O QUE MACRON VEIO FAZER NO BRASIL?

Por João Santiago, coordenação da Condsef (minoria) e coordenador-geral do Sintsep/PA

Depois de uma agenda de três dias no Brasil, com passeio de barco no rio da Amazônia e visita à Ilha do Combu, acompanhado do histórico líder Kayapó Rhaoni e da ministra dos Povos Originários Sônia Guajajara (PSOL), o presidente francês Emanuel Macron voltou para a França maravilhado e com o senso de dever cumprido ao receber o apoio do presidente Lula. Mas o que o presidente de um país imperialista como a França veio fazer no Brasil?

Macron tenta com o Brasil uma alternativa de novos investimentos e acordos bilaterais, além de usar Lula como porta de entrada no Sul-Global e nos BRICS. Isso tem uma explicação bem materialista: é consequência da perda de espaço geopolítico nas antigas colônias francesas na África, tomadas por sublevações populares e golpes militares que romperam os acordos militares e econômicos com a França. Dos onze golpes de Estado ocorridos na África nos últimos cinco anos, nove foram em ex-colônias francesas. As tropas francesas foram expulsas de Burkina Fasso e Mali, após os golpes militares do final de 2022 (FSP, 03/09/23). Esse processo culminou, no início de fevereiro de 2024, na saída de Mali, Burkina Fasso e Níger do CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), o bloco econômico e militar liderado pelo imperialismo francês, com 15 países.

Hoje a França depende da África ocidental para importar 80% do urânio consumido em suas usinas nucleares. Cerca de 75% da energia gerada na França, que chega nas residências do povo francês, vem dessas usinas movidas a urânio. A visita de Macron também está relacionada com a proposta do parlamento brasileiro de permitir a exportação de urânio brasileiro produzido em MG e na BA, pois os novos governos militares africanos impuseram novos preços e a França está pagando bem mais caro pelo urânio.

Também existe uma “pressão ambiental”

Os partidos ambientalistas na Europa e na França fazem discursos contra comprar produtos que venham da “destruição da floresta” e essa pressão é sentida por Macron às vésperas das eleições europeias. Essa política encontra oposição do agronegócio brasileiro, por exemplo. É por isso que um dos principais acordos entre Brasil e França foi Acordo de Cooperação entre a Agência Francesa de Desenvolvimento e os bancos públicos brasileiros, que prevê um investimento de 1 bilhão de euros (R$ 5,4 bilhões) em quatro anos para a preservação da floresta amazônica (BDF, 28/03/24).

O governo brasileiro quer abrir novos acordos e a França é um parceiro para essa estratégia. Por conta disso, foram assinados 21 termos de cooperação nas áreas de energia, IA, helicópteros, submarinos, agricultura etc. O segundo dia da agenda foi dedicado à questão militar, com o debate do submarino nuclear Tonelero, cuja tecnologia é francesa, mas a produção é brasileira.

No final, a França apoia o pleito de Lula e do Brasil de integrar o Conselho de Segurança da ONU e o Brasil com Lula se compromete a ser a porta de entrada para o imperialismo francês se instalar com mais força na América latina e abrir o diálogo com os países dos Brics para acordos comerciais e militares, principalmente com a China e a Rússia, com quem o Brasil tem boas relações políticas.

De nossa parte repudiamos a vinda do presidente imperialista Macron e exigimos que todos os acordos firmados sejam divulgados para os trabalhadores e o povo brasileiro, que não foram ouvidos em nenhum momento sobre se queriam ficar sob a tutela francesa nos próximos anos.

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