Rebelião popular em Jujuy: aumentar os salários, derrubar a reforma!

Rebelião popular em Jujuy: aumentar os salários, derrubar a reforma!

Escreve Juan Carlos Giordano, Deputado Nacional da Izquierda Socialista – FIT Unidad

Em Jujuy há uma rebelião operária e popular contra o governador, e pré-candidato a presidente por  Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança), Gerardo Morales (UCR), responsável pelo ajuste e pela repressão. Tive o orgulho de apoiar tal rebelião nestes dias, solidarizando-me com os manifestantes em nome da Izquierda Socialista. Algo inédito ocorreu na província: a união entre diferentes setores em torno de um plano de luta. Isso ocorreu a partir do momento em que a heróica greve dos professores por salário – que continua por tempo indeterminado –, junto com outras entidades agrupadas na Inter Gremial, aderiu à campanha “não à reforma”, desenvolvida pelos movimentos sociais combativos e, em especial, pelos povos originários, que sempre contou com o apoio irrestrito da Frente de Izquierda Unidad.

Foram unidos pela reivindicação salarial (contra os salários miseráveis) e pela rejeição total à reforma constitucional antidemocrática, reacionária e autoritária de Morales. Ao melhor estilo Milei, tal reforma está a serviço do saque e da repressão e é apoiada pelos grandes empresários, pela UIA e pela Sociedad Rural de Jujuy. Isso fez com que na última sexta-feira, 16 de junho, após a votação acelerada da reforma na madrugada, houvesse uma greve na província, promovida pela CGT e pela CTA – que foram obrigadas a quebrar seu silêncio -, acompanhada de uma marcha multitudinária, que tomou conta da praça principal. Nela, convergiram professores, caminhoneiros, trabalhadores da saúde, entre uma longa lista de colunas sindicais, organizações estudantis autoconvocadas e comunidades, que caminharam de Quebrada y Puna a San Salvador. E no sábado, dia 17, ocorreram bloqueios de estradas em toda a província (com a solidariedade da Capital), reprimidos de forma selvagem, com dezenas de detidos/as e feridos/as por balas de borracha, que foram disparadas na direção dos olhos dos manifestantes. Os bloqueios continuam e, amanhã, no momento do juramento à nova constituição, haverá uma nova marcha com bloqueios maciços. Até os gaúchos estão se preparando para marchar, enquanto Morales diz que o protesto foi protagonizado por “um turismo piquetero, de gente violenta, que veio de Buenos Aires”.

Gerardo Morales, encorajado pela vitória nas eleições provinciais, decidiu avançar com uma reforma constitucional anti-operária e antipopular, acreditando que se apresentaria politicamente como um candidato à presidência defensor da “ordem”. Mas o tiro saiu pela culatra. Ele não só teve que voltar atrás com a eliminação das eleições legislativas intermediárias e com o dispositivo que deixava o governador com metade do controle da legislatura (maioria automática), como também teve que revogar um decreto repressivo. Agora, acaba de falar, numa conferência de imprensa, de “diálogo e paz”, retificando alguns artigos referentes às comunidades, mas reafirmando a proibição dos protestos, ameaçando com sanções milionárias quem bloquear as vias. Uma manobra, dada a sua fragilidade, para tentar travar o protesto popular, que continua a pedir que toda a reforma seja abandonada e que não se toque nas terras das comunidades, que o governo quer tomar para entregar às multinacionais de mineração e do lítio.

A cumplicidade do peronismo

Morales não está sozinho. O PJ votou na reforma. Uma clara cumplicidade de um peronismo que, ao mesmo tempo em que clama por um “voto contra a direita”, é conivente com tamanha monstruosidade repressiva. Tal cumplicidade foi selada em uma foto em que Morales abraça o vice-presidente do PJ de Jujuy após a votação.

