O “Plano de Paz” de Trump é uma tentativa de uma nova colonização de Gaza.

Do Egito, após passar por Israel, Donald Trump anunciou ao mundo o início da “era de ouro do Oriente Médio” e que “finalmente teremos paz”. Trump não se cansava de se apresentar como o suposto grande pacificador mundial e de se gabar de que “este é o amanhecer histórico de um novo Oriente Médio”. Ele fez o pronunciamento cercado por representantes de vários governos burgueses árabes e muçulmanos e por governantes imperialistas europeus, como Macron, da França, Meloni, da Itália, Starmer, do Reino Unido, e Pedro Sánchez, da Espanha.

O documento, intitulado “A Declaração de Trump para a Paz e Prosperidade Duradouras”, traz as assinaturas de Trump; do presidente egípcio Abdul Fatah Al-Sisi; do presidente turco Recep Tayyip Erdoğan; e do emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani.

Surpreendentemente, nem o governo israelense nem a direção do Hamas, os principais protagonistas, estavam presentes nem assinaram a declaração. Isso demonstra que o “plano de paz” não tem base sólida e não é efetivamente aceito pelo próprio Estado sionista.

Nós, da UIT-QI, logo apontamos que o suposto acordo de paz não tem nada a ver com a paz, mas sim com uma tentativa de impor uma nova colonização de Gaza. Consiste em 20 pontos que buscam estabelecer um protetorado do imperialismo como um todo e do Estado genocida de Israel em particular. É também uma tentativa de Trump de salvar Netanyahu, em meio ao enorme e crescente isolamento mundial do sionismo israelense.

Milhões foram às ruas para repudiar o genocídio e apoiar a causa palestina. Houve duas greves gerais sem precedentes na Itália (22 de setembro e 3 de outubro), com marchas multitudinárias em apoio ao povo palestino e em defesa da histórica Flotilha Global Sumud. A flotilha foi histórica porque, pela primeira vez, reuniu mais de 50 navios, com quase 500 tripulantes de 44 países. Uma delegação da UIT-QI participou da flotilha. Meio milhão de pessoas se mobilizaram em Londres em 12 de setembro. Uma greve ocorreu na Espanha em 15 de outubro. Tudo isso forçou Trump a adotar a manobra do “plano de paz”, buscando apresentar os Estados Unidos e a si mesmo como os “garantidores da paz” no Oriente Médio. Quando, na realidade, são os apoiadores históricos do Estado genocida de Israel e promotores de todas as agressões militares imperialistas na região e no mundo.

A crise enfrentada por Israel e seu governo criminoso é tão grande que – após dois anos de bombardeios, destruição em massa e milhares de mortes de palestinos – não conseguiram declarar vitória. E Trump teve que inventar um suposto plano de paz. Parece ser uma tábua de salvação para Netanyahu, depois que o maior isolamento internacional da história de Israel foi evidenciado na sessão quase vazia da ONU. É um resultado direto da crescente pressão sobre os governos, exercida pelo movimento mundial de massas em solidariedade ao povo palestino, exigindo o isolamento dos genocidas e de seus cúmplices. O plano foi apresentado no momento em que expirou o prazo dado pelo governo israelense às suas tropas para conquistar a Cidade de Gaza, um objetivo ainda longe de ser alcançado e sem conseguir libertar os reféns. E no momento em que há sinais de esgotamento e dificuldades para substituir as tropas sionistas.

O próprio Trump disse isso abertamente em seu discurso ao parlamento israelense: “Uma Gaza em escombros e crianças morrendo de fome mancharam tanto o nome do primeiro-ministro israelense que não havia escolha a não ser pôr fim a isso. Eu disse a ele: ‘Bibi (Netanyahu), você será lembrado por isso (o plano de paz) muito mais do que se tivesse continuado assim, matando, matando’” (Clarín, Argentina, 14/10/2025).

A primeira fase do “plano de paz” é uma trégua com cessar-fogo, a libertação dos reféns e de quase 2.000 prisioneiros palestinos, a retirada do exército sionista de 47% do território de Gaza e a entrada de ajuda humanitária. Milhares de palestinos foram às ruas para celebrar o cessar-fogo e, imediatamente, centenas de milhares iniciaram seu retorno ao norte de Gaza.

