Túlio Quintiliano: trotskista brasileiro assassinado por Pinochet

M.Tunes, Coordenação da CST

Há 50 anos era assassinado Túlio Quintiliano. Ele foi uma das milhares de vítimas do golpe de Pinochet no Chile. Túlio militava no PCBR (uma das dissidências do PCB nos anos 60). Perseguido pela ditadura militar no Brasil, ele pede asilo ao Chile governado por Salvador Allende. Na embaixada chilena, ele conhece Mário Pedrosa, que na juventude liderou a oposição de esquerda no Brasil e participou da fundação da IV Internacional. O contato entre eles se manteve no Chile.

Nesse contexto, Túlio e outros exilados brasileiros fundaram os grupos Ponto de Partida, do qual participaram militantes como Zezé, Jorge Pinheiro, Jones, Enio e Jurandir. Eles entram em contato com a IV Internacional e se aproximam da ala minoritária que, assim como o Ponto de Partida, questionava a estratégia foquista e guerrilheirista. Os jovens militantes brasileiros do grupo ponto de partida, dentre eles Tulio, haviam escrito em 1971 o texto “a proposito de um sequestro” criticando as concepções “vanguardistas” da esquerda guerrilheira brasileira, texto publicado em 1972 na Revista da América 8-9 de maio/agosto de 1972. Assim, mantém diálogo com o dirigente peruano Hugo Blanco, Peter Camejo (SWP) e com o PST argentino de Nahuel Moreno. Os dirigentes do SWP e do PST eram as forças centrais da Tendência Leninista Trotskista, posteriormente Fração Leninista Trotskista no interior da IV internacional unificada, lutando contra o desvio guerrilheirista, a capitulação as vanguardas e batalhando pela construção de partidos bolcheviques de combate e pra ação. 

A experiência militante de Túlio Quintiliano foi encerrada muito cedo. Seu calvário final se deu nas mãos do pinochetismo em setembro de 1973. Ele foi preso e levado para o regimento Tacna, um dos mais brutais, onde os militares assassinaram todos os detidos. De acordo com o memorial de mortos e desaparecidos “No dia 12 de setembro de 1973, por volta de 19:30h, Túlio e Beatriz foram detidos em sua casa por uma patrulha militar, e levados à Escola Militar, onde foram interrogados juntos. Beatriz foi liberada em seguida enquanto Túlio ficou detido por não ter consigo seu documento de permanência definitiva no Chile. Beatriz foi instruída a buscar o documento e trazê-lo para que seu marido fosse solto, mas já não o encontrou: Túlio teria sido transferido naquela mesma noite para o Regimento de Artilharia Tacna – usado como centro de detenção provisória nos dias seguintes ao golpe militar e para onde foram encaminhados, entre outros, os membros do GAP (Grupo de Amigos do Presidente), detidos no Palácio de La Moneda e posteriormente fuzilados. Túlio nunca mais foi visto” (https://memoriasdaditadura.org.br).

Logo após o golpe de Pinochet, reunia-se na Argentina o Congresso do PST, um dos partidos com grande implantação operária. Túlio encabeçou a lista dos homenageados, integrando a presidência de honra daquele congresso. Uma justa homenagem ao “trotskista brasileiro assassinado pela junta militar chilena” (Avançada Socialista, jornal do PST, n. 88, dez. 1973).

Alguns dos camaradas que integraram os grupos ponto de partida, após o golpe de Pinochet, seguem para Argentina e passam a militar com o PST liderado por Nahuel Moreno. O PST na época era o maior partido trotskista do mundo e com ampla inserção operária. Esta é base que dá origem a Liga Operária e a construção da corrente Morenista no Brasil.

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