Os culpados não podem ficar impunes

Mortes em Santa Maria |

Por Claudia Reis, PSOL-RJ

No domingo 27/1 a dor e a impotência tomou conta da população. Uma nuvem de fumaça escureceu Santa Maria. Uma tragédia anunciada acabou com o futuro de 231 jovens. A soma de erros e falhas na segurança e fiscalização anunciava o desastre.

O incêndio da boate Kiss é mais um entre tantas catástrofes que acontecem pela irresponsabilidade e descaso dos governantes. Não foi uma fatalidade, foi negligência, imprevidência, incompetência. Houve culpados. O governador Tarso Genro declarou: “Falar em culpa de alguém é falta de respeito. A culpa vem da apuração das causas e é isso que a Policia Civil está orientada a fazer”. O Prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer lamentou: “É ruim para todos nós”, resumiu. “Não faltaram leitos hospitalares, remédios ou médicos”. O que faltou foi uma fiscalização responsável e um controle exaustivo do cumprimento das normas de segurança para funcionamento dos locais que o prefeito e o governador não assumem.

Encontrar os culpados não é uma tarefa difícil. Jogar a culpa para “apuração dos fatos” é discurso conhecido que significa esperar a poeira baixar para impor a impunidade.
Em 2004 um fato parecido aconteceu em Buenos Aires na Argentina. Um incêndio na boate Cromanhon matou 194 jovens. As famílias não esqueceram e não ficaram esperando a apuração dos fatos. Organizaram-se, mobilizaram-se, apelaram ao apoio da população que aderiu gerando fortes campanhas de denúncias. Os protestos levaram ao impeachment ao então prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra. Encaminhou-se um processo. O empresário da banda que tocava naquele dia e o proprietário da casa incendiada foram presos. As medidas de funcionamento para as casas noturnas se tornaram mais rigorosas e participaram na sua elaboração professionais e familiares das vítimas.

Este é só um exemplo. Vivemos submergidos em desastres cotidianos, mortes nas portas dos hospitais desmantelados, mortes nas estradas sem sinalização e reparos, mortes em morros e locais de risco em épocas de chuva, mortes porque desabam prédios sem fiscalização. Sonhos e ilusões enterradas. A tristeza toma conta, mas a indignação também. Chega de impunidade. O caso da Argentina tem que ser um espelho, traçar o caminho mobilização e luta para condenar os culpados.