Gaza chama, a Itália responde: crônica das manifestações da classe operária italiana em apoio ao povo palestino, contra o sionismo e contra o governo do país, seu cúmplice.

Por Movimento por uma Liga Marxista Revolucionária, seção da UIT-QI na Itália
“Se perdermos contato com nossos navios por 20 minutos, bloquearemos a Europa. Não deixaremos um único prego escapar.”
E assim foi. Não apenas no porto de Gênova – em que, diante do ato de pirataria da Marinha israelense contra a Flotilha Global Sumud em águas internacionais, foram fechados os portões e abandonadas as docas –, mas por toda a Itália. Multidões invadiram as ruas da península. Houve um verdadeiro despertar da classe operária e do povo italiano, que apoiaram maciçamente a Flotilha em sua tentativa de levar ajuda humanitária a Gaza e romper o bloqueio naval ilegítimo e criminoso. De quinta-feira, 2 de outubro, a domingo, 5 de outubro, cerca de 2 milhões de manifestantes tomaram as ruas das cidades italianas. Roma, Gênova, Milão, Nápoles, Bari, Taranto, Livorno e Veneza, algumas das principais cidades do país, juntaram-se, agitando a bandeira palestina e gritando: “Palestina livre, do rio ao mar!”. Foi – e continua sendo – uma forte onda de indignação do povo italiano diante da tentativa de extermínio do povo palestino. Uma onda de protestos que eclodiu na noite de quinta-feira em Roma, em frente ao prédio do governo, com 15.000 manifestantes e a presença da Unione Sindacale di Base (União dos Sindicatos de Base), que, ao saber da notícia do ataque, correram para a praça para exigir a intervenção do governo, cientes de que a presidente Meloni havia feito muito pouco para proteger seus compatriotas a bordo dos navios da Flotilha, já que estava ocupada demais em garantir apoio ao criminoso Netanyahu. O choque e a raiva continuaram com a greve geral de sexta-feira, dia 3, declarada pela CGIL e pela USB, uma greve que reuniu quase 1,5 milhão de trabalhadores nas praças italianas. Mas a força do movimento não terminou na sexta-feira; continuou com a manifestação massiva de sábado, na qual um milhão de pessoas, só em Roma, gritaram contra as políticas coloniais e genocidas de Israel e manifestaram apoio à causa Palestina. Havia pessoas de diversas origens: trabalhadores, estudantes, famílias, sindicatos e partidos políticos. Entre eles, à nossa maneira, estávamos presentes como Liga Marxista Revolucionária, seção italiana da UIT-QI. Finalmente, na segunda-feira, 6 de outubro, houve novamente bloqueios de estradas e passeatas espontâneas, não autorizadas, com a polícia e os Carabinieri forçados a apenas observar a movimentação dos manifestantes. A desigualdade entre o número de pessoas presentes nas praças e o contingente das forças de segurança burguesas foi favorável aos manifestantes. Em algumas situações, a polícia expressou simpatia pelos manifestantes, baixando capacetes e escudos. A cena social italiana não testemunhava protestos tão expressivos nas praças desde o G8 em Gênova (2001) e a grande manifestação em defesa do Artigo 18 do Estatuto dos Trabalhadores (2003). Se excluirmos o breve interlúdio representado pela ocupação da praça romana pelo movimento estudantil contra o governo Berlusconi (dezembro de 2010), pode-se dizer que, após mais de 20 anos, a resistência palestina comoveu as almas e os corações da classe operária italiana. A experiência pró-palestina das praças italianas suscita algumas reflexões:
1. A história e a dialética entre as classes são marcadas por saltos. Na Itália, após vinte anos de letargia, um movimento de massas irrompeu repentinamente, por enquanto sem uma direção única, mas capaz de ditar ou condicionar a agenda do governo e da oposição oficial.
2. O sindicato mais combativo, mas menos representativo, forçou o sindicato mais forte a ir às ruas, fazendo com que seu peso fosse sentido numérica e organizacionalmente. Isso obrigou a burocracia sindical a se deslocar para a esquerda.
3. O motor da revolta foi a classe operária. Porém, não o setor metalúrgico, ou seja, o setor industrial propriamente dito, mas o setor portuário, ou seja, da indústria de transportes. Isso é um sinal de que o capital pode ser atingido tanto pelo setor da classe operária em que, na divisão do trabalho, a mais-valia é gerada quanto pelo setor em que a mais-valia é dividida entre produção e circulação.
Agora cabe às organizações operárias dar continuidade a esse compromisso de luta em apoio à resistência palestina, especialmente após o vergonhoso plano de paz assinado por Trump e Netanyahu, que transforma a Palestina — ou, mais precisamente, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia — num protetorado, já que os sionistas se recusam a aceitar um Estado palestino. Todos em Roma, no dia 25 de outubro, para lutar por uma Palestina livre, laica e socialista, do rio ao mar!