Metroviários de SP

Por Diego Vitello – Diretor do Sindicato dos Metroviários e Metroviárias de SP

Congresso discute os rumos da luta contra a privatização

Entre os dias 11 e 14 de abril ocorreu o 14º Congresso dos Metroviários e Metroviárias de São Paulo, categoria de forte peso na cidade e que protagonizou em 2023 duas fortíssimas greves contra o projeto de privatização do governador Tarcísio. Foram dias de muito trabalho, em que a CST e a Combate Sindical estiveram presentes, apresentando suas posições para os delegados e demais organizações políticas e sindicais.

O debate nacional e a luta contra as privatizações

Estivemos representados na mesa pelo companheiro Michel Tunes, da direção nacional da CST. Apresentamos a necessidade de combater a extrema direita e seu projeto privatista desde uma posição independente do governo Lula. Sem subestimar o perigo real da extrema direita, devemos combater a política de Lula de pactos com o governador de SP. Além disso, colocamos que é completamente errada a política do presidente para os militares. Ao invés de acabar com o GSI e a ABIN, o governo manteve todos os privilégios da alta cúpula militar. Mostramos com dados o apoio de Lula a Tarcísio no seu projeto de privatização. A partir do BNDES, o governo federal financiou a privatização da Linha 7 – Rubi da CPTM. A tentativa de Lula de incorporar Tarcísio na frente ampla foi nefasta para a luta contra a privatização que temos travado nos últimos meses. Além disso, denunciamos a política de ajuste fiscal do governo, colocando como tarefa fundamental do momento o apoio à greve das universidades, que enfrenta a política do governo do PT para a educação. Portanto, precisamos ter independência do governo Lula, além de exigir que o governo federal pare imediatamente de financiar as privatizações no Estado de SP.

Balanço e perspectiva da luta contra a privatização

Nessa mesa estivemos com o companheiro Diego Vitello, da direção do Sindicato dos Metroviários e da coordenação nacional da CST. Apresentamos nossa visão sobre a luta feita ano passado contra as privatizações e também como vemos os próximos passos do enfrentamento contra o governo da extrema direita em SP.

Valorizamos muito a luta unitária do ano passado, que contou com duas greves unificadas entre metroviários, ferroviários e sabespianos. Reconhecemos o papel cumprido pelo nosso sindicato nessa articulação. Acreditamos que o diálogo com a população, expresso em mais de 900 mil votos no Plebiscito Popular Contra as Privatizações, foi muito importante.

Porém, há duas visões das quais discordamos no balanço da luta do ano passado. A primeira é a de que “todos fizeram tudo que foi possível pela luta unitária”, que é compartilhada pela corrente Resistência e também pela oposição da CTB/CUT. Infelizmente, não foi assim. Para exemplificar, a APEOESP, maior sindicato do estado, dirigido pela CUT, não fez nenhuma assembleia antes das greves do ano passado. Se negou a unificar a luta contra Tarcísio. Desde a mesa colocamos que isso é uma consequência do atrelamento de seus dirigentes ao governo federal, que infelizmente tem ajudado Tarcísio e seu projeto de privatizações. Então, temos que colocar que as direções das principais centrais sindicais fizeram muito menos do que poderiam na luta contra as privatizações.

Do outro lado, está uma visão corporativa, que não valoriza o diálogo com a população e coloca que a partir de uma greve por tempo indeterminado dos metroviários já poderíamos ter derrotado o processo de privatização. Essa visão desconsidera a correlação de forças entre as classes e, obviamente, faz um balanço de que a atual diretoria do sindicato é corresponsável por ainda não termos derrotado a privatização. Em maior ou menor medida, essa ideia equivocada é compartilhada pelo MRT e por alguns companheiros independentes da agrupação Sindicato nos Trilhos.

Também discutimos os próximos passos do enfrentamento ao governo Tarcísio. Nos posicionamos, contra todas as outras correntes que compunham a mesa (Resistência, PSTU e PCdoB), pela volta das assembleias 100% presenciais como forma de mobilização da categoria e ampliação da democracia operária. Como Combate Sindical, propusemos um ato de rua contra as privatizações e a retomada do calendário de greves unificadas. Sabemos que o governo quer leiloar as linhas 10, 11, 12 e 13 da CPTM no segundo semestre e que somente uma forte greve pode colocar a possibilidade de derrotar esse processo. Colocamos também a necessidade de exigir também que as centrais sindicais cumpram o papel de unificar essa luta inclusive com outras categorias.

Conclusão e próximos passos

Fizemos um Congresso positivo, no marco de duros ataques à categoria metroviária. Na plenária final, os pouco mais de 100 delegados presentes discutiram questões fundamentais da luta da categoria e da política.

