Surto de coronavírus em frigorífico da JBS em Passo Fundo (RS): chega de descaso com a vida da classe trabalhadora! 

Comitê regional CST – Rio Grande do Sul

No dia 23 de abril repercutiu no Rio Grande do Sul o escândalo de que um frigorífico da JBS na cidade de Passo Fundo possui um foco de contaminação de Coronavírus com 19 trabalhadores confirmados para a doença, 15 suspeitos e 78 que estariam com sintomas gripais. Essa unidade da JBS só em Passo Fundo (sem contar o restante da região) possui 2.625 trabalhadores, para se ter uma ideia do impacto que o surto pode causar. Até o presente momento que apuramos os dados para essa denúncia, a cidade de Passo Fundo possui 78 casos confirmados, com 6 mortes (cidade com maior número de mortes do interior do estado). Se contarmos os números de outras cidades da região, temos ao todo 146 casos confirmados e 9 mortes. Isso levando em conta apenas números oficiais, pois se for levado em conta que existe uma subnotificação de casos, o número real provavelmente é muito maior e só cresce.

Segundo nota do Conselho Municipal de Saúde da cidade, estava comprovado que a empresa vinha tendo um total descaso com a saúde dos trabalhadores, não fornecendo nem o mais básico de EPIs. Na sexta-feira (24) a atividade na JBS foi interditada com manutenção dos salários por duas semanas apenas, decisão insuficiente e que demorou muito, pois segundo informações a ação judicial movida contra a empresa já havia sido feita há dias, revelando o descaso do poder público que tinha conhecimento do caso e preferiu omitir. O RS governado por Eduardo Leite (PSDB) havia iniciado abril com um decreto que suspendia as atividades não essenciais, mas a JBS por ser uma empresa do setor alimentício estava liberada. A partir da metade do mês o governador pactuando com a pressão da burguesia que vinha organizando movimentos pelo fim do isolamento social, liberou as atividades para o interior do estado no geral, exceto a região metropolitana de Porto Alegre. Passo Fundo, portanto, está entre as cidades do interior que o governador liberou, e é óbvio que o aumento na circulação causado pela flexibilização do isolamento social só irá aumentar ainda mais o contágio, que já estava brutal antes, com a suspensão das atividades essenciais. Isso demonstra que o descaso com a vida da classe trabalhadora durante a pandemia não é algo restrito apenas ao presidente Bolsonaro, mas sim de todos os governos burgueses nos estados e municípios.

Por outro lado chama atenção o descaso da burocracia sindical. No caso do surto na JBS de Passo Fundo, segundo os informes que temos, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação, ligado à CUT, nada fez para mobilizar os seus trabalhadores diante do surto. O Sindicato mesmo antes do surto já deveria estar presente no cotidiano dos trabalhadores, averiguando se as condições sanitárias nesse momento de pandemia estavam garantidas, e ao ver que não estavam, deveria garantir a paralisação dos atividades até que suas demandas fossem atendidas. Após o surto, essa necessidade de paralisação se tornou ainda mais urgente, mas precisou que o poder público interviesse de maneira atrasada e insuficiente. Não é um caso isolado da burocracia sindical, pois em diversos locais de trabalho no Brasil durante a pandemia tem havido retiradas de direitos e descaso com a vida da classe trabalhadora, sem que nenhuma mobilização seja pautada por esses burocratas.

EM DEFESA DA VIDA DA CLASSE TRABALHADORA, PRECISAMOS NOS MOBILIZAR, EXIGIR DAS CENTRAIS SINDICAIS E CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA DE ESQUERDA

Os trabalhadores da JBS de Passo Fundo precisam de nossa solidariedade. A medida do poder público de suspender as atividades por apenas duas semanas é completamente insuficiente, pois a suspensão deveria ser por tempo indeterminado até que se resolva a situação de suas saúdes, com salários e todos os direitos garantidos, incluindo a testagem em massa urgente para os trabalhadores, seus familiares e a população local. Se isso não for realizado, a resposta da categoria deve ser a mobilização, paralisando na marra o local de trabalho e exigindo seus direitos. O Sindicato deve ser cobrado para que se mobilize nesse sentido, assim como todas as entidades da classe trabalhadora, movimentos sociais e organizações de esquerda devem se colocar em apoio a essas reivindicações.

Além disso, o caso dos trabalhadores da JBS deve servir de exemplo para denunciarmos a política genocida da burguesia que tem matado a classe trabalhadora para “não parar a economia” e seguir lucrando às nossas custas. Se enquanto classe não nos mobilizarmos a nível nacional, mais casos assim irão surgir a cada dia. Portanto precisamos nos colocar em movimento, atuando nos locais de trabalho, formando comissões de base para nos mobilizarmos e construir paralisações nas atividades não essenciais, exigindo das grandes centrais sindicais a necessidade de uma greve geral para garantir o isolamento social com salários integrais e todos os direitos garantidos. Nos serviço essenciais deve haver mobilização e exigência de EPIs e todas as condições sanitárias necessárias para evitar a contaminação, com paralisação nos casos de surtos graves como o da JBS de Passo Fundo.

Infelizmente a burocracia da maioria das centrais sindicais (CUT, CTB, Força Sindical, UGT) e a maioria dos partidos da oposição (PT, PCdoB, PDT) têm apostado na linha da paralisia ao invés de construir as mobilizações pelos nossos direitos, por isso precisamos exigir desses setores que rompam com a paralisia organizem a luta, coordenando panelaços e um plano nacional de lutas para unificar as reivindicações da classe trabalhadora e enfrentar os governos, começando pelo Fora Bolsonaro e lutando de fato pelas “Medidas de Proteção à Vida, à Saúde, ao Emprego e à Renda dos Trabalhadores e Trabalhadoras” que constam na plataforma unificada das centrais. Além disso, precisamos construir uma alternativa política antiburocrática que esteja atuante nos locais de trabalho em defesa das nossas vidas, por isso nós da CST (Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores, tendência radical do PSOL) defendemos a necessidade de uma Frente de Esquerda formada pelo PSOL, PSTU, PCB, UP e o sindicalismo combativo como o da CSP-Conlutas para defendermos um programa emergencial alternativo, totalmente oposto à linha de Bolsonaro, Mourão, Eduardo Leite e demais governadores e prefeitos. Para esse programa alternativo defendemos os seguintes pontos:

  1. Por direito de quarentena geral e salário integral. Por testagem massiva, principalmente para os e as trabalhadoras da saúde. Por EPIs e condições sanitárias adequadas nos serviços essenciais.
  2. Por suspensão das cobranças de água, luz, telefone, internet e dívidas com os bancos. Por controle do preço dos combustíveis, produtos farmacêuticos e da cesta básica.
  3. Pela suspensão do pagamento da dívida aos banqueiros, pela taxação das grandes fortunas e estatização dos bancos aplicando esses recursos num plano de reconstrução do SUS e renda básica digna aos desempregados, precarizados e informais.
  4. Fora Bolsonaro e Mourão! É impossível garantir o direito à vida, empregos e salários, bem como às liberdades democráticas para nos mobilizarmos, tendo como governantes um capitão e um general do exército defensores do regime militar de 64.

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