Texto 2 – A fundação da CUT: relato de um dos fundadores da central

Babá, Coordenação Nacional da CST

A fundação da CUT está ligada ao começo do fim da Ditadura Militar no Brasil, a partir das greves dos metalúrgicos no ABC Paulista entre 1978-80. Estas foram uma série de manifestações operárias ocorridas na Região do Grande ABC, no principal setor da produção de automóveis, que tiveram como centro a Região de São Bernardo do Campo, em meio ao processo de abertura política que levou ao fim, anos depois, a Ditadura Militar que comandava o país desde 1964, e fez ressurgir o movimento sindical brasileiro, com o recrudescimento da repressão promovida pelo regime militar. Na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, estava o atual presidente do Brasil, Luís Inácio da Silva, já conhecido como Lula. Eu fui parte desse processo de mobilização nacional como ativista das greves das universidades, e, posteriormente, como dirigente da ASUFPA (depois SINTUFPA) e da FASUBRA. Estive na fundação destas organizações sindicais, e, em seguida, compus a coordenação nacional da CUT, nos anos 80.

Operários e Operárias em greve

O movimento grevista começou em 1978, com uma série de paralisações espontâneas nas cidades da região do ABC, especialmente no setor dos metalúrgicos, em protesto contra as políticas de arrocho salarial e reivindicando liberdade e autonomia sindical. Nesse período, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo separou-se da Federação dos Metalúrgicos de São Paulo.
No dia 13 de março de 1979, poucos dias antes da posse do general João Figueiredo em Brasília, os metalúrgicos de São Bernardo, Diadema, Santo André e São Caetano deflagraram a greve dos metalúrgicos, cuja principal reivindicação era o reajuste salarial de 78,1%, além de melhoria nas condições de trabalho. A adesão foi maciça: estima-se que cerca de 200 mil trabalhadores cruzaram os braços, deixando às moscas fábricas importantes como as da Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen. No primeiro de maio, aproximadamente 150 mil pessoas ocuparam o Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.

A greve é direito

A pedido da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o Tribunal Regional do Trabalho declarou a greve ilegal e determinou o retorno imediato dos operários ao trabalho. Os trabalhadores não acataram a decisão da Justiça, e, após uma assembleia com 80 mil pessoas, decidiram pela continuidade da greve, criando um fundo para financiá-la, uma medida inédita no Brasil da Ditadura Militar. Com essa medida, foi permitido que os trabalhadores em greve recebessem doações da sociedade civil, o que fortaleceu a resistência ao longo dos dias, por meio de piquetes que enfrentavam a justiça e as repressões
do regime militar. Na sequência, o então Ministro do Trabalho, Murilo Macedo, determinou a intervenção federal nos sindicatos. A partir dessa conivência da Justiça com a burguesia e com a ditadura militar, os líderes da greve passaram a se reunir na Igreja Matriz de São Bernardo, com a total concordância do Bispo Dom Cláudio Hummes. A greve ganhou e impulsionou os nascentes movimentos sociais; com apoio da Igreja Católica e de vários artistas e intelectuais, a Greve do ABC impulsionou grande força simbólica e limitou as ações repressivas da ditadura militar. Quatro dias após a intervenção, em 27 de março, Lula, que já era a grande liderança dos metalúrgicos e dos movimentos sociais, propôs uma trégua de 45 dias na greve, para negociar com a patronal um acordo de aumento salarial. Ao final da trégua, em 13 de maio, uma nova assembleia aprovou a nova proposta da patronal de um aumento de 63% de reajuste salarial. A Greve do ABC foi uma injeção de ânimo para todos os trabalhadores brasileiros e também fortaleceu a luta contra a ditadura militar e à repressão sobre os movimentos sociais da cidade e do campo, um ideal que foi fortalecido com uma nova greve dos metalúrgicos em 1980. Estes enfrentamentos enfraqueceram o regime militar e aceleraram a reabertura política e a futura queda da ditadura militar no país, que fortaleceu os movimentos sindicais e impulsionou a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), no início de 1980.

