Segundo Encontro Internacional de Solidariedade com a Palestina

Por Cristina Mas, da Lucha Internacionalista, seção da UIT-QI no Estado Espanhol

21/03/2024. Um passo adiante no fortalecimento da solidariedade com o povo palestino na Europa

Nos dias 16 e 17 de março, a antiga Prisão Modelo de Barcelona acolheu o Segundo Encontro Internacional de Solidariedade com a Palestina, organizado pela Comunidade Palestina da Catalunha e pela Coalició Prou Complicitat amb Israel. Em sintonia com o primeiro Encontro de 25 de novembro, o objetivo era fortalecer a coordenação da solidariedade com o povo palestino na Europa, promovendo campanhas concretas. O 7 de outubro abriu uma nova situação, com novos desafios para o movimento de solidariedade que precisam ser enfrentados.

Participaram 62 organizações da Palestina, Catalunha, País Basco, Estado espanhol, Bélgica, França, Alemanha, Islândia, Líbano, Holanda, Noruega e Suécia.

Pela manhã foram formadas cinco oficinas para coordenar as diferentes campanhas:

1. Eleições europeias e rutura do acordo UE-Israel: avaliou-se o lançamento de uma campanha para chamar à responsabilidade as instituições europeias e também os eurodeputados, que concorrerão às eleições de junho, face à cumplicidade da UE e dos seus Estados-Membros com o genocídio.

2. Embargo de armas a Israel: foram avaliados os diferentes ângulos (jurídico, sindical, universitário, institucional, empresas de armas….) da campanha para alcançar um embargo de armas bidirecional e total para deter o genocídio.

3. Boicote acadêmico: foram compartilhadas experiências de diversas universidades e foi acordado criar um material comum para trabalhar pelo rompimento de relações com instituições políticas, acadêmicas e empresas israelenses. Também foram avaliadas as dificuldades, que estão sendo impostas pelas direções das instituições, para falar sobre o genocídio com os estudantes.

4. Repressão ao movimento de solidariedade: foram compartilhadas as experiências de repressão na Alemanha, França, Holanda e Suécia e diferentes estratégias de resposta em escala européia.

5. Direitos LGBTQI+ e Pinkwashing: foi analisado como o Estado sionista usa o pinkwashing como estratégia de propaganda e debatida a campanha contra o Festival Eurovisão da Canção. Também foi iniciada a discussão sobre o festival do Orgulho.

Na tarde de sábado, reuniram-se três oficinas de caráter organizativo: uma sobre a coordenação dos palestinos na diáspora europeia, outra sobre a coordenação territorial na Catalunha e a terceira sobre a coordenação europeia, em que foram estabelecidos mecanismos para prosseguir com o trabalho conjunto.

No domingo, foram apresentadas as conclusões das oficinas e debatida e aprovada uma declaração final do encontro, que reproduzimos a seguir.

Resolução do Segundo Encontro Internacional de Solidariedade com a Palestina

Após seis meses de genocídio contínuo e sujeito a um nível de violência sem precedentes, inclusive na história brutal do Estado de Israel, o povo palestino continua a resistir.

Sessenta e duas organizações da Palestina, Catalunha, País Basco, Estado Espanhol, Bélgica, França, Alemanha, Islândia, Líbano, Holanda, Noruega e Suécia reuniram-se em Barcelona nos dias 16 e 17 de março de 2024 e acordaram a seguinte declaração.

Exigimos:

• Um cessar-fogo imediato e permanente, o fim do bloqueio de 16 anos a Gaza e a entrada imediata de ajuda humanitária. A luta palestina é a de um movimento de libertação, que é intrinsecamente descolonial. A ocupação de 76 anos da Palestina e as operações militares diárias nos territórios ocupados devem acabar.

• A libertação incondicional e irrevogável de todos os palestinos presos ou detidos.

• Um embargo imediato e bidirecional a todo o comércio de armas com Israel. Isso significa: não vender, comprar, transportar ou servir como ponto de trânsito para armas.

• O boicote e o corte de todos os laços políticos, militares, econômicos, educacionais e culturais com Israel, e a imposição de sanções ao regime de apartheid.

• Que os nossos respectivos governos apoiem a ação movida pela África do Sul perante o Tribunal Penal Internacional, acusando Israel de genocídio; e que cumpram e apliquem a resolução da CIJ, que exige a prevenção e o fim do genocídio.

Denunciamos:

• A instrumentalização de acusações e narrativas de terrorismo para demonizar a resistência armada legítima e justa do povo palestino, que vive sob ocupação, reconhecida pelo direito internacional.

• A cumplicidade da União Europeia, do Reino Unido, dos Estados Unidos, dos países árabes em processo de normalização e do resto do mundo, que permanece em silêncio face ao contínuo e intensificado genocídio do povo palestino perpetrado por Israel.

• A manutenção dos acordos preferenciais da UE com Israel, apesar de isso ir contra as suas próprias normas e o direito internacional.

• A retirada de financiamento da UNRWA pelos Estados Europeus, que representa um ataque ao direito de retorno dos/as palestinos/as.

• A utilização da falsa acusação de anti-semitismo para criminalizar e reprimir o povo palestino e os movimentos de solidariedade pró-palestinos.

• A instrumentalização do anti-semitismo no interesse do Estado de Israel, em vez de combater o anti-semitismo para proteger o povo judeu.

• A construção de um porto na costa de Gaza para permitir a entrada de ajuda humanitária. Isso significa uma extensão do imperialismo norte-americano; a ajuda deve entrar em Gaza através das suas fronteiras terrestres.

Comprometemo-nos em:

• Coordenar as nossas atividades destinadas a acabar com a cumplicidade europeia e, assim, fortalecer a luta pela libertação da Palestina em todas as suas formas.

• Desenvolver a campanha internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções contra o Estado de Israel.

• Unir os nossos esforços para marcar a data da Nakba com mobilizações internacionais.

• Aumentar a consciência para a cumplicidade da UE no genocídio em curso diante das eleições europeias de junho de 2024.

• Expandir os mecanismos de solidariedade para combater a repressão estatal e institucional contra as vozes pró-Palestinas na Europa.

• Organizar o próximo Encontro Internacional de Solidariedade com a Palestina (data e local a definir).

A Palestina é a primeira linha de defesa contra o colonialismo e o imperialismo. Continuaremos a lutar para acabar com a ocupação sionista da Palestina, pelo direito de retorno de todos os refugiados e pelo direito à autodeterminação do povo palestino. Defendemos uma Palestina livre do rio ao mar.

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