Argentina: Votar contra o ultradireitista Milei

Traduzimos a posição da Izquierda Socialista (IS), seção da UIT-QI na Argentina, sobre o segundo turno da eleição presidencial disputada entre Sergio Massa e Javier Milei, que irá ocorrer no dia 19/11. A IS participa da Frente de Esquerda – Unidade (FIT-U) e no primeiro turno fez parte da campanha para a chapa presidencial de Myriam Bregman e Nicolás del Caño, defendendo uma alternativa de independência de classe. Agora, no segundo turno, deliberou por chamar o voto crítico em Massa para derrotar o ultradireitista Milei. Leia a nota completa:

 

No próximo domingo, 19 de novembro, acontecerá o segundo turno, uma eleição excecional em que só teremos dois competidores: Sergio Massa e Javier Milei. Nós, da Izquierda Socialista – partido que integra a Frente de Esquerda – Unidade desde sua fundação -, em primeiro lugar, queremos apontar que se trata de uma disputa entre dois candidatos patronais que, com seus distintos projetos e especificidades, representam os grandes empresários, os bancos, as multinacionais e o FMI. São duas variantes do ajuste contra a classe trabalhadora. Um deles, Sergio Massa, já está aplicando esse ajuste através do governo que ele mesmo integra, junto a Alberto e Cristina Fernández, apoiado pela burocracia sindical. O outro, o ultradireitista Javier Milei, que não deixa de anunciar seu plano “motosserra” contra o povo trabalhador. Por isso, dizemos que, ganhe quem ganhar, seguirá sendo aplicado um maior ajuste e submissão ao Fundo Monetário, o que enfrentamos desde já, defendendo, como fizemos com a FIT-Unidade, uma saída alternativa: a ruptura com o FMI, o não pagamento da dívida, um plano econômico operário e popular e um governo da classe trabalhadora junto à esquerda.

Repudiamos os fascistas de Milei-Villarruel por encarnarem um projeto ultradireitista e retrógrado. Milei reivindica o genocídio da última ditadura, com o objetivo de libertar os militares julgados por suas violações aos direitos humanos (torturas, roubo de bebês, desaparição de 30 mil pessoas) e de seguir atacando as liberdades democráticas fundamentais, como o direito de protesto. Por isso, recebe apoio do genocida preso “Tigre” Acosta e de Cecilia Pando.

Somos parte do legítimo sentimento que move milhões que repudiam essas figuras diante do perigo que representa a chegada ao poder daqueles que reivindicam o genocídio e defendem um “plano motosserra” contra o povo trabalhador.

Sabemos que, no dia 22 de outubro, milhões optaram por votar em Massa, Ministro da Economia do atual governo, para impedir o avanço do nefasto projeto político, econômico e cultural de Milei. Esses votos se deram, em muitos casos, apesar de conhecerem a trajetória política de Massa e seus vínculos com o poder econômico e o FMI. Massa é responsável pela brutal inflação de 140% ao ano e pela enorme perda salarial e das aposentadorias desse governo, pelo brutal saque extrativista e poluente, vindo de um governo que criminalizou os protestos sociais e pactuou com o FMI o reconhecimento da fraude macrista de 45 bilhões de dólares através de uma dívida externa usurária e fraudulenta. Somente o enorme temor de uma vitória de Milei explica que muitas e muitos tenham decidido votar no candidato do governo, que passou de 21% a 36,6% dos votos (das primárias para o primeiro turno), ficando em primeiro contra o ultradireitista Milei, que acabou com 29% no primeiro turno.

Para este segundo turno, essas milhões de pessoas provavelmente repetirão e os votos podem aumentar, porque, ainda que não confiem nem se enganem com Massa, votarão outra vez com o nariz tapado buscando impedir que o ultradireitista Milei chegue ao poder. A Izquierda Socialista, que constrói a FIT-Unidade, também repudia Milei por ser um fascista-ultradireitista e antioperário, que reivindica o genocídio da ditadura de Videla. Propõe mercantilizar e cobrar pela educação e saúde. Defende a venda de órgãos humanos e de armas de fogo. A privatização das ferrovias, das Aerolíneas Argentinas e demais empresas estatais, com milhares de demissões, que se somariam ao fechamento de várias entidades estatais, da cultura, da ciência e da tecnologia. Além disso, pretende acabar com os acordos coletivos de trabalho e os direitos conquistados pelo movimento feminista, como o aborto legal e a educação sexual integral (ESI), entre outros ataques.

Por tudo isso, nós, da Izquierda Socialista, partido integrante da FIT-Unidade, somamo-nos a esse repúdio político-eleitoral contra Milei, que busca se fortalecer eleitoralmente aliando-se com o setor reacionário de Macri e Bullrich, que já governaram contra o povo trabalhador e agora engrossam sua mensagem de “ajuste com ordem”, ou seja, com repressão. Defendemos o “Não a Milei”. “Não ao voto em Milei”. Enquanto partido, também declaramos abertamente que iremos acompanhar essa franja de milhões que votaram em Massa somente para impedir a chegada de Milei ao governo. Faremos isso chamando o voto crítico em Massa, o que significa votar sem dar nenhum apoio político ao ministro-candidato Massa nem ao seu possível governo peronista de unidade nacional. Acompanharemos essas milhões de pessoas que, com o nariz tapado, vão votar em massa com o único objetivo de, no dia 19 de novembro, derrotar o ultradireitista Milei nas urnas. Chamamos isso de voto crítico. Chamar a votar criticamente em Massa não significa que endossamos suas posições ou que o apoiamos politicamente. Fazemos isso através de uma política de independência de classe.

Esse voto não significa apoiar o atual governo patronal e ajustador nem sua política de aval ao genocídio de Israel contra o povo palestino em Gaza, como viemos denunciando. É um voto de nariz tapado, que acompanha milhões de trabalhadores e trabalhadoras para tentar impedir que a partir do dia 10 de dezembro tenhamos um governo de ultradireita do fascista Milei, como foi, por exemplo, o de Bolsonaro, no Brasil.

Sabemos, também, que há companheiras e companheiros trabalhadores e da juventude que, pelo justo ódio a esse governo burguês e ajustador, apesar de repudiarem Milei, não querem votar em Massa de jeito nenhum. Ainda que não compartilhemos dessa posição nem seja a nossa proposta, respeitamos como alternativas para repudiar o ultradireitista Milei o voto em branco, nulo ou abstenção.

Nós, da Izquierda Socialista, partido integrante da FIT-Unidade, diante do segundo turno de 19 de novembro, convocamos a dizer NÃO ao ultradireitista Milei, dando um voto crítico em Massa com o único objetivo de que não ganhe Milei, sem nenhuma confiança nem apoio político em Massa.

Para além de como se expresse o voto contra o ultradireitista Milei no dia 19 de novembro, o importante é que assumamos o compromisso de seguir impulsionando as lutas operárias e populares em unidade para enfrentar o maior ajuste que virá, do atual governo ou do próximo. A Izquierda Socialista impulsionará a maior unidade para dar essa batalha nas ruas e no parlamento, lutando por uma saída operária e socialista junto à Frente de Esquerda. Chamando a fortalecer uma alternativa política independente das e dos trabalhadores e da esquerda, construindo nosso partido Izquierda Socialista e a FIT-Unidade, a grande ferramenta de unidade da esquerda que conquistamos.

 

Direção Nacional da Izquierda Socialista

6 de novembro de 2023

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