“Esse governo tem desarmado ativamente a classe trabalhadora e impondo derrotas a ela no sentido de suas condições econômicas”

O jornal Combate Socialista desde dezembro do ano passado vem batalhado por uma frente de esquerda independente e uma reunião conjunta das forças que não estão no governo Lula/Alckmin. Nesse sentido dialogamos com o PCB-RR e entrevistamos Gabriel Lazzari. O companheiro é do Comitê Nacional Provisório do PCB-RR. Confira na integra as posições do PCB-RR:

 

Combate Socialista: Qual sua visão do primeiro ano de mandato da frente ampla de Lula/Alckmin?

Gabriel Lazzari: O governo de Lula/Alckmin está se prestando ao papel para o qual foi montado: conseguir criar um nível de consenso social em torno da manutenção do capitalismo brasileiro e apaziguar vários elementos ideológicos de combate a setores da classe dominante ou subservientes a ela, como as forças armadas, que surgiram durante o governo de Bolsonaro e Mourão.

Do ponto de vista econômico, o governo reafirma as teses neoliberais da austeridade fiscal e da transferência de recursos do fundo público para a burguesia. O Novo Teto de Gastos, carro chefe do Ministério da Fazenda de Haddad, é um pacote de restrições orçamentárias que consegue não só manter, mas aprofundar o desinvestimento nos setores públicos enquanto, ao mesmo tempo, por meio do Novo PAC, lançado no ano passado, financia mais e mais privatizações, incluindo até apoio para concessões no setor prisional, que eram residuais no Brasil até o momento. Vivemos a maior onda de Parcerias-Público Privadas, as PPPs, da história do Brasil e o governo Lula tem sido defensor ativo delas, além de já se colocar publicamente contra os pisos constitucionais de investimento em saúde e educação.

O governo atual tenta construir esse novo “pacto entre classes” em situação muito mais desfavorável que os governos anteriores do PT: as contrarreformas vigentes pioraram muito as condições trabalhistas e econômicas da classe trabalhadora brasileira e não há qualquer projeto de Lula e Alckmin de revogar as Reformas Trabalhista e Previdenciária, por exemplo.

O balanço é aquele que já vislumbrávamos: esse governo tem desarmado ativamente a classe trabalhadora e impondo derrotas a ela no sentido de suas condições econômicas.

CS: Qual o impacto dessa linha de colaboração de classes nas lutas contra a extrema direita?

GL: O impacto é absolutamente nefasto. A linha de colaboração do governo trabalha no sentido de iludir a classe trabalhadora sobre o verdadeiro caráter da extrema-direita.

Em primeiro lugar, porque cria uma falsa polarização entre “democratas” e “extrema-direita” que não se sustenta na realidade – basta ver os acenos de Lula ao governador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas, no evento de lançamento de um túnel na Baixada Santista.

Em segundo lugar, pela própria composição do governo Lula, que conta com diversos elementos da extrema-direita, como José Múcio (PRD), André Fufuca (PP) e Celso Sabino (União Brasil).

Em terceiro lugar, porque a luta contra a extrema-direita, como expressão mais feroz da política burguesa no Brasil, não terá futuro enquanto não conseguirmos fazer uma luta efetiva contra a burguesia, com a independência da classe trabalhadora em primeiro lugar, como guia da nossa ação.  Enquanto a classe trabalhadora não conseguir disputar a política nacional com seus próprios interesses, ficará refém de novos acordos do governo Lula com os setores empresariais no Congresso Nacional – acordos que, inclusive, enfraquecem a própria popularidade do governo, porque em geral são negociações em torno de ataques a direitos da classe trabalhadora ou projetos que só beneficiam o grande capital no país.

CS: Qual sua opinião sobre a frente ampla nas eleições municipais de 2024?

GL: A assim chamada “frente ampla” está na moda. Seu nome verdadeiro, no entanto, é pacto entre trabalhadores e patrões, só assim podemos defini-la corretamente. Em nossa avaliação, a defesa desse pacto será utilizada principalmente por partidos desde a esquerda até o centro como forma de se contrapor aos partidários diretos da extrema-direita, mas essa contraposição é puramente eleitoral. Nos municípios em que vencer a tal “frente ampla”, ela vai se opor duramente às privatizações, revogando contratos de licitações fraudulentas e de “gestão privada da máquina pública”, como as OSs e OSCIPs da saúde? Não vai. Nos municípios em que vencer a tal “frente ampla”, ela vai utilizar a máquina da prefeitura para reforçar ou criar empresas públicas como diretas competidoras do capital privado? Não vai. Vai combater a especulação imobiliária e fazer valer a “função social da propriedade”? Não vai. Então a frente ampla será apenas uma nova forma de gestão do capital nessas cidades, sem nenhuma mudança de fundo.

CS: O que avalia sobre a ideia de uma frente eleitoral envolvendo UP, PCB, PCB-RR, PSTU e outras organizações?

GL: Nosso Comitê Nacional Provisório não fez uma avaliação ainda dessa possibilidade, inclusive porque não possuímos ainda nossa própria legenda eleitoral, o que não será possível para as eleições deste ano. Tampouco adotaremos a tática de algumas organizações sem legenda de nos filiarmos provisoriamente à legenda de algum partido para disputar as eleições com nossos candidatos, a chamada filiação democrática. Como estamos no processo de construção de um Congresso Extraordinário de nosso Partido, várias definições dessa política eleitoral serão motivos de nossas discussões internas e teremos maiores respostas depois do congresso, em junho.

No entanto, entendemos que devemos apresentar um programa próprio durante o período eleitoral, que não é um momento isolado, e sim parte das lutas da classe trabalhadora. Certamente teremos convergências com esses Partidos e ainda com outros em diversos pontos, mas estudaremos detalhadamente quais serão os compromissos dessas candidaturas com o combate às PPPs e ao Novo Teto de Gastos, com a revogação das contrarreformas, com o piso salarial da enfermagem e com a redução da jornada de trabalho.

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