou durante anos o Rio de Janeiro.

 

Uma lógica social democrata

Vários partidos que se reivindicam de esquerda passaram por profundas transformações em sua história, adaptando-se ao regime político e se limitando a ser uma ala crítica dessa forma de organização falida, injusta e que ameaça a humanidade de conjunto, que é o capitalismo.

Assim, poderosos partidos na Europa consolidaram uma visão da disputa política que enxergava a atuação dos partidos de esquerda limitada a uma luta institucional, portanto, dentro das regras do jogo da burguesia.

Nessa visão, não há luta de classes nem se acredita verdadeiramente que seja possível ao povo trabalhador impor derrotas aos inimigos de classe, por meio de sua mobilização independente. Também por isso, não há sentido construir partido e batalhar por frentes sociais e políticas cujo centro seja a independência de classe.

Freixo não está desenvolvendo nenhuma teoria nova, está reciclando velhas táticas de conciliação de classes. Essa tática já lhe custou retirar sua candidatura a prefeito no Rio, desaproveitando um espaço à esquerda que havia e que fez o PSOL, com uma frente de esquerda em São Paulo, levar Boulos ao segundo turno. Como se vê, essa tática não serve ao PSOL nem mesmo a Freixo, que tende a ser tragado e despois descartado pelos partidos da ordem.

 

 A sociedade não é dividida entre democratas e fascistas, mas entre trabalhadores e patrões

Outro argumento utilizado por Freixo é que, dentro da frente eleitoral que ele propõe, caberia todo o “campo democrático”. Supostamente seriam todos aqueles que não compõem o governo Bolsonaro.

Freixo esquece de dizer que Rodrigo Maia, como presidente da Câmara Federal, comandou e aprovou, junto com Bolsonaro, o Projeto de Reforma da Previdência. Antes disso, já havia comandado a aprovação da Reforma Trabalhista. Dois projetos que atacam e alteram profundamente os direitos da classe trabalhadora.

Esse suposto polo democrático defendido por Freixo foi incapaz de encaminhar as dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, justamente porque os interesses fundamentais da burguesia seguem preservados com Bolsonaro. Por isso, não batalham para derrubar esse governo genocida.

 

Não é possível combater a milícia com apoio de milicanos

Freixo é uma das lideranças políticas mais prestigiadas no combate às milícias, mas sua proposta de governo, que inclui Rodrigo Maia e Eduardo Paes, é absolutamente incoerente e seria impossível combater a milícia com quem se aproveita politicamente dela.

O recém preso vereador Dr. Jairinho foi líder do governo de Eduardo Paes. Jairinho é herdeiro político de seu pai, o ex-deputado estadual e representante da milícia na Zona Oeste, Coronel Jairo, que foi citado na CPI das Milícias, presidida por Freixo.

Eduardo Paes não sabia da ligação de Jairinho e sua família com a milícia? Ao contrário, se aproveitava politicamente do voto de cabresto nessas regiões controladas por seus aliados!

Marcelo Freixo deveria afirmar que, durante seus dois mandatos como prefeito, Eduardo Paes teve total apoio da milícia para expulsar de suas casas milhares de famílias, para a realização de obras superfaturadas da Copa e das Olimpíadas.

Não a toa, Bolsonaro não se jogou na disputa no segundo turno para a Prefeitura do Rio. Chegou a declarar que indicava voto no bispo Crivella, porém não iria brigar com ninguém que não quisesse votar nele. Em outras palavras, Bolsonaro não se opunha a um governo do Paes.

 

A tarefa mais importante e estratégica é a batalha por um polo da classe trabalhadora

Sem dúvida alguma, temos enormes dificuldades no momento. A pandemia, a miséria e o desemprego empurram a classe trabalhadora para o desespero e a política das direções sindicais e políticas da nossa classe seguem uma paralisia, sendo cúmplices dos ataques contra nós.

Porém, não há um atalho ou saída fácil. É preciso aproveitar as oportunidades políticas, reafirmando que somente um polo de independência de classe poderá combater o bolsonarismo e seus sócios defensores do ajuste fiscal.

Combater, em numa única frente, o autoritarismo e a política econômica que tem levado nossa classe a essa situação de desespero.

Para isso, Freixo e todos os parlamentares do PSOL deveriam utilizar seu prestígio para se colocar à frente das lutas e, nesse processo, batalhar pela construção de uma força social e política que seja uma alternativa para nossa classe, começando por PSOL, PSTU, PCB e UP e fazendo um chamado aos milhões de ativistas sindicais e políticos para essa batalha contra Bolsonaro, Maia, Paes e toda a política de conciliação de classes.

 

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