A fundação da CUT

O processo de fundação da CUT esteve ligado aos processos de lutas dos trabalhadores nas cidades e no campo nos anos de 1980 a 1983. Outras greves importantes foram impulsionadas a partir dali, como foi o caso das greves do movimento docente nas universidades federais, em 1980 e 1981. Estas greves cumpriram um papel importante nas lutas dos servidores públicos federais, que obtiveram importantes vitórias contra o regime militar. No ano de 1983, na cidade de São Bernardo do Campo, foi criada a CUT, no dia 28 de agosto, quando ocorria o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT). Cerca de mais de 5 mil homens e mulheres das cidades e do campo, do Brasil inteiro, se deslocaram de ônibus até São Bernardo do Campo para fundar a Central Única dos Trabalhadores, se alojando nos dois galpões dos antigos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.
Naquele ano, os trabalhadores se envolveram em um movimento a favor da central sindical que se espalhou pelo país, denominado Movimento Pró-CUT. Greves e mobilizações se espalharam pelo Brasil, contra a política econômica ditada pelo regime militar e o seu autoritarismo.

A greve geral foi o caminho

As lutas contra os decretos-leis da ditadura foram levadas a cabo pela Comissão Nacional Pró-CUT, criada pelos trabalhadores para impulsionar e organizar a greve geral realizada em 1983. Segundo avaliação realizada nos estados, cerca de 136 entidades participaram do movimento grevista, contra o regime militar. O movimento contou com a participação direta de mais de dois milhões de trabalhadores dos setores privado e público e afetou outras 40 milhões de pessoas, principalmente por meio das paralisações nos meios de transporte.
Por sua vez, a fundação do MST, pelo que me lembro, tem seu contexto nas mobilizações no campo iniciadas em 1979, de norte a sul do país, quando começaram os enfrentamentos entre trabalhadores rurais e os grandes latifundiários. Estas ocorrências culminaram na realização do Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que foi realizado entre 21 e 24 de Janeiro de 1984, em Cascavel, no estado do Paraná, após a fundação da CUT em 1983.

Fundando a nova central e lutando contra uma nova burocracia

Gostaria de destacar aqui que nossa corrente, a Convergência Socialista, parte da corrente trotskista internacional liderada por Nahuel Moreno, conseguiu definir – depois de muitos debates nacionais e internacionais e intervenção concreta no Brasil e em outros países – o caráter da nova burocracia que estava à frente da CUT. A corrente da Articulação Sindical, comandada por Luís Inácio Lula da Silva, sempre dominou a CUT desde sua fundação. Gostaria de ilustrar isso a partir do seguinte exemplo: quando Lula assumiu a presidência do PT em 1980, assumiu em seu lugar na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Jair Meneguelli. Em 1983, Jair Meneguelli assumiu a presidência da CUT, e, em seu lugar, Vicentinho assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Após Jair Meneguelli ter sido eleito deputado federal, nas eleições de 1998, Vicentinho assumiu a presidência da CUT, e Luís Marinho, que era secretário do Sindicato, assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Nos anos 90, a liderança da CUT reduziu imensamente sua política de enfrentamento, e ações da central passaram a ceder aos planos de FHC, via câmaras setoriais ou reforma da previdência do PSDB. Por fim, eles levaram a central a ser a correia de transmissão do governo do PT. Quando Lula foi eleito presidente nas eleições de 2002, Jair Meneguelli assumiu a presidência do Ministério do Trabalho, durante os dois primeiros mandatos de Lula na presidência da República (2003-2010), continuando como presidente do TRT nos mandatos de Dilma Rousseff (2011-2016). A CUT assumiu um papel governista durante todos os mandatos de Lula e Dilma, controlando e impedindo qualquer luta contra os governos do PT. Nesses momentos, nós, da CST, nunca compactuamos com tais atitudes, e sempre combatemos dentro da CUT a Articulação Sindical e seus aliados. Posteriormente, ajudamos a fundar a CSP-CONLUTAS, central que nós construímos hoje
Veja aqui algumas imagens do encontro num documentário da CUT https://www.youtube.com/watch?v=6H3WrDkWeJ4&t=112s
Confira o cartaz de convocação da greve geral https://cedoc.cut.org.br/cedoc/cartazes/2786

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