Trump-Musk: o fim do amor

Por Miguel Sorans, dirigente da Izquierda Socialista e da UIT-QI
05 de junho de 2025. O distanciamento entre Donald Trump e Elon Musk se converteu num escândalo global. Não se trata de um escândalo qualquer. Envolve o presidente dos Estados Unidos, a principal potência imperialista, e o empresário mais rico do mundo. Até poucos dias atrás, o magnata sul-africano era o braço direito de Trump e principal conselheiro da “motosserra” estadunidense. Milhares de funcionários públicos foram demitidos por Musk, de comum acordo com Trump.
Essa disputa inusitada está colocando em evidência o desgaste do governo Trump, o vai e vem de sua “guerra comercial” e a existência de uma crise política dentro do governo do imperialismo estadunidense.
Musk havia renunciado ao cargo dias antes, após uma série de fracassos. Porém, a queda de Musk causou impacto. O projeto de lei orçamentário, que Trump enviou ao Congresso dos EUA, foi descrito como uma “abominação repugnante”.
“Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se continuaremos tendo”, disse o chefe da Casa Branca, após o magnata criticar ferozmente a lei orçamentária. No entanto, a briga escalou. O presidente ameaçou retirar subsídios e cancelar contratos com o governo de empresas ligadas a Musk, à medida que a aliança entre ele e o controverso bilionário se desfazia publicamente. Musk não se calou e afirmou que Trump aparece nos arquivos de Jeffrey Epstein, o empresário acusado de pedofilia e abuso sexual, que supostamente contêm os nomes de seus cúmplices, muitos deles “ricos e famosos. (…) É hora de soltar a grande bomba: Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos”, postou Musk no X, sua rede social. (citações do Clarín, Argentina, 05/06/2025).
A razão para essa ruptura escandalosa reside nos grandes reveses sofridos pelo plano do ultra-direitista Trump. O vaivém na questão das tarifas, por exemplo, mostra que há elementos de uma grave crise em sua política devido ao atrito inter-burguês que ela incitou e ao crescimento de protestos em seu país e ao redor do mundo. Grandes mobilizações começaram nos EUA. Já em abril, houve 1.200 manifestações em 50 cidades, seguidas de protestos contra ataques à saúde e à educação, incluindo um na Universidade de Harvard. Tudo isso levou a uma queda na popularidade de Trump, refletida nas pesquisas do próprio império. Em abril/maio, ela caiu de 52% para 41%. A imprensa imperialista definiu-a como a pior queda de imagem dos primeiros 100 dias de um governo estadunidense em 70 anos, ou seja, desde Eisenhower na década de 50 do século passado.
A saída de Elon Musk do governo foi mais um exemplo dos vaivéns políticos de Trump. O homem que apostou uma fortuna na eleição de Trump e era o “chefe” do DOGE – o órgão criado para implementar a “motosserra” e que demitiu milhares de funcionários públicos, da saúde e da educação –, finalmente caiu. Musk durou pouco mais de 100 dias no cargo.
Musk renunciou, dizendo estar “decepcionado”. Porém, a realidade é que sua queda foi consequência da própria crise que ele ajudou a criar como braço direito de Trump.
Vários elementos se combinaram. Em primeiro lugar, seu plano de demissões em massa gerou conflitos com vários ministros do gabinete de Trump. Meses antes, o Secretário de Estado, Marco Rubio, outra figura de extrema-direita, atacou Musk numa reunião de gabinete com a presença de Trump, por querer cortar demais a força de trabalho ligada ao seu ministério. A discussão foi tão intensa que Trump interveio dizendo: “Em vez do machado, usaremos o bisturi”.
Em segundo lugar, a política tarifária de Trump, que Musk endossou, atraiu críticas do conselho da Tesla, sua empresa de carros elétricos, que tem sua principal linha de produção na China e estaria sujeita a tarifas.
Em terceiro lugar, e talvez o mais importante, Musk começou a ser alvo de todos os tipos de protestos e boicotes nos próprios EUA, com ações de repúdio em frente a concessionárias. Milhares de pessoas colaram adesivos de protesto em seus carros.
O resultado foi que as vendas da Tesla nos EUA despencaram: 13% no primeiro trimestre do ano. No resto do mundo, o desempenho foi pior. Em maio, as vendas da Tesla em 32 países europeus caíram 49% (dados do Clarín, Argentina, 28/05/2025).
Uma coisa é certa: a escandalosa ruptura entre Trump e Musk terá novos capítulos.