Como combater Trump e a Casa Branca? Debate com Resistência-Insurgência/PSOL

Por Michel Oliveira e Claudia Gonzales, coordenação da CST

 

Dialogamos com o editorial da Resistência/PSOL e Insurgência/PSOL, no Esquerda Online (02/08), sobre o tarifaço de Trump. A CST concorda com a necessidade de uma ampla unidade de ação contra o imperialismo estadunidense e ações de Trump para favorecer Bolsonaro. Mas propomos debater o papel do governo Lula, da burguesia, pontos do editorial com os quais divergimos.

Exigir de Lula medidas efetivas por nossa soberania

Os camaradas falam da postura “altiva de Lula”, o que é real nos discursos. Na prática, nenhuma medida concreta ocorreu contra o ataque imperialista. Nem mesmo a lei de reciprocidade foi aplicada. Defender a soberania exige ações, e cabe à esquerda socialista cobrar que o governo Lula/Alckmin passe das palavras aos atos contra Trump, o que o editorial da Resistência e Insurgência não faz.

A linha de negociação da frente ampla é um erro

O editorial afirma que “a unidade ampla e a mobilização popular são as principais armas para derrotar os inimigos da pátria”. Concordamos. A mobilização unificada é o caminho para enfrentar o imperialismo. A extrema direita de Trump, aliada a Netanyahu, Bolsonaro e Milei, tem um projeto contrarrevolucionário; não há negociação possível. Ou eles avançam contra nós, ou, em unidade de ação, barramos sua ofensiva.

O governo Lula/Alckmin, porém, segue a burguesia nacional e aposta no diálogo com Washington. Lula declarou: “Nós somos negociadores” (Agência Brasil). O governo consulta empresas como Meta, Google, Amazon, Apple e Visa, não convoca mobilização contra o tarifaço. Haddad acenou negociar terras raras com os EUA, alegando “agregar valor a esse minério” (uol.com.br). Essa linha não defende a soberania. É preciso exigir medidas concretas e unidade latino-americana contra o imperialismo.

Combinando a defesa da soberania com as reivindicações populares

Concordamos com a Resistência e Insurgência quando afirmam que devemos ativar a luta “combinando a defesa da soberania” com o “fim da escala 6×1 e a taxação dos super-ricos”. Para isso, é preciso exigir da CUT, CTB, UNE e MTST a continuidade de atos como os do congresso da UNE em Goiânia ou diante da embaixada dos EUA em SP. Até agora, porém, as direções do movimento têm se destacado pela timidez diante desse ataque histórico. Cabe à esquerda batalhar por um plano de lutas contra Trump, a extrema direita e pelas pautas do plebiscito citadas no editorial. Ao mesmo tempo, é necessário criticar a MP “soberana” do governo Lula/Alckmin, que destina R$ 30 bilhões aos empresários enquanto corta recursos sociais, atacando salário mínimo, estatais, serviços públicos, aposentadorias e o BPC.

O centrão é inimigo do povo

Concordamos com as denúncias contra os líderes do Congresso, mas discordamos da linha proposta para o Centrão. O texto defende pressioná-lo a escolher entre “a soberania com Lula” ou a traição “com Bolsonaro”. Na realidade, o Centrão é inimigo do povo e só defende seus próprios interesses; disputar seus rumos é um erro. Essa posição reflete a pressão sofrida pelo PSOL ao integrar o governo Lula/Alckmin com ministérios e cargos. O que significa adentrar nas disputas da “base aliada”, da governabilidade conservadora mantida pela frente ampla.

Unidade na luta, com os métodos da classe trabalhadora

Na luta anti-imperialista estamos dispostos a unificar com todo e qualquer aliado que deseje lutar ou que seja pressionado a se mobilizar contra Trump.  Uma ampla unidade de ação, o que pode incluir setores burgueses. Concordamos com a Resistência e Insurgência nesse ponto. Porém, é fundamental afirmar que nossa atuação deve se dar com os métodos da classe trabalhadora, fortalecendo o polo operário e popular, em completa independência da burguesia. Isso implica combater as vacilações e traições da burguesia, levando a luta até o final. Algo que o Editorial não fala. Mas o fato é que nenhum setor da burguesia demonstrou disposição de enfrentar Trump e os EUA.

Unidade na luta, sim! União nacional, não!

O editorial da Resistência/PSOL (20/07), “Trump e Bolsonaro atacam o Brasil”, defende a “unidade nacional”. Essa linha apaga as fronteiras de classe, subordina os trabalhadores à burguesia e desmobiliza o bloco operário e popular. Foi o erro histórico do PCB ao apostar numa suposta burguesia “progressista”. A burguesia deseja negociar e busca evitar a mobilização popular. Por isso, não podemos cair na “união nacional”. Do mesmo modo seria equivocado uma Frente Anti-imperialista ou Antifascista, que significaria essa subordinação orgânica com a burguesia dita nacionalista ou democrática, no mesmo estilo do velho partidão. Defendemos unidade de ação anti-imperialista e contra a extrema direita e seu projeto nazi-sionista, mantendo nossa independência.

Independência do governo Lula/Alckmin

A esquerda socialista deve manter independência política diante do governo capitalista da frente ampla. No entanto, o editorial da Resistência e Insurgência não traz essa posição, elaborando sua política a partir do apoio ao governo Lula/Alckmin. Lamentamos esse abandono, já que antes suas lideranças defendiam a independência de classe. Hoje, sustentam um governo de colaboração com a burguesia, que até aqui se nega a adotar medidas efetivas contra o imperialismo e aposta na desmobilização, sem convocar manifestações anti-imperialista. Apelamos a que os camaradas reflitam e mudem de linha.

Luta unificada

Enquanto seguimos esse debate, podemos atuar em unidade de ação nas ruas. Concordamos com o editorial, que afirma: “Cabe aos movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda colocar em marcha um processo unificado de mobilização popular”, em defesa da soberania nacional e de pautas como o fim da escala 6×1 e a taxação dos super-ricos. Defendemos lutar juntos por uma jornada de lutas da CUT, UNE e MTST por essas medidas. Sugerimos incluir a exigência de que o governo Lula/Alckmin aplique a lei de reciprocidade, taxe os lucros das multinacionais dos EUA enquanto durar o tarifaço. Pela proibição de demissões e destinação dos 30 bilhões da MP soberana para áreas sociais.