Os palestinos ganharam um respiro, enquanto aumentam as cifras de destruição e mortes provocadas pela máquina assassina israelense, que praticou todos os crimes imagináveis. O cessar-fogo representa uma pequena, mas importante, vitória para o povo palestino, que sofre com genocídio, fome e um plano de limpeza étnica.

O povo palestino sabe que esta é apenas uma trégua parcial e que o sionismo pode retomar seus crimes a qualquer momento. Israel já assinou ou aceitou outros “acordos de paz”, como o de março de 2025, que rompeu unilateralmente no momento em que deveria se retirar de Gaza.

Uma demonstração da falsidade e da fragilidade da “paz de Trump” é que, 24 horas após o anúncio, Israel denunciou uma “violação do acordo”, por conta da não devolução dos corpos dos reféns falecidos. Eles sabem que os corpos estão sob os escombros, junto os de milhares de palestinos, resultado dos bombardeios criminosos de Israel.

O plano de 20 pontos é uma tentativa de uma nova forma de colonização do povo palestino, que não pode ser aniquilado. Propõe que Gaza seja governada por um comitê internacional com “técnicos palestinos” e presidido pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, com o próprio Trump como consultor remoto.

Há grandes contradições. Agora, em troca da devolução dos reféns feita pelo Hamas, a proposta é não expulsar os palestinos de Gaza. Antes, eles diziam que os palestinos teriam que ir para outros países e até ofereciam US$ 5.000 por pessoa para sair. O plano de expulsão em massa, anunciado por Trump em fevereiro e ratificado por Netanyahu, teve que ser abandonado diante da resistência palestina, do esgotamento militar sionista e do crescente isolamento internacional, fruto das mobilizações massivas.

O plano afirma que Israel deve retirar gradualmente suas tropas de Gaza, impedir novas invasões de colonos na Cisjordânia e até propõe a existência de um Estado palestino no futuro. Em outras palavras, ele retoma a utopia reacionária de “dois Estados”. São pontos que Netanyahu e seus ministros nazistas consideram inaceitáveis.

O plano de Trump para a Faixa de Gaza inclui um fundo fiduciário, liderado pelos EUA durante dez anos, e incentivos para investidores imobiliários apostarem na “reconstrução de Gaza”. Em outras palavras, a “paz” de Trump está ligada à garantia de um negócio multimilionário, supostamente financiado pelas monarquias petrolíferas árabes, em benefício de seus “sócios”: seu genro, Jarden Kushner, e o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ambos investidores na área da construção.

Esse novo plano de colonização conta com o apoio da União Europeia (UE), dos governos burgueses árabes (Arábia Saudita, Egito, Catar e Jordânia) e da Turquia, entre outros. Isolado, o Hamas não o rejeitou categoricamente, mas afirmou querer discutir vários pontos. Disse também que não se desarmaria até ter garantias de que Israel se retiraria de Gaza e da Cisjordânia, e que só o faria na presença de um verdadeiro governo palestino. Uma maneira elegante de dizer “não”. O genocídio acabou? Acreditamos que não. Houve outras tentativas de pactos, sempre rompidos por Israel.

Por que não acreditamos que, mesmo com a trégua parcial, haverá uma solução de fundo? Porque o genocídio começou há 78 anos. Israel não é um país; é um enclave imperialista, uma construção artificial e racista. O imperialismo criou esse enclave como ponta de lança para explorar os povos árabes e seus recursos petrolíferos.

Não haverá paz até que o Estado racista e colonial de Israel acabe e que uma Palestina única, livre, laica, democrática e não racista seja estabelecida, para a qual a diáspora palestina possa retornar. Em que os/as palestinos/as, sejam muçulmanos, judeus ou cristãos, desfrutem todos dos mesmos direitos e liberdades.

Portanto, o único caminho a seguir é continuar impulsionando a mobilização dos povos do mundo. Nós, da UIT-QI, defendemos a mobilização permanente pelo rompimento das relações de todos os governos com o Estado sionista. Por um boicote artístico, comercial, esportivo, militar e diplomático a Israel. A Palestina é hoje o símbolo da luta de todos os povos contra a barbárie imperialista.

Palestina livre, do rio ao mar! A Palestina vencerá!

Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores –

Quarta Internacional (UIT-QI)

14/10/2025

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