Algumas resoluções votadas pela maioria dos delegados, por margem apertada, nós não temos acordo. A necessidade de exigir das centrais sindicais e também criticar a atuação do governo Lula não esteve presente na resolução de conjuntura que ganhou, apresentada pela Resistência/PSOL, UP, PCdoB e PT. Coerente com essa visão, votaram também o apoio a Boulos e à Frente Ampla nas eleições municipais. Foi positivo que o Congresso votou por unanimidade o formato de Conselho Deliberativo, fortalecendo a democracia pela base, onde diretores do sindicato, cipistas e delegados sindicais poderão tomar decisões sobre a luta da categoria. Nós, da Combate, também batalhamos pela volta das assembleias presenciais, proposta que contou com o voto de cerca de 30% dos delegados, mostrando o fortalecimento dessa proposta na categoria.

Nossas tarefas na próxima semana estarão em torno da campanha salarial. A mobilização já começou com a retirada de uniforme na operação no dia 16/04. Estamos participando das setoriais na manutenção, que têm demonstrado disposição da categoria para brigar por direitos. Construir uma forte campanha neste momento é parte fundamental do nosso enfrentamento à privatização. Durante a campanha, além da mobilização interna da própria categoria, que pode culminar em uma nova greve, é tarefa fundamental do sindicato manter o diálogo com a população, através das cartas abertas nas estações e outras iniciativas.

Extrema direita quer destruir o Sindicato

Para facilitar o processo de privatização, o governador Tarcísio entrou na Justiça comum com duas ações contra o Sindicato. O governo exige que o Sindicato pague por supostos prejuízos causados pelas greves de outubro e novembro de 2023. Somadas, as ações buscam cobrar R$14 milhões do Sindicato. Trata-se de um verdadeiro atentado contra o direito de greve! Uma tentativa de intimidação ao conjunto do movimento sindical!

Completando o cenário de ataques, o governo ainda fez a Polícia Federal abrir um inquérito contra a presidenta do Sindicato, Camila Lisboa. Nas próximas semanas, ela terá que “prestar esclarecimento” sobre as greves. Uma absurda tentativa de intimidação política.

Esse processo está diretamente vinculado à visão política da extrema direita, defensora da ditadura militar, de que os sindicatos não podem ter nenhuma liberdade, as greves devem ser proibidas e os sindicalistas devem estar presos.

Frente a esses absurdos, na sexta, dia 12/04, o Congresso da categoria organizou um importante ato político em defesa do direito de greve, que contou com diversas organizações políticas, assim como personalidades e sindicalistas.

Reintegração imediata de todos os demitidos políticos

Para intimidar a categoria metroviária e abrir mais facilmente o caminho da destruição da empresa pública, o governador Tarcísio e a direção do Metrô demitiram, em outubro passado, oito metroviários, em sua maioria diretores do sindicato e cipistas. Uma evidente perseguição política. Dos demitidos, através de nossa luta, já conseguimos a reintegração do companheiro Altino, que atualmente é diretor do sindicato. Nós, da CST e da Combate, estamos juntos nessa luta pela reintegração. Confira abaixo as declarações de alguns dos demitidos políticos do governo Tarcísio:

“Estamos em uma guerra contra as privatizações de Tarcísio, que têm apoio do governo Lula através do financiamento do BNDES e da Lei das PPPs. Também têm apoio do prefeito Ricardo Nunes, que também apoia a privatização da SABESP que ocorre neste momento na Câmara de Vereadores. Nessa luta fizemos duas batalhas muito grandes, que foram as greves unificadas que pararam a cidade, e também um plebiscito com 900 mil votantes. Por termos feito essa luta, o governo perseguiu a categoria, com advertências, punições e demissões. Eu sou um dos demitidos e a gente segue na luta pela reintegração, mas sobretudo contra as privatizações.”

Narciso Soares, vice-presidente do Sindicato e Operador de Trem da Linha Verde.

 

“As demissões políticas são parte dos ataques do governo de extrema direita de Tarcísio e do Metrô-SP para passar o seu plano privatista. Punem os trabalhadores, atacam o sindicato e nosso direito de greve para nos calar porque nossas greves demonstraram a disposição de luta categoria. A luta pela nossa reintegração é parte da batalha contra as privatizações. As Centrais Sindicais se subordinam à conciliação de classes do governo Lula-Alckmin, que fortalece a extrema direita. É urgente que elas saiam da paralisia e organizem a luta para derrotar Tarcísio e seu plano!”

Priscila Guedes, Cipista e Operadora de Trem da Linha Verde.

 

“Na luta contra as privatizações em São Paulo, Tarcísio de Freitas, governador bolsonarista, ataca a categoria metroviária por fazer parte de um Sindicato que representa o obstáculo ao projeto privatista no estado. Para isso, assedia, pune e demite metroviárias e metroviários. E nessa luta contra a privatização é fundamental uma campanha pela reintegração de todas e todos que sofreram perseguição para fortalecer a unidade em defesa dos serviços públicos e garantia de empregos.”

Alex Fernandes.

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