O PJ já tinha viabilizado a reforma com o seu voto. Eles querem ocultar isso, dizendo que a derrubada de alguns artigos foi obtida porque eles eram “contra”, não por causa da mobilização popular. Diante da ira popular, dois constituintes peronistas renunciaram e foram rapidamente substituídos por suplentes, evidenciando a manobra de realinhamento diante do repúdio das massas.

O apoio do peronismo de Jujuy não ocorreu por acaso, já que o ajuste, o saque e a repressão ocorrem no país e nas províncias governadas pelo partido. Recordemos que, após uma operação repressiva especial do governo nacional, sob o comando de Aníbal Fernández, foram detidas ilegalmente 8 mulheres mapuche, presas por oito meses com suas filhas e filhos. Elas foram recentemente libertadas, para evitar maior desgaste político. Em todo o país, é o peronismo que facilita e promove a mega-mineração, no melhor estilo Morales: a entrega do lítio e do petróleo nas mãos das multinacionais.

Os professores estão protestando em 12 províncias, a maioria governada pelo peronismo, como Santa Cruz, contra salários miseráveis ​​e os ataques ao sindicato ADOSAC desferidos por Alicia Kirchner; ou em Salta, por salário e contra a condenável lei anti-piquetera do governador Sáez, ligado a Sérgio Massa.

Isso reafirma o que nós, da Izquierda Socialista e da FIT Unidad, temos dito: que o peronismo de Unión por la Patria, o macrismo e o radicalismo de Juntos por el Cambio e o liber facho Milei significam mais ajuste, saque e submissão ao FMI. E que só a Frente de Izquierda combate-os junto com a classe trabalhadora, defendendo uma saída de fundo.

 

A Frente de Izquierda está incondicionalmente com o povo de Jujuy

A FIT Unidad sempre apoiou a rebelião de Jujuy. Nossos/as seis deputados e deputadas constituintes denunciaram desde o início, implacavelmente, a reforma de Morales com a cumplicidade do PJ. Fizeram-no no parlamento, apesar das manobras para impedir que usassem a palavra, e renunciaram aos seus cargos antes da votação, para mais uma vez deixar clara a sua oposição, posição que foi previamente combinada com as organizações em luta.

A FIT U sempre esteve a serviço dos protestos, a tal ponto que a deputada Natalia Morales, do PTS, foi presa junto com dezenas de lutadores e lutadoras. Isso é um sinal de que o que dizemos fazemos: colocamos a força dos votos que obtivemos nas eleições de 7 de maio passado e de toda nossa militância a serviço do povo trabalhador e das comunidades originárias e no enfrentamento contra o governo da UCR e a cumplicidade do PJ. A mesma força e convicção com que defendemos que se implemente um verdadeiro plano coordenado de luta entre todos os setores, exigindo que a CGT e a CTA de Jujuy convoquem uma greve provincial até que caia a reforma. Por sua vez, o CTERA convocou uma greve nacional para esta quinta-feira. Teve que fazê-lo diante da evidente repressão e somente depois de meses de greves de professores em várias províncias e de semanas de luta em Jujuy.

Nesta terça-feira, 20 de junho, ocorrerá o juramento à “nova” constituição. Haverá uma nova marcha em Jujuy, que será replicada em Buenos Aires junto com o Encontro de Memória, Verdade e Justiça, às 12h, do Obelisco à Casa de Jujuy em CABA. Nós dizemos: aumentar os salários, derrubar a reforma! Liberdade para todos/as os/as detidos/as! Exigimos das centrais sindicais uma greve geral! Sabemos que a saída de fundo passa por impor um governo dos/as trabalhadores/as, do povo e da esquerda, em Jujuy e em todo o país. É por isso que nas lutas e nas eleições continuaremos defendendo esta saída de fundo, com Myriam Bregman para presidente, Pollo Sobrero para governador, Jorge Adaro para Chefe de Governo e tantos/as lutadores/as que estão na lista “Unir e fortalecer a esquerda” da Frente de Izquierda Unidad.

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