CONSCIÊNCIA NEGRA – COMBINAMOS DE NÃO MORRER
Por Rômulo A. Lourenço – Educação em Combate
O sucesso do filme Ainda Estou Aqui, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, trouxe à tona os horrores da ditadura militar no Brasil e, principalmente, a discussão sobre memória histórica. Memória esta que os de cima tentam fixar da maneira que lhes convém, falsamente. A história do nosso povo trabalhador contém muitas lutas e resistências, e revisitar esse passado é uma necessidade permanente.
Nesse sentido, o 20 de novembro deve ser entendido como um dia para rememorar as lutas negras contra a escravidão e também um dia de lutas do povo negro na atualidade. A data marca o martírio de Zumbi, liderança do grande quilombo dos Palmares. Quilombo este cuja existência se fez enfrentamento à escravidão e oportunizou que milhares de negras e negros vivessem em liberdade nele, até seu fim, no século XVII. O dia 20 de novembro então entrou no calendário nacional como Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares. Com os avanços dos movimentos feministas, o nome de Dandara dos Palmares saiu do apagamento histórico, recebeu destaque por seu papel desempenhado na sociedade de Palmares e hoje também é referenciado nesta data. Em 2025, a data será feriado nacional pela primeira vez.
Manter viva a memória de Palmares, e de outros quilombos e lideranças combativas negras, nos ajuda a entender como chegamos até aqui e como é possível enfrentarmos o racismo em suas múltiplas formas. A desumanização de pessoas negras foi uma das tecnologias do racismo na escravidão e é uma ferida ainda aberta, que o modelo de abolição empregado no Brasil não combateu. Isso explica, entre outros elementos, que a imagem de uma centena de corpos negros caídos no chão, assassinados com requintes de crueldade, seja tratada com naturalidade, ou até mesmo comemorada, por políticos, mídia e por setores da sociedade. Referimo-nos especialmente à mais recente chacina policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, capitaneada por Cláudio Castro (PL). Uma carnificina que entra na história e se soma aos históricos ataques diretos do Estado contra o povo negro, pobre e favelado.
Se inúmeras são as formas do racismo nos oprimir e explorar, precisamos estar cientes delas, das mais explícitas até as mais veladas. E melhor combateremos o racismo se estivermos unificados. Por isso, é preciso que haja, abarcando também o 20 de novembro, um extenso calendário de lutas no país. Que a memória dos que, como Zumbi, tombaram na luta contra a escravidão nos incentive a construir um futuro digno para os negros no Brasil. Eles combinaram de nos matar; “a gente combinamos de não morrer” (Conceição Evaristo).
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Propostas emergenciais dos negros e negras socialistas da CST
– Contra o arcabouço fiscal, não ao pagamento da dívida externa e interna e taxação dos bilionários para intensificar políticas sociais para população negra. Mais verbas para saúde, emprego e educação. Bolsa família de um salário mínimo. Assistência estudantil e políticas sociais nas favelas.
– Pela revogação da reforma trabalhista e da previdência, pela revogação do novo ensino médio, da privatização da Eletrobrás. Expropriar as empresas com trabalho escravo. Direitos trabalhistas a trabalhadores/as de aplicativos e punição aos agressores desses/as trabalhadores/as! Por salário igual para trabalho igual!
– Basta de chacinas policiais contra o povo negro! Pelo fim das operações policiais nas favelas e bairros populares! Punição aos policiais e responsáveis civis por todos os assassinatos e chacinas! Pelo desmantelamento do aparelho repressivo! Fim da PM, Civil e a PRF! Instalar uma comissão formada pela Coalizão Negra por Direitos, UNEGRO, UNEAFRO, Associações de moradores, OAB, ABI e Centrais Sindicais para apurar de forma independente esses crimes e evitar a impunidade.
– Pela legalização das drogas! Para acabar com a violência, é necessário acabar com os verdadeiros donos do tráfico de armas e de drogas. Pela revogação da lei de drogas! Chega de encarceramento em massa para o povo negro!
– Auxílio, emprego e todos os direitos ao povo negro dos países africanos, aos haitianos, e demais refugiados e imigrantes!
– Contra as privatizações, que precarizam empregos e serviços!
Façamos Palmares de novo
Além das propostas emergenciais precisamos de uma libertação definitiva, contra o racismo capitalista que nos massacra e a atual escravidão assalariada que nos explora e nos deixa cada dia pior. Retomar a tradição de luta do movimento negro independente em nosso país.
Enquanto formos governados por um governo com patrões, empresários, multinacionais e projetos capitalistas seremos massacrados. Os governos que nós queremos é o nosso próprio governo, tal como era o governo dos Quilombos de Zumbi, Dandara ou de Thereza de Benguela. A senzala oprimida não pode compactuar com a opressão e exploração da casa grande. Nós trabalhadores, jovens e mulheres exploradas não podemos conciliar com os patrões e empresários assim como nossos antepassados negros e indígenas guerreiros não compactuaram com os senhores escravistas. Defendemos um governo da classe trabalhadora, sem patrões, e um Brasil Socialista como uma mudança profunda para conquistar de vez nossas reivindicações.
