13 de maio – retomar a luta independente do movimento negro

137 anos da falsa história, de uma certa princesa que assinou a abolição da escravidão. Essa data foi escolhida para enaltecer a Princesa Isabel, falsamente tida como benevolente. Uma fake news antiga, já que essa figura foi uma das herdeiras da Casa dos Bragança, a família real que dirigiu o império colonial Português e o Império escravista do Brasil que massacraram os povos originários que aqui habitavam e os nossos irmãos do continente africano.

Não houve nenhuma punição aos escravistas, nenhuma indenização aos negros escravizados e aos países de onde eles foram arrancados. Desde o Império se impôs uma Lei de Terras e a importação de trabalhadores europeus para ocuparem as melhores funções e assim seguir dizimando o povo negro sem acesso à terra ou sequer ao trabalho digno. Não por acaso o movimento negro ressurgiu no Brasil em plena ditadura militar questionando o 13 de maio no final dos anos 1970 e posteriormente protestando por uma verdadeira abolição no final dos anos 1980.

A burguesia tenta vender a história como feitos seus e não como conquista das lutas e das revoltas no Brasil colônia, dos males, da revolta da chibata ou a organização e luta dos quilombos, como o mais conhecido o Palmares, liderado por Zumbí e Dandara.

Escondem não à toa, pois não querem confirmar que o que vemos hoje é reflexo desse histórico de escravização de pessoas negras no Brasil. De acordo com a PNAD Contínua, em 2023, quase metade (46%) dos negros ocupados estavam em trabalhos desprotegidos, ou seja, empregados sem carteira, no trabalho informal. Entre os não negros, essa proporção foi de 34%.

Entre as mulheres negras, que vivenciam as opressões de gênero e racial, 15% das que estão empregadas, são trabalhadoras domésticas, um dos empregos mais precários do Brasil. A exemplo de Sônia Maria, mulher negra com deficiência auditiva, que foi mantida por anos como empregada doméstica na família de um desembargador, pois segundo ele “ela gostava de crianças”; quando foi pra sua casa ela tinha apenas 12 anos. Esse não é um caso de 137 anos atrás, aconteceu na atualidade.

O racismo é a base do capitalismo. Não por acaso movimentos como o VAT qualificam a 6×1, que explora milhões de negros e negras em nosso país atualmente, como “escravidão moderna”.

A violência policial é reflexo do racismo. Pelo fim da PM!

Os dados do mapa da violência divulgado essa semana, referentes à 2023, mostram a letalidade da PM quando se fala de corpos pretos: ser uma pessoa negra no Brasil faz você enfrentar um risco 2,7 vezes maior de ser vítima de homicídio do que uma pessoa não negra. Todos os dias o noticiário jorra sangue de gente negra nas favelas com operações policiais, chacinas nas periferias, abordagem que se transforma em tortura: pessoas jogadas da ponte ou arrastadas no camburão. Isso sempre aconteceu, a diferença é que hoje alguns casos são filmados.

A postura da PM nos condomínios de luxo é oposta a como agem nas favelas, pois para eles o povo pobre e negro é suspeito e alvo. Seja a PM de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia ou Pará, muda o CEP mas o modo de operação é de extermínio. Por isso a PM precisa acabar como aparato repressivo burguês e ser punida pelos crimes que cometem.

Propostas emergenciais dos negros e negras socialistas da CST

Para conquistar salário, emprego, educação, saúde, moradia, vamos precisar lutar por mais verbas para as áreas sociais. Isso contraria os interesses dos patrões, muitos deles ainda com ações escravocratas em suas empresas. Do mesmo modo que para acabar de verdade com racismo temos de enfrentar a fundo a violência policial. Então, diferente do governo Lula/Alckmin, não podemos conciliar com os patrões e com a cúpula das forças armadas. E teremos de nos organizar e lutar. Por isso, emergencialmente defendemos pautas operárias e populares para o povo negro. Defendemos que nossas organizações devem exigir do governo Lula/Alckmin as seguintes pautas:

– Contra o arcabouço fiscal, redução dos juros, não ao pagamento da dívida externa e interna e taxação dos bilionários para intensificar políticas sociais para população negra. Mais verbas para saúde, emprego e educação. Bolsa família de um salário mínimo. Assistência estudantil e políticas sociais nas favelas.
– Pela revogação da reforma trabalhista e da previdência, pela revogação do novo ensino médio, da privatização da Eletrobrás. Expropriar as empresas com trabalho escravo. Direitos trabalhistas a trabalhadores/as de aplicativos e punição aos agressores desses/as trabalhadores/as! Por salário igual para trabalho igual!
– Basta de chacinas policiais contra o povo negro! Pelo fim das operações policiais nas favelas e bairros populares! Punição aos policiais e responsáveis civis por todos os assassinatos e chacinas! Pelo desmantelamento do aparelho repressivo! Fim da PM e a PRF! Instalar uma comissão formada pela Coalizão Negra por Direitos, UNEGRO, UNEAFRO, Associações de moradores, OAB, ABI e Centrais Sindicais para apurar de forma independente esses crimes e evitar a impunidade.
– Pela legalização das drogas! Para acabar com a violência, é necessário acabar com os verdadeiros donos do tráfico de armas e de drogas. Pela revogação da lei de drogas! Chega de encarceramento em massa para o povo negro!
– Auxílio, emprego e todos os direitos ao povo negro dos países africanos, aos haitianos, e demais refugiados e imigrantes!
– Contra as privatizações, que precarizam empregos e serviços, gerando até mortes como aconteceu no metrô de SP!

Façamos Palmares de novo: Por um governo da classe trabalhadora sem patrões e um Brasil Socialista

Além das propostas emergenciais precisamos de uma libertação definitiva, contra o racismo capitalista que nos massacra e a atual escravidão assalariada que nos explora e nos deixa cada dia pior. Retomar a tradição de luta do movimento negro independente em nosso país.

Enquanto formos governados por um governo com patrões, empresários, multinacionais e projetos capitalistas seremos massacrados. Os governos que nós queremos é o nosso próprio governo, tal como era o governo dos Quilombos de Zumbi, Dandara ou de Thereza de Benguela. A senzala oprimida não pode compactuar com a opressão e exploração da casa grande. Nós trabalhadores, jovens e mulheres exploradas não podemos conciliar com os patrões e empresários assim como nossos antepassados negros e indígenas guerreiros não compactuaram com os senhores escravistas.

Defendemos um governo da classe trabalhadora, sem patrões, e um Brasil Socialista como uma mudança profunda para conquistar de vez nossas pautas

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