Cuba: estudantes universitários iniciaram uma greve para protestar contra o aumento das tarifas de internet

Por Imprensa UIT-QI

 

Um grande protesto de estudantes começou em Cuba e está se transformando numa greve estudantil.

O descontentamento decorre da medida tomada pela empresa de telecomunicações ETECSA, que dolarizou parcialmente o serviço e aumentou muito os custos já elevados.

A mobilização, impulsionada por estudantes da Faculdade de Matemática e Computação e da Faculdade de Filosofia, História e Sociologia da Universidade de Havana, contou com a adesão dos estudantes da Faculdade de Artes dos Meios de Comunicação Audiovisuais (FAMCA) da Universidade das Artes (ISA).

O regime de partido único cubano negou a existência dos protestos, afirmando que se tratam de rumores vindos “de fora”. Porém, a realidade é diferente.

Nas últimas horas, estudantes da Faculdade de Comunicação e Letras da Universidade de Holguín também se manifestaram e convocaram uma greve acadêmica por tempo indeterminado a partir de 7 de junho, “até que as medidas sejam revogadas”.

“Não somos uma minoria privilegiada; somos a voz de um povo cansado de pagar pela ineficiência”, argumentaram em seu comunicado.

Ao mesmo tempo, estudantes de Matemática e de Computação reafirmaram numa assembleia a decisão de continuar a greve em protesto contra as medidas da ETECSA, chamando-as de “um ataque direto ao povo cubano”.

“Estamos nos mobilizando por justiça social, não por migalhas”, escreveram.

Os estudantes da Faculdade de Biologia questionaram publicamente a autoridade do presidente nacional da FEU [Federação Estudantil Universitária], Ricardo Rodríguez González, acusando-o de não representar as verdadeiras opiniões do corpo estudantil.

Por sua vez, membros da Faculdade de Filosofia, História, Sociologia e Serviço Social exigiram a renúncia imediata do dirigente estudantil, descrevendo a sua gestão como “conformista, passiva e acrítica”. (Citações da Redação da CiberCuba, 05/06/2025)

Os estudantes universitários, como parte do povo trabalhador cubano, estão fartos das medidas de ajuste do governo, que fala de “socialismo” enquanto restaurara o capitalismo.

A causa fundamental da agitação social e dos protestos universitários é que, há mais de 30 anos, o regime vem abrindo a economia ao investimento privado estrangeiro, especialmente às grandes corporações transnacionais do turismo e de outros setores da economia, restaurando assim a exploração capitalista em Cuba.

Muitos ativistas ainda podem acreditar que Cuba é um país socialista. No entanto, isso não é mais verdade. Em Cuba não existe nenhuma forma de socialismo. Trata-se de um regime repressivo de partido único que, como na China, governa para os novos-ricos e em aliança com as corporações multinacionais.

Em Cuba, a economia é dominada pelas chamadas empresas mistas, em que o governo cubano faz parcerias com corporações multinacionais, permitindo que os trabalhadores ganhem salários que variam de US$ 20 a US$ 100.

Nós, da UIT-QI, nos solidarizamos com a luta estudantil em Cuba e defendemos o direito de protesto e de greve. E alertamos contra qualquer tentativa de repressão por parte do governo.

 

Reproduzimos a declaração do Coletivo “Socialistas em Luta”, repudiando as medidas do governo.

O aumento histórico das tarifas realizado pelo monopólio telefônico em Cuba

Declaração do coletivo “Socialistas em Luta”

Na manhã de 30 de maio de 2025, o povo cubano acordou com a notícia do aumento exorbitante dos preços do acesso à telefonia móvel. A medida foi implementada sem aviso prévio por autoridades empresariais e funcionários do governo. Com essas modificações drásticas, a empresa violou o ponto sete do contrato de serviço de telefonia móvel, que estabelece: “A ETECSA informará o cliente, com trinta (30) dias de antecedência, sobre qualquer alteração nos termos da prestação do serviço”. Ao fazê-lo, a empresa violou o compromisso contratual estabelecido com os consumidores do país, algo que constitui uma violação legal de alcance nacional.

A ETECSA passou da cobrança de 110 pesos cubanos por um pacote mínimo de acesso à internet para a cobrança de 11.760 pesos cubanos pelo pacote mais exigente, extra, uma diferença de mais de 10.000%. Isso equivale a multiplicar os custos por aproximadamente 100 vezes. A empresa também reduziu o acesso para 6 gigabytes por mês no primeiro pacote utilizado; ao mesmo tempo, promoveu a expansão de pacotes extras com preços a partir de 3.360 pesos cubanos, equivalente a 1,6 salário-mínimo ou 2,2 vezes a pensão básica de um aposentado.

Essa nova violação visa reduzir o consumo médio da população para incentivar pagamentos em dólares, através de recargas ou de remessas internacionais. Em meio a um cenário tão complexo, marcado por apagões diários, que ultrapassam 22 horas de interrupção de energia em comunidades do interior, o acesso à internet não é apenas uma opção legítima de entretenimento; também representa um importante meio de trabalho, de acesso a fontes de informação e um canal de comunicação numa ilha que sofre com um êxodo migratório contínuo, que foi de quase dois milhões de habitantes entre 2020 e 2025. Por essas razões, essa medida também impacta o bem-estar econômico de familiares que vivem no exterior, que enfrentam desafios migratórios num contexto global cada vez mais hostil para aqueles com esse status.

Esse último pacote se soma ao conjunto de medidas antipopulares de matriz neoliberal promovidas pela alta cúpula do Partido Comunista de Cuba (PCC). O governo reafirma a sua disposição de promover o extrativismo econômico, de caráter rentista, em vez de ampliar a capacidade produtiva da indústria nacional, algo que levaria à valorização dos empregos e teria impacto nos salários dos trabalhadores. Só uma saída popular e revolucionária, contra um regime empobrecedor e autoritário, é o caminho para restaurar a justiça e o bem-estar do povo cubano.

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